A A A

O preço do gasóleo e da gasolina sobe todos os anos. O seu consumo aumenta e as reservas diminuem, causando problemas económicos, políticos e ameaças de guerra.

Além disso, a combustão dos combustíveis fósseis é muito prejudicial para o planeta, dado que as emissões de dióxido de carbono, para a atmosfera, contribuem para o aumento do efeito de estufa. Com efeito, por cada 3,8 litros de gasolina queimados num carro, são libertados 10 kg de CO2 para a atmosfera.

Atualmente pretende-se criar novas tecnologias que nos permitam manter o padrão de vida alcançado pelos países industrializados, sem comprometer o desenvolvimento das gerações futuras, isto é, conseguir um desenvolvimento sustentável.

Um dos principais obstáculos ao desenvolvimento sustentável no mundo atual é a dependência dos combustíveis fósseis, nomeadamente ao nível dos setores da eletricidade e dos transportes. Ainda que tenham sido encontradas alternativas aceitáveis, como a energia eólica, solar, hídrica ou nuclear, continuamos muito dependentes dos combustíveis fósseis. Portanto, um objetivo para o futuro é podermos utilizar apenas as energias verdes como fonte de energia.

Uma dessas alternativas é o biodiesel. A obtenção de biodiesel a partir de óleos de cozinha usados é uma das atividades de projeto laboratorial propostas no programa curricular de Química de 12º ano. Assim, transformámos um resíduo alimentar num combustível e desenvolvemos uma campanha de sensibilização da Comunidade Educativa para a problemática da reciclagem dos óleos alimentares queimados.

O que é o Biodiesel? É um biocombustível, não tóxico e renovável, obtido através da transesterificação de triglicerídeos (hidrocarbonetos de origem vegetal), que pode ser utilizado puro ou misturado com gasóleo. Denomina-se Bio pois é um combustível de origem natural renovável (porque é produzido a partir de óleos vegetais, ou reaproveitados de restos da cozinha, ou de animais, isto é de biomassa) e denomina-se Diesel, já que pode ser usado em motores de ignição, sem qualquer modificação adicional. Foi utilizado pela primeira vez na exposição mundial em Paris, em 1900, por Rudolf Diesel. Este apresentou a sua invenção - o motor a diesel - usando óleo de amendoim. Diesel foi um visionário ao referir que “O motor a diesel pode ser alimentado com óleos vegetais e ajudar no desenvolvimento da agricultura nos países. Isto parece um sonho, mas no futuro posso dizer com plena convicção que essa forma de usar um motor diesel pode adquirir grande importância.”

Neste projeto usámos óleos das frituras da cantina da escola.

Começámos por usar um funil com algodão para filtrar o óleo e remover os detritos sólidos que resultaram das frituras e a água.

De seguida, medimos 0,70 g de NaOH (que funcionou como catalisador, ou seja, acelerou a reação).

Na hotte, adicionámos ao NaOH, 40 mL de metanol e obtivemos metanóxido de sódio. Agitámos vigorosamente a mistura resultante que, depois, permaneceu 8 horas sob aquecimento moderado e agitação.

Por fim, transferimos a mistura para uma bureta.

Ocorreu uma reação de transesterificação e obtivemos dois produtos: um éster (o biodiesel) e o glicerol.

Decantámos o glicerol para um gobelé e ficámos só com o biodiesel.

A equação que resume a reação principal deste procedimento experimental é:

Devemos considerar este processo, pois o biodiesel é uma fonte de energia renovável, é biodegradável, não tóxico, fácil transportar, com baixo risco de explosão, reduz o consumo de combustíveis fósseis. Permite ainda preservar as reservas de petróleo e utilizá-lo para outros fins, como fabrico de plásticos, borrachas, tintas, roupa e novos materiais, de que a sociedade precisa.

Como as plantas capturam todo o dióxido de carbono emitido na queima do biodiesel, o agravamento do efeito estufa é nulo. Assim, há uma efetiva diminuição da poluição atmosférica relativamente ao CO2 e SO2. Além disso, é muito mais económico e ao ser utilizado nos carros, melhora a combustão e a lubrificação do motor, o que aumenta o seu tempo de vida útil.

A produção do biodiesel permite a criação de mais postos de trabalho no setor primário, diminuindo a desertificação das áreas rurais. Além disso, comparado com a prospeção de petróleo, o investimento inicial é muito inferior, permitindo que recursos financeiros possam ser direcionados para áreas sociais.

Outro aspeto importante é o facto de, quando produzido a partir de óleo usado, oferecer uma solução para o problema do escoamento deste resíduo que normalmente é libertado para a rede de saneamento, o que causa problemas ao funcionamento das ETAR’s. A descarga de águas residuais, contaminadas com óleos alimentares utilizados, para os rios, causa a diminuição da concentração de oxigénio presente nas águas, o aumento da carga orgânica, a degradação da qualidade do meio aquático, problemas de higiene e maus cheiros, bem como a deterioração da fauna e da flora.

Contudo, o biodiesel também apresenta desvantagens. Uma produção exaustiva promove a desflorestação em detrimento das culturas de plantas (girassóis e cereais) cujas sementes originam os óleos alimentares, para poderem ser usados na produção do biodiesel. Deste modo, degradam-se os recursos naturais devido à monocultura focada nestas plantas, comprometendo a biodiversidade. De facto, a cultura de oleaginosas, para fins de produção de biodiesel, compete com a produção de alimentos e com as áreas selvagens nas regiões produtoras. Além disso, o rendimento da matéria-prima por unidade de área é baixo, o que faz com que os custos de produção sejam pouco competitivos, ainda que o preço se tenha tornado mais atraente com o avanço das tecnologias de produção.

Outra desvantagem é o facto de este só poder ser utilizado em motores diesel e não nos de gasolina e serem necessários pequenos ajustes nos motores, pois a viscosidade é um pouco maior que a do gasóleo convencional.

O biodiesel ao gasta energia elétrica ao estar 8 horas sob agitação e aquecimento moderado para ocorrer a reação de transesterificação. Nesta reação utiliza-se como reagente o metanol, que é um álcool tóxico, venenoso e de origem fóssil. A produção do biodiesel aumenta as emissões de óxidos de nitrogénio.

Esta atividade de projeto laboratorial sensibilizou-nos para a recolha de óleos alimentares usados. Deixamos aqui um alerta para a necessidade de colocar os óleos resultantes de utilizações domésticas em reservatórios destinados à sua recolha para posterior transformação em biodiesel.

Este tipo de resíduos tem soluções ambientalmente corretas, como a produção de biodiesel ou o fabrico de sabão, por isso devemos colaborar com a recolha de óleos alimentares usados, colocando-os em contentores de deposição de óleos existentes em ecocentros, os oleões.

O biodiesel tem outras aplicações além do combustível. Devido à sua característica de lubrificante, pode ser utilizado como óleo de limpeza para peças, máquinas, bem como servir de solvente de tintas, ou ainda no funcionamento de fornos, de aquecedores e de lanternas.

O produto secundário da produção do biodiesel é a glicerina. Esta é utilizada para a indústria de cosméticos produzir sabonetes, cremes, produtos de limpeza. Pode ainda servir para o fabrico de tintas, vernizes e resinas.

Outra característica da produção do biodiesel é que depois de extrair o óleo das plantas oleaginosas, sobra a fração proteica, um detrito sólido chamado torta. Este material pode ser usado como ração animal, adubo orgânico, ou como combustível para caldeiras. Importa referir que a plantação de oleaginosas permite também a nitrogenação do solo, que é uma forma de revigorar a terra, tornando-a mais fértil.

Com a realização deste trabalho, fiquei a conhecer melhor este tipo de energia renovável e cheguei à conclusão de que o biodiesel é uma alternativa ecológica aos combustíveis fósseis. De facto, o biodiesel apresenta-se como uma solução, não só para colmatar a dependência de combustíveis fósseis, mas também para resolver o problema dos óleos usados.

Ainda assim, na minha opinião, o biodiesel deve ser visto como uma tecnologia de transição e não como o combustível do futuro, porque ainda não é uma tecnologia ecologicamente satisfatória, já que se a procura deste disparasse, poderíamos pôr em risco vários ecossistemas.

 

Moodle Appliance - Powered by Solemp