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O Parque Natural do Douro Internacional é uma área protegida de Portugal, que se estende desde Miranda do Douro a Barca d’Alva. Possui belas paisagens, com margens escarpadas e vinhas à beira-rio, um Património Mundial da UNESCO.

No dia 5 de maio, no âmbito das disciplinas de Biologia e Geologia, Física e Química A e Geometria Descritiva, os alunos do 10ºA, 11ºA e 11ºB do Agrupamento de Escolas Abade de Baçal, acompanhados pelos docentes, Anabela Teixeira, Mariana Carvalho, Manuel Cordeiro e Sónia Rodrigues, realizaram Roteiro geológico no Douro Internacional, na região de Miranda do douro. A referida visita permitiu assinalar o Dia do Geólogo, e foi uma iniciativa do clube de Ciência Viva, tendo sido orientada pela professora Elisa Preto, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Ao longo do dia, foi realizado um percurso que contemplou diversas paragens em locais com interesse geológico na região, os quais foram apresentados e descritos pela professora Elisa Preto, natural de Figueirinha, concelho de Mogadouro, que pela sua formação académica e dedicação à região, partilhou saberes sobre um passado geológico de Milhões de anos, procurando caracterizar cada formação geológica que nos rodeava. Desta forma, aumentámos o nosso conhecimento complementando o ensino em sala de aula.
O roteiro geológico teve início na freguesia de Ifanes, mais concretamente, no Miradouro de São João das Arribas, em pleno Maciço Granítico da Pena Branca. Neste local, pôde vislumbrar-se, correndo por entre as altas escarpas graníticas, com cerca de 150 metros de altura, o rio Douro, poucas centenas de metros após a sua entrada em território nacional, proveniente dos Picos de Urbión, em Soria.
Devido à meteorização e erosão e à tectónica de placas, o granito, uma rocha magmática plutónica terá, devido a uma redução de pressão, descomprimido e fraturado. O rio Douro “aproveitando” essa rede de diáclases (fraturas) foi esculpindo as massas graníticas. De facto, ao longo do tempo geológico, e sobretudo devido às variações climáticas registadas nos dois últimos milhões de anos, a capacidade erosiva do rio Douro foi intensificada, pelo que o curso de água, aproveitando as fraturas e as zonas de esmagamento das rochas, talhou, no planalto, o seu leito atual, dando origem ao característico vale de paredes abruptas (as “arribas”), que contribuem para a singularidade da paisagem.
A visita seguiu rumo à barragem de Miranda do Douro, também esta ladeada por acentuadas escarpas de granitos e xistos do Câmbrico (541 a 485M.a.), onde puderam ser observadas diferentes fraturas e falhas, assim como diferentes tipos de vegetação, mediante o substrato rochoso em questão. Através da vegetação distinta foi possível identificar a bordadura de contacto entre o granito e o xisto (rocha metamórfica, resultante de metamorfismo regional).
Houve ainda lugar para ser cumprida a tradição, tendo os alunos sido desafiados a encontrarem o célebre “número 2” representado nas arribas, uma curiosa configuração que sobressai por entre as colónias amareladas de líquenes (associação obrigatória entre fungos e algas) fixadas nas rochas, sendo que, de acordo com a lenda, quem conseguisse encontrar o referido algarismo “casaria em terras mirandesas”.
A terceira paragem deu-se numa região, na qual se erguia um antigo pombal, assente em gnaisses, uma rocha metamórfica, que testemunha as elevadas condições de pressão e de temperatura, em profundidade, em que ocorreu a sua formação. Sob o pombal, foi possível identificar, ortognaisses, formações mais recentes, com origem em granitos, e paragnaisses, mais antigos, resultantes do metamorfismo de argilitos (rocha sedimentar detrítica), ambos intersetados por diferentes microfalhas e um filão.
Terminámos a manhã, no Miradouro da Peinha do Puio, na aldeia de Picote. Este miradouro, instalado sobre um afloramento granítico, que se ergue quase na vertical sobre o rio, destaca-se pela beleza, amplo alcance e grandeza, em contacto direto com a prodigiosa Natureza. A partir deste miradouro, pode ser observado o brusco desvio sofrido pelo leito do rio (vulgarmente designado por “cotovelo”), o que pode ser justificado pelo facto de o curso de água contactar com materiais de diferente dureza, daí que ocorra meteorização e erosão preferencial das rochas menos resistentes, levando ao desenvolvimento irregular do leito.
No período da tarde, visitámos a barragem de Picote. Construí da entre 1954 e 1958, com 100 metros de altura e 4 geradores, foi a primeira barragem portuguesa no Douro Internacional, e continua, ainda hoje, como um dos mais importantes aproveitamentos hidroelétricos do país, produzindo energia suficiente para suprir as necessidades de cidades, como Lisboa e Porto, e também para exportação. Assim, através de uma visita guiada, orientada por Luís Preto, Hugo Alves, Filipe Correia e Liliana Moura, foi possível compreender o funcionamento da barragem e como se processa a manutenção desta estrutura, que, cada vez, assume maior relevância, devido à transição que está em curso para fontes de energia renováveis.
Em direção à última paragem, “Barreiro de Sendim-Atenor”, observaram-se domos graníticos que nos indicam o bordo superior do seu arrefecimento. No Barreiro, foi possível identificar diversos tipos de rochas sedimentares, organizadas em estratos, desde conglomerados a argilitos e, inclusivamente, rochas carbonatadas (calcretos), datadas do Miocénico (23 a 5 M.a.), Era Cenozoica. Trata-se de um local que integrou a gigante bacia sedimentar existente antes da formação do rio Douro, o que permite inferir que a referida região possa, no passado, ter estado submersa.
Finalmente, deu-se o regresso à escola com o conhecimento reforçado ao nível da Geologia e, sobretudo, com a sensação de êxtase e deslumbramento proporcionado pelos locais visitados. Paisagens que constituem autênticos tesouros naturais, que devem ser conservadas e preservadas, pois, na verdade, esta atividade, mais do que possibilitar a aquisição de conceitos, definições ou teorias, constituiu um contributo para a construção de uma sociedade mais consciente, sensível à proteção do património geológico, garantindo que estes lugares únicos formados no passado, e contemplados no presente, possam manter-se no futuro.
Uma visita de um dia que correspondeu a uma viagem no tempo (541 M.a. até à atualidade) a um planeta que demonstra um geodinamismo externo e interno, assegurando contudo um equilíbrio entre a geosfera, atmosfera, hidrosfera e biosfera que é necessário manter para que o mesmo continue a ser fonte de matérias-primas, usadas para satisfazer as necessidades do Homem, mas que devem ser, também, asseguradas para as gerações futuras.

 

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