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O Yad Vashem é o órgão responsável pela memória dos mártires e heróis do Holocausto e foi fundado em 1953 por decreto da Knesset (parlamento) israelita. Desde a sua conceção, tem sido confiado ao Yad Vashem o papel de documentar a história do povo judeu durante o período do Holocausto, preservando a memória e a história de cada uma das seis milhões de vítimas e compartilhando o cenário do Holocausto com as gerações futuras através dos seus arquivos, biblioteca, escola, museus e através do reconhecimento dos Justos entre as Nações.


A Escola Internacional para o Estudo do Holocausto é responsável pela organização de programas educativos e pela produção de materiais didáticos dirigidos a diferentes públicos e organizações educativas em Israel e no exterior. Mais de 90 membros da instituição trabalham junto de mil professores e estudantes todos os anos para promover a educação e fortalecer a memória do Holocausto. A educação do Holocausto é definida e desenvolvida pela Escola Internacional como multidisciplinar e multi direcional, centrando-se na forma como os indivíduos viveram antes, durante e após o Holocausto, assim como os dilemas enfrentados pelos judeus durante este período.
Nesta filosofia de estudo e compreensão do Holocausto, realiza a Escola Internacional para o Estudo do Holocausto de Jerusalém, em colaboração com a MEMOSHOÁ – Associação Memória e Ensino do Holocausto, anualmente, um seminário para docentes portugueses. Assim, pelo sexto ano consecutivo, teve lugar, de 11 a 20 de agosto de 2013, mais uma edição do Seminário Internacional sobre o Ensino do Holocausto.
Incluída neste grupo, esperava com expectativa o que iria encontrar num país que não descola dos serviços noticiosos, quer pelos ataques que sofre quer pelos que inflige, num país que ele próprio se situa no meio de países em conflito (lembro aqui as manifestações violentas que tiveram lugar no Egipto durante o mês de Agosto de 2013 e que levaram ao derrube do presidente Mohamed Morsi).
Imbuída de curiosidade fiz uma viagem a um mundo completamente diferente, para saber como era esse outro mundo. E foi muito o que aprendi. Ouvi o que não gostaria de ter ouvido: 6 milhões de pessoas assassinadas. Vi o que não gostaria de ter visto: uma trança de cabelo de criança; livros cujos donos nunca mais folhearam; sapatos sem par de alguém que nunca mais os calçou; roupa de quem nunca mais a vestiu; brinquedos de criança de quem nunca mais com eles brincou; carrinhos de bebés que desapareceram; escovas de cabelo sem dono; fotografias de famílias sorridentes que nunca mais voltaram a sorrir para o fotógrafo …; vagões de comboios que só existiam na minha imaginação de os ver em filmes e que transportaram pessoas que nunca neles deveriam ter entrado; e essencialmente ouvi os testemunhos de pessoas que viram, sentiram e viveram os horrores dum inferno vivo e que são hoje os grandes testemunhos de vontade de viver e de coragem.
Foi para mim uma surpresa verificar que o que se defende hoje em dia em Israel é a existência de uma atitude reflexiva e crítica centrada no relato humano; uma metodologia geradora de empatias, sem julgamentos e assente nos testemunhos dos sobreviventes; um esforço pela clarificação de conceitos e a contextualização histórica; uma prática interdisciplinar e intergeracional; e a perceção de que o Holocausto não é apenas um tema judaico mas uma preocupação universal (o racismo, o negacionismo, a xenofobia, a intolerância são temas atuais, não são compatíveis com a democracia e colocam-na em perigo) – para que não o esqueçam as gerações futuras e a História não se repita.
Simultaneamente, foram muitas as oportunidades que foram dadas aos participantes de conhecer a cidade de Jerusalém (onde o seminário se realizou). Visitar esta maravilhosa cidade onde várias culturas e várias religiões convivem de uma maneira surpreendente é uma memória que em mim perdurará: a cidade velha e os seus diferentes bairros e milhentas lojas de lembranças para todos os gostos e bolsos e onde regatear com os vendedores é uma experiência de verdadeira resistência; os lugares sagrados que pertencem à nossa memória religiosa; a fantástica mistura de formas de viver que parecem chocar umas com as outras e que, no entanto, convivem lado a lado ….
Destaco ainda a viagem ao norte de Israel para visitar o Kibutz Lohamei Haguetaot e onde Nora Gaon (uma sobrevivente polaca entretanto falecida) proporcionou a todos um dia memorável com as suas memórias e vivências. Destaco também o passeio a Massada e ao Mar Morto onde se passaram momentos fantásticos de boa disposição e “flutuação” e como não podia deixar de ser destaco as maravilhosas amizades que se criaram entre alguns dos participantes e que nos acompanharão ao longo da vida.
Para concluir, poderia parecer um lugar comum dizer que esta participação no Seminário sobre o Holocausto, em Jerusalém, foi uma experiência muito enriquecedora. Mas a verdade é que é difícil encontrar outra palavra que a possa classificar. Foi uma oportunidade única de alargar conhecimentos sobre uma temática tão relevante na História do século XX. E que outro local seria melhor para aprender sobre a problemática do Holocausto do que Israel e uma escola internacional vocacionada para o seu ensino – o Yad Vashem. Creio que todos íamos para aprender e aprendemos muito.

 

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