Visita de estudo ao Peso da Régua
No dia 4 de Abril de 2014, realizou-se uma visita de estudo ao Peso da Régua, com o intuito de visitar as caves do Douro e o Museu do Douro. Para além disso, os objectivos centralizaram-se em aplicar e verificar na prática os diversos conhecimentos adquiridos nas aulas; promover o gosto pelo conhecimento de actividades relacionadas com a língua e cultura inglesa; alargar a cultura de professores e alunos através da vivência de novas experiências; reconhecer a importância de processos metabólicos no fabrico do vinho; relacionar a produção de vinho na região do Douro com as características da mesma; perceber de que forma as cheias afectam a Régua e relacionar essas mesmas cheias com condições climáticas, geológicas, e, reconhecer que, estas podem ainda ser agravadas com uma intervenção antrópica desmesurada. A turma participante foi o 11º A e fomos acompanhados pelas docentes de Inglês e de Biologia e Geologia, respectivamente, Ana Maria Ramalho e Sónia Rodrigues.
Partimos de Bragança por volta das 8.40 h. Era notório um grande entusiasmo por parte de todos, porque estas visitas de estudo, além do aspecto pedagógico, que é fulcral para o nosso enriquecimento cultural, servem também para nos divertirmos e fortalecer e/ou estreitar laços entre alunos e professores.
A viagem prosseguiu até ao Peso da Régua, mais concretamente para a Quinta de S. Domingos. Durante o percurso até à Quinta, ainda parámos numa estação de serviço em Mirandela, para descansarmos um pouco e preparamo-nos para o estonteante dia que nos esperava. Durante praticamente toda a viagem de ida fomos muito incentivados pela professora de Biologia e Geologia, para que dedicássemos da nossa parte uma redobrada e especial atenção à esplendorosa paisagem granítica que nos envolvia designada caos de blocos, uma vez que nela podíamos verificar numa vertente mais prática, os diferentes aspectos de ocupação antrópica associada às zonas de vertente e diversas estruturas de estabilização das mesmas.
Chegámos ao local pretendido, aproximadamente, por volta das 10:15h.
A Quinta de São Domingos localiza-se no centro da cidade do Peso da Régua, na mais antiga Região Demarcada e Regulamentada do Mundo, classificada em 2005 pela Unesco como Património da Humanidade. Esta Quinta comemora, no presente ano, 100 anos de existência e descobrimos que ela conseguiu resistir, ao longo dos anos, ao desenvolvimento urbano da cidade, mantendo inalteradas as suas características de quinta ligadas à produção e envelhecimento do Vinho do Porto, tendo conseguido manter um equilíbrio muito próprio e característico entre a tradição e a modernidade.
A guia que nos acompanhou na visita às Caves da Quinta de São Domingos, demonstrou-se particularmente simpática e era muito perceptível o gosto e o orgulho que ela sentia em nos explicar todo o seu conhecimento sobre a Região Demarcada do Douro; sobre a Quinta; sobre a história e todo o processo de fabrico do Vinho do Porto; acerca dos variados Vinhos e de que forma é que os podemos distinguir; e ainda os melhores acompanhamentos para cada um deles. No centro de recepção, vimos algumas garrafas dos vários anos de colheitas; fizemos a prova de um dos vinhos produzidos pela Quinta, e procedemos à visualização de um curto mas informativo e interessante filme sobre a produção e envelhecimento do Vinho do Porto, a Região do Douro e os vinhos Castelinho.
Aprendemos, também, que a região vinhateira designada por Região Demarcada do Douro é uma das regiões vitícolas mais importantes, ricas e conhecidas no mundo. O arranjo paisagístico imposto pela inserção do vale do rio Douro é, sem dúvida, o sinal da diferença que, climática e mesologicamente, define esta região. A mescla de materiais rochosos laboriosa e, em alguns lugares, violentamente erodida pelo Douro e pelos seus afluentes gerou as formas e as volumetrias que permitiram o surgimento de um tipo de vinha, plantada bem junto ao solo, cascalhento, seco e pobre, que, por isso mesmo, adquire uma maturação perfeita e completa dando origem a mostos de elevado teor sacarino e muito encorpados.
Morfologicamente, a Região Demarcada do Douro distribui-se por uma área de montanhas e planaltos cuja diferenciação altimétrica aumenta à medida que nos aproximamos do seu limite ocidental. A variedade de formas que se observa deriva da diversidade de materiais rochosos que afloram, muitas vezes inesperadamente. Os xistos, os granitos, os quartzitos e as rochas carbonatadas surgem na paisagem associados consoante a sua resistência aos vários agentes de meteorização e erosão.
É a extraordinária e única simbiose, entre as formas, os materiais rochosos existentes e a modelação imposta pelo ritmo climático estacional que cria condições para o Homem utilizar a Região Demarcada do Douro, de modo diverso, consoante a sua aptidão. O cultivo da vinha, que gera mostos para Vinho do Porto, ocupa, sem dúvida, uma parte significativa do solo e é responsável pelos mais impressivos e belos cenários desta área. As vinhas aproveitam os solos mais pobres e menos produtivos, as encostas mais íngremes e mais soalheiras voltadas, sobretudo, a Sul e talhadas no xisto. Vingam com sucesso nos lugares onde as altas temperaturas estivais se associam a uma extrema secura.
Deram-nos também a conhecer que o Vinho do Porto é um vinho licoroso, produzido na Região Demarcada do Douro, sob condições peculiares derivadas de factores naturais e de factores humanos. O processo de fabrico, baseado na tradição, inclui a paragem da fermentação do mosto pela adição de aguardente vínica (benefício ou aguardentação), a lotação de vinhos e o envelhecimento.
O Vinho do Porto distingue-se dos vinhos comuns pelas suas características particulares: uma enorme diversidade de tipos em que surpreende uma riqueza e intensidade de aroma incomparáveis, uma persistência muito elevada quer de aroma quer de sabor, um teor alcoólico elevado (geralmente compreendido entre os 19 e os 22% vol.), numa vasta gama de doçuras e grande diversidade de cores.
A cor dos diferentes tipos de Vinho do Porto pode variar entre o retinto e o alourado-claro, sendo possíveis todas as tonalidades intermédias. Os Vinhos do Porto Branco apresentam tonalidades diversas (branco pálido, branco palha e branco dourado), intimamente relacionadas com a tecnologia de produção. Quando envelhecidos em casco de carvalho francês, durante muito anos, os vinhos brancos adquirem, por oxidação natural, uma tonalidade alourada-claro semelhante à dos vinhos tintos muito velhos. Em termos de doçura, o vinho do Porto pode ser muito doce, doce, meio-seco, ou extra seco. A doçura do vinho constitui uma opção de fabrico, condicionada pelo momento de interrupção da fermentação. Existem vários estilos de Vinho do Porto, o Estilo Ruby, Tawny, Branco ou ainda Rosé.
É, de salientar que, os melhores lotes de vinhos produzidos num ano excepcional são regra geral apartados para virem a auferir da declaração de Vintage. Contudo, a maior parte dos vinhos é utilizada para a elaboração de lotações de características particulares e obedecendo a padrões de qualidade pré-estabelecidos. As lotações são efectuadas quer em grandes cubas providas de agitadores, quer por meio de circuitos de remontagem.
Posteriormente, demos um passeio à volta da Quinta e tiramos imensas fotografias para mais tarde recordar.
Finda a visita à Quinta de São Domingos, fomos de autocarro em direcção a uma parte do Peso da Régua, junto ao rio Douro e que se localizava perto do Museu do Douro, que era o próximo local a visitar. Devido à desagradável pluviosidade que se fazia sentir, almoçámos no autocarro e não conseguimos fazer o pretendido que era almoçar junto às margens do Rio. Contudo, as condições climatéricas não nos desmotivaram nem abrandaram a nossa imensa boa disposição e, após o almoço, fomos descontrair um pouco junto ao Bar/Restaurante/Esplanada Douro Rio.
Seguidamente, alguns dos alunos procederam à execução de entrevistas aos habitantes locais, promovidas pelas docentes, com a intenção de descobrir a frequência e as causas das cheias, a relação da ocorrência das cheias com a construção de barragens; as consequências das cheias na cidade ou campos agrícolas. Foi de facto, interessante, soltarmo-nos um pouco e contactarmos directamente com os durienses. Tivemos muita sorte com os entrevistados, pois estes detinham vastos conhecimentos sobre a temática das cheias. Eles ensinaram-nos que o rio Douro origina, nalguns troços, grandes cheias cíclicas, e que trazem algum impacto no tecido socioeconómico das populações ribeirinhas. Ressaltaram o exemplo de estabelecimentos comerciais que estão construídos em leito de cheia e que ficam profundamente afectados, porque não é possível fazer negócio devido ao facto de as cheias impedirem o funcionamento desses estabelecimentos, pois causam estragos e inundam os espaços. Um dos entrevistados, que era bombeiro, referiu, ainda, que nessa altura de cheias, os bombeiros não têm mãos a medir com tanto trabalho.
Afirmaram, com grau de certeza elevado, que as causas das cheias são a intensa precipitação que assola diversas vezes e, por vezes, de forma contínua a região e também as descargas de barragens.
Quando questionados sobre a relação das cheias com a construção de barragens, apenas um dos entrevistados conseguiu facultar-nos uma resposta mais científica e com um rigor que não se verificou na maioria das pessoas. Para ela, as barragens apesar de terem o seu lado negativo, que é o facto de em anos de grande precipitação a capacidade da barragem ficar no limite e haver a necessidade, por vezes, de fazer descargas devido à elevada pressão que se gera, tendo que abrir as comportas, podendo ocorrer inundações ou cheias. Porém, com a construção de barragens é possível controlar “mais facilmente uma cheia, porque a água pode ser armazenada”. Quando ocorre uma precipitação fora do normal, o excesso de água como está armazenado na albufeira, pode evitar, com efeito, inundações a jusante. Alguns recordam grandes inundações, com o nível da água muito superior, do que aquele que atualmente se verifica. A principal avenida desta cidade chegava a estar interrompida, levando inclusive ao encerramento de escolas. A conclusão da maioria foi a de que a construção das barragens levou à diminuição do número e grau das inundações.
Após um passeio ao longo das margens do rio Douro, visitámos o Museu do Douro. O Museu do Douro foi concebido como um museu de território, polivalente e polinuclear, vocacionado para reunir, conservar, identificar e divulgar o vastíssimo património museológico e documental disperso pela região, devendo constituir um instrumento ao serviço do desenvolvimento sociocultural da Região Demarcada do Douro.
Nesse Museu, fomos encaminhados para uma ampla sala, onde decorreu a actividade: “A Oficina dos Sabores” que envolvia da nossa parte apenas dois dos nossos sentidos, o olfacto e o paladar. O objetivo era identificarmos nove dos produtos existentes no Vinho do Porto de olhos vendados para nos concentramos exclusivamente na essência dos produtos. Estes não são só adicionados ao vinho, mas alguns deles coexistem nos campos onde se localizam as vinhas, tais como as macieiras ou violetas. Quatro deles tínhamos que reconhecer pelo cheiro, (café, caramelo, mirtilo, maçã e violeta) e os outros quatro reconhecíamos pelo sabor (noz, maçã, mel e pão com azeite). No final após verificarmos a que correspondiam cada um deles, fizemos um pequeno lanche com esses mesmos produtos.
Seguidamente, visitamos a exposição “Douro, Matéria e Espírito”. Na nossa opinião, foi maravilhoso visitar esta exposição e consideramos que todos deviam poder ter o privilégio que nós auferimos ao contactar com tanta informação, que estava organizada de uma forma tão peculiar e tão convidativa. No final, a sensação geral foi a de que o Douro, as quintas produtoras do famoso Vinho do Porto e a região demarcada como património mundial são uma mais-valia para o nosso país e sentimos bastante orgulho por termos paisagens tão deslumbrantes e sermos os produtores de um dos melhores vinhos do mundo!
Depois da exposição, dirigimo-nos ao Shopping de Vila Real. Este espaço é encantador e bastante maior que o nosso, em Bragança. Há imensas áreas para refeições e inúmeras lojas. O jantar foi divertido e foi com grande animação que percorremos os pisos do centro comercial. Saímos por volta das 8:50h. O regresso a Bragança foi muito descontraído, primado pela animação e alegria, e enriquecido pela troca de impressões sobre o maravilhoso dia que passámos.
Consideramos esta visita de estudo absolutamente fantástica e, de facto, muito interessante, uma vez que ficámos a conhecer lugares que sempre quisemos visitar e chegamos à conclusão que Portugal é um país imensamente rico culturalmente e não é preciso ir muito longe para usufruir de locais e paisagens indubitavelmente estonteantes.