José Seco, que é licenciado em Biologia e mestre em Ecologia pela Universidade de Coimbra e integrou a primeira campanha polar de Portugal em 2011-2012, compareceu dia 27 de março em mais um café de ciência, onde deu o testemunho da sua participação no projeto PENGUIN.
A apresentação informal iniciou-se com uma questão propositadamente invertida: “Porque é que os pinguins não comem ursos polares?”. Os pinguins vivem no polo sul, na Antártida. Já os ursos polares habitam o polo norte, no oceano glacial Ártico. Seguiu-se uma sensibilização acerca do buraco de ozono nos polos e a sua causa - os CFCs (clorofluorcarbonetos, que devido ao seu radical livre de cloro que origina, reagindo facilmente com moléculas de ozono) - e o motivo da espessura desta camada nesta zona ser menor, ainda que sejam emitidos menos poluentes nesses locais. A explicação está relacionada com as correntes de ar que levam os gases tóxicos para essas zonas.
A Antártida não é propriedade de nenhum país/estado, regendo-se pelo tratado da Antártida. Esta área deve ser utilizada apenas para fins pacíficos ou para investigações científicas, sendo, portanto, proibidos fins militares, despejo de lixo, entre outros atos nocivos.
Qual o interesse de fazer ciência polar em Portugal? Como em tudo, em biologia, está presente uma ideia de equilíbrio dinâmico entre todos os ecossistemas. De facto, estamos muito distantes do polo sul, mas é nos oceanos deste polo que se encontram as bases das cadeias tróficas. Ao entendermos o que acontece nos polos, poderemos compreender o que acontecerá nas diversas zonas do planeta. As correntes marítimas são responsáveis pelo transporte de organismos quer a nível microscópico quer macroscópico e interligam áreas muito distantes.
Seguiu-se uma breve descrição acerca da odisseia que viveu, destacando como uma das maiores dificuldades vividas o isolamento. Não existe internet, apenas uma estação para envio de emails de tamanho inferior a 500Kb, ou seja, apenas texto e de comunicações de voz por telefone de satélite (6eur/min).
Durante estes dois meses, o cientista participou no projeto PENGUIN, que teve como objetivo avaliar a ecologia alimentar de três espécies de pinguins que se reproduzem no mesmo período de tempo em Hannah Point, compreendendo, ao mesmo tempo, as relações neste ecossistema. O trabalho do cientista e dos seus colegas passou pela recolha de fezes de pinguins, seguida da análise das mesmas. A alimentação destas aves marinhas tem por base o krill (crustáceo de pequeníssimas dimensões semelhante ao camarão). Retomando a obra de Charles Darwin “A teoria de evolução”, espécies diferentes que têm o mesmo habitat, possuem as mesmas características, reproduzem-se na mesma altura, competem entre si. Dado isto, é uma questão de tempo até que uma espécie se sobreponha a outra, culminando com a extinção de uma dessas espécies. Das três espécies estudadas, a população de pinguins graciosa está a aumentar. Por oposição, as restantes estão a diminuir.
Por fim, houve um diálogo entre o público/investigador. Quando questionado acerca das barreiras financeiras na ciência, este confirmou que de facto existem e são cada vez mais. Principalmente no laboratório, ocorre uma redução de custos em relação a determinados reagentes e utensílios. Quanto aos próximos projetos, o investigador revelou que ainda falta realizar muito trabalho de laboratório, publicar o mesmo em revistas cientificas com o intuito de enriquecer o seu currículo e assim obter financiamento para um dia mais tarde regressar à Antártida. Revelou que é possível fazer ciência polar sem ir à Antártida, mas, por outro lado, não é possível fazer a mesma sem financiamento. Uma vez que a viagem até à Antártida é muito dispendiosa, há uma cooperação entre investigadores, isto é, um cientista vai à Antártida realizar a sua investigação e, ao mesmo tempo, recolhe amostras para investigações de colegas seus. No entanto, sem financiamento não se pode fazer ciência polar.
Foi de facto uma apresentação dinâmica e bastante apelativa conseguindo abordar o tema proposto de uma forma divertida, cativando, até, os mais novos.