No dia 26 de novembro de 2014, no âmbito da disciplina de Biologia e Geologia, foi organizada, com a colaboração do Centro de Ciência Viva de Bragança, uma atividade para os alunos de 11º B, acompanhados pela professora Sónia Rodrigues, no Instituto Politécnico de Bragança, sobre a “Micropropagação de plantas”, conteúdo contemplado no programa da disciplina em contexto de sala de aula. A atividade, de carácter prático, foi coordenada pela Professora Maria João Sousa e envolveu ativamente os alunos. Do CCVB esteve presente, nas duas atividades, a Engenheira Clotilde Nogueira.
Antes de ser iniciada a parte prática da atividade, foi feita uma apresentação teórica sobre a micropropagação de plantas, as etapas a desenvolver e alguns esclarecimentos sobre a planta utilizada, uma planta de nome científico Stevia rebaudiana Bertoni (designação da subespécie da planta Stevia).
Como todas as plantas, é multicelular, autotrófica, mas é nativa do Brasil e do Paraguai. Mas por que é que a nossa atividade foi desenvolvida com esta planta? Ela começou a ser usada há mais de 1500 anos pelos povos da África do Sul. Em 1899, o botânico suíço Moisés Santiago Bertoni realizou um estudo no Paraguai, fazendo a descrição da mesma como uma planta doce. O Japão foi o primeiro país a cultivá-la e a utilizá-la para substituir o açúcar em produtos comestíveis e bebidas, como, por exemplo, a Coca-Cola. Das suas folhas, é extraído o Esteviosídeo, cujas propriedades açucaradas provêm de glicosídeos de steviol. Trata-se de um edulcorante de origem natural, com 40 a 300 vezes mais poder adoçante do que a sacarose (açúcar comum), sendo não sintético, ao contrário de outros, como o ácido clicâmico, o aspartame ou a sacarina. Tem sabor agradável e não apresenta gosto residual, sendo agradável ao paladar. Na sua forma natural, o esteviosídeo é um pó branco, sendo apresentado nesta forma ou na forma líquida (diluída). Algumas empresas já estão a fabricar produtos como achocolatados, condimentos e gelatinas.
Assim sendo, esta planta constitui uma alternativa bastante positiva para a substituição dos polímeros de glicose, como, por exemplo, a sacarose (açúcar comum), que são tão usuais no quotidiano das sociedades modernas e que são prejudiciais para a saúde da humanidade. Por outro lado, a Stevia não contém calorias, não altera os níveis de açúcar, não é tóxica, inibe a formação de cáries dentárias e não contém ingredientes artificiais. Pelo exposto, a sua utilização poderia minimizar as consequências que advêm do consumo excessivo de açúcares, por parte das crianças e jovens. Além disso, uma das utilidades mais interessantes e até necessárias está associada à diabetes, uma vez que os pacientes com a doença podem utilizar os seus produtos como adoçantes, pois não têm as consequências do açúcar comum. Além disso, não apresenta nenhumas consequências nutricionais para o ser humano, uma vez que é utilizada em menores quantidades que o açúcar, por ter um maior poder adoçante.
Durante a atividade desenvolvida, foi-nos possível, através do trabalho prático, aplicar e aprofundar conhecimentos adquiridos durante as aulas de Biologia e Geologia, proporcionando-nos a possibilidade de executar todos os procedimentos envolvidos na micropropagação vegetativa.
Assim, a turma foi dividida em três grupos, tendo cada um estado envolvido nas três atividades desenvolvidas.
Preparação do meio de cultura
Para que ocorra o desenvolvimento de novas plantas, é necessário preparar um meio de cultura adequado ao seu crescimento, contendo nutrientes e hormonas, nomeadamente sacarose, como fonte de energia, e hormonas de crescimento (fitorreguladores). Assim, preparámos uma solução contendo água, diferentes macronutrientes e micronutrientes, vitaminas, mantendo a solução em agitação, num agitador, ao mesmo tempo que se controlava o pH da solução. À solução foi, ainda, adicionado um açúcar, nomeadamente a sacarose, como fonte de energia.
Preparação da solução agar para obtenção de uma plântula a partir de um órgão ou parte da planta, neste caso, a partir de uma folha.
Após a obtenção do meio de cultura, preparou-se o agar-agar, que consiste numa mistura heterogénea de dois polissacarídeos, em pó, à qual misturámos água formando um gel. Com a importante característica de ser atóxico, este gel permite, ao colocar um tecido ou órgão, mantê-lo numa posição firme.
Depois de termos preparado a solução nutritiva e pretendendo obter o agar-agar, para o desenvolvimento de novas plantas, esta mistura foi introduzida no microondas para ser aquecida e, assim, ganhar consistência viscosa para ser usada, posteriormente.
Seguidamente, usou-se uma pistola de autodosagem e colocou-se o agar nos tubos de ensaio esterilizados, taparam-se os tubos com alumínio, colocado de uma forma rotativa, e introduziram-se, novamente, na máquina de esterilizar, eliminando qualquer agente patogénico que pudesse comprometer o desenvolvimento da nova planta.
Repicagem
Seguidamente, numa outra sala de trabalho, onde se encontram bancadas de fluxo laminar, procedeu-se ao corte de folhas de plantas, também obtidas por micropropagação, em diferentes partes. Posteriormente, cada uma dessas porções foi colocada nos tubos de ensaio, contendo o meio de cultura. Esta atividade requer que as condições de assepsia sejam asseguradas, o que é possível nas referidas bancadas de fluxo laminar, onde todo o material utilizado é constantemente desinfetado e exposto a uma chama de lamparina, para evitar contaminações que possam comprometer o desenvolvimento das novas plantas. Cada tecido da folha forma uma massa de células indiferenciadas, continua a crescer e diferenciar-se-á em novos tecidos específicos, originando uma nova plântula. Estes tubos foram colocados, posteriormente, na sala de cultura, onde se criam e mantêm as condições necessárias para a formação de novas plântulas (luz, temperatura, humidade).
Sala de cultura
Embora, tivéssemos realizado todos os procedimentos envolvidos na micropropagação, para terminar a última etapa tivemos de recorrer a outras plântulas. Assim, tirámos, com cuidado, e com o auxílio de uma pinça, a plântula desenvolvida, assegurando a remoção do agar ainda existente na raiz, passada por água. Seguidamente, a plântula é colocada num vaso com terra, onde decorrerá o seu crescimento, podendo depois ser transferida para um meio natural. Este procedimento deve ser gradual, pois estas plantas desenvolveram-se num meio onde se proporcionaram condições óptimas, o que nem sempre acontece no meio natural, onde estão, por exemplo, expostas à variação dos factores ambientais e a agentes patogénicos. Assim, normalmente, a planta é submetida a uma exposição lenta a ambientes com muita humidade, com pouca luz e de temperatura amena, o que seria considerado um ambiente para um crescimento normal das espécies, designado pré-transplante. Seguidamente, procede-se à transferência para o meio natural.
Para finalizar a nossa aula prática, a docente teve a gentileza de nos facultar exemplares da planta para a nossa escola, alertando-nos para o seu ambiente natural, que, sendo tropical, nada tem a ver com as nossas condições climatéricas, principalmente em pleno mês de novembro, o que determinou a sua morte passados alguns dias. Quem sabe se, num curto período de tempo, não teremos ao dispor na nossa escola açúcar obtido a partir desta planta! O nosso organismo agradeceria!
A atividade proporcionou-nos a partilha dos projetos científicos desenvolvidos no contexto universitário por alunos e professores e permitiu-nos a dinamização de trabalhos práticos que complementam a vertente teórica da disciplina de Biologia e Geologia.
Para que a nossa atividade fosse ainda mais enriquecedora, foi, também, possível entrevistar a docente Maria João Sousa, que atualmente desenvolve os trabalhos de investigação sobre a referida planta e que preparou e orientou a atividade.