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Entre os dias 11 e 19 de junho decorreu a ansiada mobilidade à Polónia, integrada no projeto Erasmus+ “A tour around Europe”, durante a qual os participantes mergulharam na história, geografia e cultura do país, a partir da visita aos centros históricos das cidades de Cracóvia, Varsóvia, Bydgosczc e Tórum, ao campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, e das múltiplas atividades de integração, exploração e aprendizagem realizadas, ao longo de 9 dias.  

Com início em Cracóvia, uma das cidades que o rio Vístula atravessa, os alunos deliciaram-se com a beleza medieval de uma cidade bem preservada e calma, que acolhe os turistas com delicadeza e se abre para lhes revelar o seu passado conturbado e guerreiro e a resiliência dos seus habitantes que souberam resistir aos invasores e manter a sua identidade. 

São vários os pormenores que contribuem para este agrado: o deleite experienciado no calmo e arborizado parque Planty; o mergulho medieval na Stare Miasto (Cidade Velha) e no Caminho Real, também designado de Estrada da Coroação, que era a rota cerimonial percorrida por reis e eminências quando Cracóvia foi a Capital Real da Polónia e que liga a Barbacã ao Palácio Real na Colina de Wawel, coroada pelo Castelo Real de Wawel, aos pés do qual se encontra o dragão; a surpresa perante as banquinhas do mercado na Rynek Główny, a maior praça medieval da Europa, onde é imperdível a visita ao imponente Sukiennice, o Mercado dos Tecidos, o primeiro centro comercial da Polónia que data do século XIII, e onde abundam os produtos típicos do país e, consequentemente, uma irresistível coleção de “souvenirs”, e que esconde, por baixo, o Rynek Underground, uma escavação arqueológica que conduz o visitante pelas verdadeiras ruas medievais da Cracóvia antiga.

Como se isto não fosse suficiente, temos, ainda, a experiência de novos sabores, como as fantásticas sopas ou os pierogis,  a beleza da rua Florianska que termina aos pés da Basílica de Santa Maria, uma catedral gótica do século XIV e a igreja mais conhecida da cidade, em cujo interior se destaca o altar gótico e os vitrais, e que tem algumas histórias pitorescas (ver caixas), a tranquila rua Kanonicza, com um ambiente palaciano das mansões renascentistas ali construídas e, no número 19, o local onde Karol Wojtyla morou antes de tornar no Papa João Paulo II, a Universidade Jaguelónica, que é das mais antigas da Europa tendo iniciado funções no remoto ano de 1364 (ainda assim, mais recente que a nossa Coimbra e a belíssima universidade de Salamanca), e que tem na lista de alunos célebres nomes como Copérnico e o Papa João Paulo  II

Visitar Cracóvia é também recordar a forte influência dos judeus na cidade e as atrocidades cometidas durante a Segunda Guerra Mundial, através da passagem pelo bairro de Kazimierz e da visita à fábrica de Schindler, onde se encontra a exposição “Cracóvia sob a Ocupação Nazi entre 1939 e 1945”, que  mostra a história da cidade desde o final de 1939 até ao fim da Guerra, através de exposições, reconstruções, imagens e sons capazes de transportar seus visitantes até ao duro período que os judeus viveram na Polónia durante a ocupação nazi. 

 

 

 

 

Auschwitz–Birkenau – viagem ao horror do holocausto

 

O roteiro judaico não ficou completo sem a dolorosa visita, perto de Cracóvia, a um dos maiores símbolos do Holocausto: o campo de concentração  de Auschwitz–Birkenau, no qual a cada momento evidenciámos a crueldade e a desumanidade e observámos com horror o espaço real onde tudo aconteceu, os rostos reais das vítimas e os locais de dor. E não saímos os mesmos. Conhecíamos a história mas agora percorremo-la e cada passo foi uma homenagem sentida aos que ali sofreram e morreram. O peso foi imenso. “ARBEIT MACHT FREI”, a inscrição que significa “o trabalho liberta”, amargamente cruel e irónica se considerarmos que na realidade, o que acontecia era o oposto e que o trabalho se tornou outra forma de genocídio, chamada pelos nazis de “extermínio por meio do trabalho”, foi decalcada do romance do alemão Lorenz Diefenbach, e adquiriu tonalidades ainda mais macabras depois desta visita, marcada pelos passos silenciosos dos alunos que ouviam as explicações da guia, enquanto os seus olhos se demoravam nos objetos e espaços que alcançavam. Na verdade, a inscrição surge no final reinventada e transforma-se num grito que ecoa em todos: não se esqueçam deste passado e evitem que se repita. 

 

 

Bydgosczc – a indústria e as margens verdes do Brda

 

Cinco horas nos separavam de Bydgosczc. Atravessámos o centro da Polónia rumo ao Norte e o olhar perdeu-se na imensidão dos campos planos, onde abundavam as colheitas num país abençoado pela chuva constante. E chegámos. Bydgosczc encontra-se nas margens do rio Brda e o seu canal é um dos atrativos da cidade, tendo sido muito agradável o percurso de barco que fizemos e a partir do qual pudemos observar alguns dos edifícios mais emblemáticos da cidade, como os celeiros, a Catedral dos Santos Martin e Nicolau, o posto de correio principal, o pavilhão desportivo, a Opera Nova, a escultura Tightrope Walker, que nos mostra homem numa corda suspensa que atravessa o rio e que na altura da visita apresentava uma camisola com as cores da bandeira da Ucrânia. 

Além dos percursos guiados pela cidade, os alunos desenvolveram atividades de exploração da mesma, visitaram o Museu do Sabão e da História da Sujidade, onde participaram num workshop de fabrico de sabão, experienciaram as atividades letivas e desportivas, acompanhando os colegas da escola polaca, onde tiveram oportunidade de conhecer também alunos ucranianos que no momento se encontravam a frequentar as aulas nesse estabelecimento, devido à invasão do seu país pela Rússia. Além disso, a cidade situa-se perto de um Parque Natural, e integrada na visita a esse espaço, além da prova de iguarias tradicionais, teve lugar uma experiência de canoagem, desporto muito valorizado na região. 

 

TÓRUN – a cidade medieval do Gengibre

 

O dia seguinte levou-nos até Tórun, a cidade natal de Nicolau Copérnico, Pérola da UNESCO, capital mundial dos saborosos pães de mel polacos. A visita guiada conduziu-nos pelos espaços emblemáticos da cidade velha, muito colorida e amiga dos turistas, como comprovam as múltiplas bancas ao longo de uma das ruas principais, evidenciando a sua  arquitetura medieval, as catedrais imponentes, as estátuas peculiares, como a do cão Filus, que arrasta um chapéu com a sua boca, e a do burrico, e as inúmeras lojinhas de produtos de gengibre, os famosos  Pierniki (nome dado ao pão, biscoito ou bolo de gengibre). O percurso pela cidade colocou em evidência o sistema defensivo de portões antigos, paredes de tijolo e torres de vigia medievais, entre as quais a mais popular é a inusitada Torre Inclinada, espaço para a incontornável fotografia que põe à prova a santidade de cada um (ver caixa), e também o legado religioso através da visita à Catedral de São João de estilo gótico.  Além da exploração destes espaços, foi oferecida a todos os participantes a experiência da Casa Invisível, destinada a sensibilizar para a situação dos invisuais, através de experiências assustadoramente desafiantes.

 

VARSÒVIA – a Fénix renascida

 

Por fim, a mobilidade reservou-nos ainda a possibilidade de conhecer Varsóvia e reencontrarmos o rio Vístula.  A visita mostrou-nos uma cidade onde a tradição e a modernidade convivem, embora nem sempre de forma harmoniosa, o que suscitou uma reflexão sobre o modo como as cidades arquitetonicamente se desenvolvem. Mas Varsóvia, a cidade Fénix, foi invadida, arrasada e subjugada. Reduzida a cinzas durante a Segunda Guerra Mundial, foi reconstruída completamente a partir de imagens que a documentavam e foi declarada Património da Humanidade pela Unesco. 

O símbolo mais relevante do passado comunista de Varsóvia o Palácio da Cultura e Ciência, que foi construído por ordem de Estaline e mede 237 metros de altura, é um dos edifícios mais controversos, não só devido ao choque arquitetónico que representa naquele local, mas por recordar a violência do regime do governante russo, o que faz com que corra a sugestão  de que é a partir dele que se consegue a “melhor vista da cidade porque é o único lugar em Varsóvia sem vista para o prédio”.

Andar pelas ruelas, permitiu-nos conhecer a Basílica de São João Batista, cuja fachada em forma de órgão é surpreendente, o Santuário de Nossa Senhora das Graças e a igreja de San Martin.  Conduziu-nos à Praça do Mercado a fervilhar de pessoas e  ver a estátua de uma sereia, que é um dos símbolos de Varsóvia, que pode ver-se também no escudo de cidade.  

Ainda na praça está situado o Museu da História de Varsóvia, cuja fachada é constituída por uma sequência de edifícios coloridos típicos do país.  Atravessando os antigos muros de defesa da cidade, Barbakan, chega-se à Cidade Nova, Nowe Miasto em polonês, à Praça do Teatro com a Ópera Nacional; a Praça de Pilsudski com o Monumento ao Soldado Desconhecido e o Jardim Sajón (uma área verde enorme e cheia de esculturas). A imagem que fica é de uma cidade é muito verde e cuidada, onde se sente o peso da história, mas se respira modernidade. Durante este percurso, encontrámos um cheirinho de Portugal e verificámos a projeção internacional de um dos nossos grandes. Numa instalação exterior, alguns cartazes homenageavam diversas figuras, entre as quais Aristides de Sousa Mendes, o diplomata português que, contrariando as ordens de Salazar, concedeu vistos de entrada no país a milhares de judeus que queriam sair de França em 1940. 

 

O percurso pelas ruas e parques permitiu conhecer melhor Chopin, o músico polonês varsoviano, através dos bancos dispostos em vários pontos da cidade, que tocam a sua música e que permitem que os visitantes se sentem, ouçam música e, descarregando os códigos QR gravados neles, saibam mais informações sobre o compositor. Esta viagem ao mundo de Chopin completou-se com a visita ao moderno e riquíssimo museu interativo Fryderyk Chopin. Aqui, escondido numa “masmorra” pode ser visto o pato dourado que anima uma das lendas da cidade. 

 

Assim, foi inegável o percurso de aprendizagem que esta mobilidade permitiu, potenciado pelas inúmeras visitas efetuadas, pela observação de espaços tão díspares, pelo confronto com a história desde a Idade Média a meados do século XX, pelo respirar do ambiente cosmopolita e simultaneamente pitoresco que alguns recantos ofereceram, pelo contacto com duas línguas diferentes para os participantes portugueses, pela variedade gastronómica, que permitiu descobrir pontos de contacto entre Portugal e a Polónia, ao encontrarmos equivalente para a nossa tradicional Sopa de Pedra, por exemplo. Além disso, é inegável a relevância da observação de dois sistemas educativos e duas formas de organização das escolas bastante diferentes, que potencia a reflexão sobre o que fazemos e podemos mudar. Finalmente, destaca-se, ainda, a riqueza do convívio entre culturas tão diferentes que estimula a tolerância e o respeito pela diversidade, ao mesmo tempo que consolida o espírito de cidadania europeia. 

 

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