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Nasceu no Porto ainda D. Manuel II reinava, assistiu à implantação da República, viveu a ditadura salazarista e conviveu com as modernices do séc. XXI. Foi considerado um génio da sétima arte e era o único cineasta vivo que tinha presenciado a passagem dos filmes mudos para os filmes sonoros. Um dia disse “A única coisa que sabemos ao certo é que ninguém nasce senão para morrer” e morreu deixando uma vasta obra com cerca de 50 longas e curtas-metragens. Tinha 106 anos, faleceu no dia 2 de Abril e chamava-se Manoel de Oliveira.

Manoel de Oliveira nasceu na freguesia de Cedofeita, no Porto e em jovem frequentou um colégio de jesuítas na Galiza e foi campeão nacional de salto à vara, tendo sido atleta também do Sport Clube do Porto. Aos 20 anos, o bichinho do cinema começou a despertar e envergou pela escola de atores da cidade portuense. O seu primeiro filme foi “Douro, Faina Fluvial”, em 1931 e o último foi uma “reflexão sobre a humanidade”, lançado no seu 106º aniversário e intitulado “O Velho do Restelo”. Passaram 83 anos e cerca de 33 longas metragens e muitas outras curtas.
As obras do cineasta portuense pretendiam retratar a sociedade portuguesa, a sua cultura e a sua história. Filmou a aristocracia, o povo, a Expo-98, Camões ou Eça de Queirós. Filmou o amor como uma ideia frustrada, como podemos ver em “Amor de Perdição” ou “Francisca”. São da sua autoria filmes como “Aniki-Bobó “ (1948), “Benilde ou a Virgem Mãe” (1974), “Non, ou Vã Glória de Mandar” (1990), “Vale Abraão” (1993), “O Estranho Caso de Angélica” (2010) , “Singularidades de Uma Rapariga Loira” (2012) ou “Gebo e a Sombra” (2012). Pode não se gostar dos seus filmes, mas é impossível não reconhecer o talento, a determinação, a cultura, a arte do cineasta que os idealiza e constrói.
Manoel foi condecorado com o título de comendador da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, em 1980, e recebeu também o título de Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, 8 anos depois. Em 2009, recebeu o prémio de carreira e prestígio na Gala dos Globos de Ouro. A nível internacional foi reconhecido pelo Governo Francês, em 2014, com o título de Grande-Oficial da Ordem Nacional da Legião de Honra.
Jean-François Blarel, embaixador francês, descreveu o cineasta oriundo da cidade Invicta como “fora do comum”. João Bénard da Costa, escritor e crítico português, disse que “Manoel de Oliveira era o único equivalente, na cultura portuguesa do séc. XX, a Fernando Pessoa”. Manoel de Oliveira foi um dos maiores artistas cinematográficos que Portugal conheceu e também um exemplo de que a inutilidade e a velhice não são conceitos unidos, muito pelo contrário, a velhice trouxe-lhe mais sabedoria e vontade de trabalhar e de fazer bons filmes. E tornou-o único.

 

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