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(Entra Beatriz )

 Beatriz: - (revoltada) Aiii... pensava que a habitação era um direito de abril, mas parece que se   transformou numa patuscada de vistos dourados e especulação desenfreada.  Hoje em dia, para conseguir um T2, em Lisboa, mais vale ter um passaporte recheado de ouro do que a memória de quem resistiu à ditadura.

Vejo esses vistos gold como as chaves mágicas do reino encantado da habitação, em Portugal. Ah, sim, é só investir uns milhares de euros e, pronto, ganha-se o direito a uma residência como se fosse um prémio num jogo de tabuleiro, como o monopólio ou o raio que o parta. Será que os próximos vistos gold vão incluir uma casa de campo e um carro de luxo? Ah, o sonho de ser residente por um punhado de euros, ou ter a sorte de ser amigo do professor Marcelo!

 

E a especulação, grande fada madrinha, que transforma qualquer casa portuguesa modesta num palácio de preços exorbitantes. Parece que a varinha mágica agora é um gráfico de tendências no mercado imobiliário. Não estão a perceber nada, coitados! Eu explico... As casas estão à venda, mas o que realmente se vende é a ideia de que a habitação é um bem inatingível para muitos.

 

E ainda vem a Amália com fados e fadinhos...”é uma casa portuguesa”, mas eu não teria tanta certeza. Pela habitação não lhes dês descanso!

 

 

(Sai Beatriz. Entra Ana Carolina )

 

 

Ana Carolina: -Isto das escolas é lixado, especialmente para nós, estudantes, que navegamos pelos mares mais turbulentos do sistema educacional público em Portugal. É como tentar fazer um exercício de matemática A do 12°ano quando mal conseguimos entender a equação da nossa própria vida. Entre salas superlotadas, professores a fazerem malabarismos com horários e a falta de material didático, parece que estamos a viver numa comédia absurda.

 

Os professores, esses.......... destemidos, tentam equilibrar entre corrigir

montanhas de testes e manter os olhos abertos durante as aulas. Eles merecem um prémio por conseguirem navegar nas águas revoltas da sobrecarga e ainda sorrir como se estivessem a participar num concurso de beleza da idade média. Afinal, quem precisa de uma pausa para café quando se pode viver à base de stress e ansiedade, não é verdade?

 

E as salas de aula, ah, verdadeiros cenários apocalípticos de uma guerra. Mais parecem latas de sardinha de 1143, onde os estudantes se amontoam como se estivessem numa luta pela vida para ver quem consegue desviar mais olhares enquanto tentam manter-se acordados. A ideia de espaço pessoal é um mito, nesse ambiente, e respirar fundo pode resultar numa coreografia acidental com o colega ao lado.

 

A infraestrutura escolar, claro, é uma maravilha à parte. As salas de aula parecem ter sido congeladas no tempo, como se o avanço tecnológico tivesse decidido dar uma volta até ao passado. Quem precisa de projeção multimédia quando se pode usar giz e lousa? E os computadores, velhos amigos, sábios que resistem ao tempo, lembrando-nos de que a informática é para os corajosos.

 

E não podemos esquecer as maravilhosas instalações desportivas O campo de basquetebol mais parece um campo de batalha, onde a falta de tinta no chão faz com que todos se sintam parte de um jogo de estratégia militar.

Quem precisa de uniformes desportivos novos quando se podem exibir orgulhosamente as relíquias do passado?

 

E, claro, para finalizar este espetáculo bastante educacional, temos a grande revelação: é tudo velho. As salas, os métodos, os livros, os setores. Parece que a escola se tornou numa cápsula do tempo, onde o vintage é mais do que uma tendência, é a norma. Talvez o próximo passo seja incluir uma disciplina sobre a história da escola, onde podemos aprender sobre as eras douradas do giz e do papel aos quadradinhos.

 

Portanto, meus caros, nesta tragicomédia chamada "Escolas públicas em Portugal", somos os protagonistas de um enredo cheio de surpresas, de reviravoltas e de uma pitada de ironia. E lembrem-se, quando tudo falhar, quando a sala estiver sobrelotada e os computadores estiverem a fazer greve, já agora, como os professores, apenas olhem ao vosso redor e digam, de preferência, minimamente alto: é tudo velho!

 

E… até os novos parecem andar ao contrário, aqueles carrascos da associação de estudantes mais dormem do que fazem, isto é a política dos pequenitos, prometem tudo… um mar de rosas, mas depois nós é que arrecadamos. E ainda nos queixamos da abstenção. Já agora o maluco que escreveu isto, também não vota, ele é que é esperto.

Oh queridos façam alguma coisa, MAS…não vale futebolisalxadresal. Onde estão os direitos de Abril? Ahhhh…….e já não falo da trapalhada dos exames nacionais!

Pela escola pública, não lhes dês descanso!

 

(Sai Ana Carolina. Entra Eire)

 

Eire: -Ainda os estudantes se queixam, como se a vida deles fosse uma comédia cheia de privilégios. Isto de ser mulher é complicado, já que desde pequenas aprendemos que o mundo é como um labirinto cheio de obstáculos, só para nós. Somos as verdadeiras aventureiras, a navegar por terras desconhecidas onde a disparidade salarial é como um dragão que insiste em nos esturricar os tesouros merecidos.

 

E não é só isso, é a violência de género que paira como uma nuvem negra. Desde cedo, somos educadas para a temer como se as sombras escondessem monstros que nos atacam por sermos mulheres. Quando nascemos, já deveríamos trazer um manual de sobrevivência, onde nos ensinariam a desviar dos olhares intrusivos e a não aceitar comportamentos que, aparentemente, são considerados normais só porque somos do sexo feminino.

 

E a educação, ah, joia rara que nos é transmitida de maneira infantilizada. Dizem-nos que o conhecimento é poder, mas só se tivermos o privilégio de aceder a ele. A escola, muitas vezes, é como uma torre intransponível, cercada por muros de estereótipos que nos dizem o que é suposto sabermos e o que é suposto sermos. Será que, um dia, teremos a chave para abrir essas portas, ou teremos que arrombá-las com a força da nossa vontade, como os capitães de Abril?

 

E quando falamos sobre saúde reprodutiva, somos tratadas como crianças que não sabem tomar decisões informadas. Como se a capacidade de decidir sobre o nosso próprio corpo fosse algo que precisa ser supervisionado por mentes superiores. É como se nos dissessem: "Não te preocupes, pequena mulher, nós decidimos o que é melhor para ti."

 

Ainda falam de Adão e Eva, como se a história bíblica fosse um guia prático para entender a complexidade das mulheres. Mas toda a gente sabe que primeiro se fazem testes nos animais e depois nos humanos. Mas parece que somos cobaias de uma grande experiência social, onde as normas e as expectativas são ajustadas à medida que vamos crescendo, como se fossemos ratinhos num labirinto de estereótipos.

 

Portanto, meus caros, enquanto ainda se queixam dos exames e das aulas intermináveis, lembrem-se que isto de ser mulher é um espetáculo à parte. Somos as estrelas de uma comédia irónica, onde as piadas nem sempre têm graça, mas continuamos a representar os nossos papéis com uma resiliência que desafia as expectativas. E, quando falarem de Adão e Eva, recordem-se que somos muito mais do que uma história antiga – somos as autoras do nosso próprio enredo, escrevendo capítulos de igualdade e justiça, em cada passo que damos. Pelas Mulheres, não lhes dês descanso (em coro)!

 

(Sai Eire. Entra Amanda)

 

Amanda - Nós, jovens, importamo-nos muito com o ambiente, não é verdade? É como se fôssemos os guardiões da natureza, os defensores incansáveis da mãe Terra. Vestimos as nossas t-shirts com mensagens

eco-friendly, postamos nas redes sociais sobre a importância da reciclagem, mas, na prática, será que estamos a fazer o suficiente ou apenas a criar um espetáculo para as nossas consciências?

 

Enfrentamos desafios ambientais, sim, mas, às vezes, parece que estamos mais preocupados com o design das nossas garrafas de água reutilizáveis (mas que acabamos por deitar fora) do que com a verdadeira profundidade das questões ambientais. Queremos salvar o planeta, mas só se isso não interferir muito no nosso conforto diário. Afinal, quem precisa de perder tempo a protestar em frente de cada fábrica e culpar os donos disto tudo?

 

E a poluição? Ah, claro, a poluição é um problema. Mas será que estamos dispostos a abdicar do nosso querido carro ou dos nossos gadgets que parecem essenciais para a nossa existência? Dizer não à poluição é fácil, mas só quando não implica, também, abrir mão do nosso estilo de vida moderno.

 

A gestão dos resíduos é outra novela. Falamos sobre reciclar, mas quantos de nós realmente conseguem compreender o que pode ou não ser reciclado? Parece que estamos num jogo de bruxaria, onde as regras mudam consoante o município. E, enquanto nos gabamos de usar sacos reutilizáveis, será que nos preocupamos com os desperdícios, que fazem com que o lixo não reciclável aumente a olhos vistos?

 

E agora, a parte dos ecossistemas. A urbanização descontrolada, a desflorestação e a degradação do habitat natural são como cenas de uma tragédia, em câmara lenta. Mas não se preocupem, postamos fotos de animais fofos no Instagram enquanto ignoramos a ligação direta entre as escolhas de uns e a destruição dos ecossistemas.

 

Quanto às alterações climáticas, ahh, esse tema é literalmente quente. Sentimos a mudança de temperatura, mas será que a sentimos na urgência de agir? Talvez trocar as lâmpadas por outras mais eficientes seja suficiente, não é? Ignoramos as consequências globais, como se estivéssemos a ensaiar um monólogo sobre a crise climática, mas sem realmente querer entender o guião.

 

Então, meus caros, talvez o partido PAD (Partido do Ambiente Destruído) é que tenha razão. O melhor partido é PAD, pois, no final das contas, a atitude negligente parece ser a norma. Podemos continuar a encenar a nossa preocupação com o ambiente, mas será que estamos realmente prontos para fazer as mudanças necessárias? No fundo, parece que o nosso compromisso é tão sólido quanto um cenário de papel. O partido PAD, afinal, pode ser o partido mais adequado para a nossa atuação ambiental de fachada e de apoio às grandes fábricas.

 

(Sai Amanda. Entra Ana Lopes )

 

Ana Lopes: -Ai, tou farto, cansado até às costas e da carteira nem se fala! Estamos neste rodopio constante entre a precariedade laboral e as disparidades salariais, como se fôssemos artistas de circo, malabaristas a tentar equilibrar os pratos da nossa vida profissional, sem deixar cair nenhum. A questão é: onde estão os direitos de Abril quando mais precisamos deles?

 

Andamos por aí, como equilibristas na corda bamba do mercado de trabalho, com contratos temporários a parecerem elásticos prestes a rebentar. Não há estabilidade, não há segurança, e parece que a única coisa que se mantém

 

constante é a incerteza do que será o nosso futuro laboral. Ai, se pelo menos os contratos fossem tão flexíveis quanto a nossa coluna, após horas intermináveis sentados na mesma cadeira.

 

E as disparidades salariais? Essas são dignas de um espetáculo de ilusionismo! Aqui estamos nós a contribuir com o nosso suor e esforço, enquanto, lá no alto, os senhores das torres de vidro contam os seus euros como se fossem fichas num jogo de casino. O fosso entre os salários dos de cima e os de baixo parece uma piada de mau gosto, e nós, meros mortais, somos os comediantes involuntários dessa comédia económica.

 

Para animar a festa, a falta de representação sindical é como tentar encontrar uma agulha num palheiro. As vozes dos trabalhadores parecem abafadas pelo som das máquinas de contar dinheiro, enquanto os empoderados do Olimpo decidem o destino das nossas vidas laborais. A negociação coletiva parece ser um espetáculo do qual fomos excluídos, como se não merecêssemos um lugar no consílio, para discutir o nosso próprio destino.

 

Mas onde é que foram parar os direitos de abril de que ouvimos falar na escola? Será que foram enfiados numa gaveta esquecida, junto com os manuais escolares antigos? Parece que a promessa de uma vida digna, justa e com direitos laborais está a escapar-nos como areia por entre os dedos.

Estamos a viver num paradoxo, onde celebramos abril, mas os direitos que deveriam acompanhar essa celebração estão a evaporar-se como miragens no deserto.

 

Ai, a ironia da situação é como uma comédia trágica. Estamos a atuar num palco onde os direitos de abril são uma peça perdida nos bastidores, enquanto tentamos sorrir para a plateia como se tudo estivesse bem. Mas, no fundo, a pergunta persiste: Onde estão os direitos de abril quando mais precisamos deles? Talvez tenham sido trocados por ilusões e promessas vazias, como se a liberdade e a dignidade fossem artigos de ocasião que podem ser guardados e esquecidos.

 

(Sai Ana Lopes. Entra a professora Dina)

 

 

Professora Dina: -Ser deslocado de uma cidade para outra e ainda aturar esta gente louca... é como fazer uma viagem à lua todos os dias. Entre turmas sobrelotadas, mudanças constantes nas políticas educacionais e a

 

luta diária para manter a sanidade, ser professor em Portugal é uma experiência única, e por única quero dizer extraordinariamente desafiadora.

 

Chegar a uma nova escola é como entrar num universo paralelo, onde cada estabelecimento tem as suas próprias regras e rituais. Como se aprender a lidar com adolescentes já não fosse um quebra-cabeça complicado o suficiente, agora tenho de decifrar os códigos secretos desta nova instituição educativa. Será que há um manual escondido algures, ou é suposto descobrirmos tudo à base de tentativa e erro?

 

E as políticas educacionais, ah, essas são como o enredo de um filme de suspense em constante mudança. A cada ano, somos surpreendidos por novas avaliações, métodos de ensino revolucionários e diretrizes que parecem ter sido escritas em código Morse. A adaptação é a palavra de ordem, como se fôssemos agentes secretos educacionais a receber missões secretas, a cada trimestre.

 

Turmas sobrelotadas são como um espetáculo de circo em pleno caos. É uma performance digna de um malabarista, equilibrando-se entre as cadeiras apertadas, tentando garantir que todos tenham a atenção necessária enquanto mal conseguimos movimentar-nos no meio do palco. Será que alguém se esqueceu de nos dizer que estávamos a participar num espetáculo de variedades e não numa sala de aula?

 

E, claro, a pressão constante. Abril trabalhos a mil, como se estivéssemos a celebrar uma festa de fogos de artifício com correções intermináveis e preparações de aulas. O mês de abril deixa de ser sinónimo de liberdade para ser um campo de batalha de pilhas de testes e trabalhos. Uma maratona sem fim onde o cansaço é o nosso único companheiro fiel.

 

Mas, enfim, ser professor é como estar numa montanha-russa emocional constante. Um misto de desafios, alegrias e aquela pitada de sarcasmo que só quem enfrenta o quotidiano escolar pode entender. Abril trabalhos a mil, porque nesta viagem de montanha-russa, o espetáculo nunca para, mesmo que às vezes sonhássemos com uma pausa para o cafezinho.

(Sai a professora Dina. Entra Beatriz)

 

Beatriz -Uma vida já se foi... e não foi num drama shakespeariano, não! Foi simplesmente à porta de uma urgência, à espera de assistência médica. É incrível como, apesar do avanço da medicina, ainda perdemos vidas assim,

 

como se estivéssemos numa máquina do tempo regressiva em pleno século XXI.

 

A coisa é tão surreal que parece um guião de filme de terror, mas não! é apenas a realidade do nosso adorado Serviço Nacional de Saúde. Grávidas, aquelas que deveriam ser o foco de todo o cuidado e atenção, acabam por enfrentar o seu próprio pesadelo ao tentar obter ajuda nas urgências.

Aconselho todos os maridos a tirarem o curso de parteiro, não vá o diabo tecê-las… É como se o SNS se tornasse um espetáculo de horror, e o público é composto por aqueles que realmente precisam de cuidados, mas muitas vezes são ignorados ou deixados para segundo plano.

 

E médicos? Ah, esses são como unicórnios no mundo real - lendas que ouvimos falar, mas raramente vemos. Parece que temos mais hipóteses de encontrar um trevo de quatro folhas do que um médico disponível. A escassez atinge proporções épicas, como se estivéssemos num filme de ficção científica onde os médicos decidiram fazer greve no meio de uma pandemia. Mas, já agora, alguém me explique como se eu tivesse cinco anos: se há décadas que temos falta de médicos, porque é que as universidades não abrem mais vagas, de forma a podermos colmatar essas necessidades? Pois, “os bens raros são os mais apreciados”, já dizia a minha avó! É tudo tão absurdo que só pode ser uma comédia cósmica.

 

E claro, não podemos esquecer a burocracia. Aquela coisa maravilhosa que transforma simples procedimentos médicos em travessias épicas dignas de uma Odisseia. É como se tivéssemos de superar uma série de desafios mitológicos só para marcar uma consulta. "Oh grande deus do Agendamento, permiti que eu consiga uma data antes do próximo milénio!"

 

As disparidades regionais são a cereja no topo do bolo da tragicomédia do nosso sistema de saúde. Viver numa zona mais remota é como ser um protagonista de um filme de aventura, com o enredo a envolver uma busca interminável por um hospital decente. Parece que a suposta universalidade do SNS só se aplica àqueles que vivem nas grandes cidades.

 

Abril, o quê? Macacos me mordam! É como se alguém estivesse a tentar fazer uma piada cósmica connosco. Abril, o mês da liberdade! mas será que a liberdade de cuidados de saúde está incluída nesse pacote? Ou será que é uma liberdade condicional, onde só podemos exercer o direito à saúde se

 

conseguirmos decifrar os enigmas burocráticos e evitar as armadilhas da falta de recursos?

 

Enfim, nesta tragicomédia do SNS, é como se estivéssemos todos a participar num espetáculo onde o enredo é confuso, os protagonistas estão ausentes, e a plateia é deixada a perguntar-se se a piada é mesmo para ser levada a sério. Abril, o quê? Macacos me mordam, mas que teatro é este em que vivemos?

 

(Sai Beatriz. Entra Celsio)

 

Celsio: -Olha os lucros, quatrocentos milhões de euros! Parece o pregão entusiasmado de um vendedor de ilusões, a anunciar uma promoção inacreditável. Mas não, são apenas os lucros da banca, o feito espetacular de transformar o dinheiro do povo em números astronómicos nas suas contas bancárias. Quem diria que enriquecer à custa de taxas e juros estratosféricos poderia ser tão... lucrativo? Lá vai o tempo em que era vantajoso depositar as suas economias no banco! Lucravam todos! Agora, servem-se do nosso dinheirinho e ainda pagamos! Haja Deus!!!

 

E depois, claro, temos as privatizações, o espetáculo magnífico de vender o que é de todos ao melhor licitante. A banca, a EDP, tudo à venda como se estivéssemos numa feira de antiguidades, mas em vez de porcelana estamos a vender setores estratégicos do país. E os compradores, esses visionários, que prometem melhorias enquanto contam os lucros antes mesmo de assinar o contrato.

 

Quem se importa se os preços dos serviços essenciais sobem? Quem liga se as tarifas de eletricidade atingem níveis exorbitantes? Certamente não os grandes acionistas, esses titãs da economia que contam os seus euros enquanto os consumidores fazem malabarismos para pagar as contas. Afinal, a privatização não é sobre o bem-estar da população, mas sobre a prosperidade dos bolsos certos.

 

E as consequências? Ah, são apenas um pequeno preço a pagar pela busca incessante dos lucros. Desemprego? Perda de direitos laborais? Não importa, desde que a curva de lucro aponte para cima. A responsabilidade social é como um acessório fora de moda, algo que se coloca de lado quando se procura a excelência nas margens de lucro.

 

E o ambiente, essa preocupação passageira que é sufocada pelo fumo das fábricas e pela ganância dos grandes poluidores. A busca pelo lucro, muitas vezes, caminha de mãos dadas com a degradação ambiental, como se a sustentabilidade fosse um conceito ultrapassado. O verde que importa é o verde dos dólares, ou o verde da tinta com que batizam os nossos candidatos a Primeiro-Ministro? não o verde das florestas que desaparecem.

 

E agora, mais uma cereja para o topo do bolo – abril! Sim, aquele abril que todos celebramos como o mês da liberdade. Mas será que alguém se lembra que a liberdade não é apenas política, mas também económica? Abril, salva este País! Mas salva-o de quê? De ser demasiado independente, de ter demasiados recursos em mãos públicas, de ter um povo, ou melhor dizendo, um rebanho de dóceis cordeirinhos, que se atreve a pensar que a riqueza do país deve beneficiar todos, não apenas uns poucos privilegiados. Coitados!

Mas que ingenuidade! Num país onde os lucros são aclamados como heróis e as privatizações como conquistas gloriosas, abril, o quê? Macacos me mordam! Parece que a revolução se esqueceu de dar um passo à frente na gestão dos bens comuns. Mas quem precisa de um país gerido para o bem de todos quando se pode ter lucros colossais para alguns? A justiça do nosso país é tão compassiva e clemente que até condecora os seus maiores vigaristas. Haja Deus!

 

Em resumo, este é o teatro do absurdo em que vivemos. Observa os lucros, ouve os pregões, celebra as privatizações como se fossem troféus de uma guerra vencida. Mas, enquanto contamos os euros nas contas bancárias dos grandes empresários, talvez seja hora de questionar se este espetáculo é realmente para o nosso bem. Abril, salva este país? Senhores e senhoras, não saiam dos vossos lugares, pois o espetáculo vai continuar e a história ainda está por contar.

 

(Sai Celsio. Entra o professor Albino)

 

Professor Albino:- Ser cota é como ser um artefacto num museu vivo, uma relíquia de um tempo que vocês, jovens modernos, só conhecem pelos vossos vídeos no TikTok. Vocês, com toda a vossa tecnologia deslumbrante, não têm ideia do que é ser cota. Ser cota é como ser uma enciclopédia ambulante, com a versão digital sempre atualizada.

 

Vocês não percebem a luta que foi viver numa época em que não podíamos dar um toque no ecrã e pedir um Uber. Tínhamos de esticar o braço na rua e

 

esperar que um táxi nos visse. Que drama! E agora, com os vossos telefones inteligentes até chegam a pensar que têm o mundo na ponta dos dedos. Eu preferia estar em 1974 do que aqui a aturar-vos.

 

Ser cota é ter paciência para explicar que as pensões não eram apenas uma quantia simbólica que cai magicamente na conta, no final do mês. Não! Eram o resultado de anos de trabalho árduo, contribuições mensais e a esperança de que, ao chegar à velhice, teríamos uma almofada financeira decente e reconfortante. Mas, agora, parece que as pensões são apenas uma lembrança longínqua de um tempo em que as promessas eram feitas para serem cumpridas.

 

Ah, as pensões, a doce melodia da nossa reforma. Mas vocês, com os vossos termos de reforma antecipada e cálculos complexos, não sabem o que é esperar ansiosamente o dia em que poderíamos finalmente descansar. Ser cota é como ser um malabarista financeiro, tentando equilibrar o orçamento com as despesas crescentes e as reformas que parecem cada vez mais uma piada de mau gosto.

 

E, enquanto vocês reclamam da qualidade do Wi-Fi, nós, cotas, reclamamos da qualidade das nossas pensões. A vida era uma batalha constante para garantir que as contribuições mensais não fossem em vão, e, agora, as recompensas tornam-se suficientes para as necessidades reais da velhice, tanto mais que a maior delas parte fica na farmácia.

Oh, como eu preferia estar em 1974, quando as promessas eram feitas e, na maioria das vezes, cumpridas. Quando a palavra "pensão" não era uma fonte de ansiedade, mas sim de tranquilidade. Agora, parece que as “ditas cujas” são como aquela amiga que promete vir ao teu aniversário, mas nunca aparece.

E eu preferia estar em 1974 do que aqui, a lidar com este jogo de promessas quebradas.

 

E agora, gritando para o vazio, eu preferia estar em 1974 do que aqui a aturar-vos com as vossas queixas sobre a falta de oportunidades de trabalho, enquanto nós, cotas, enfrentamos o dilema de como esticar a pensão para cobrir todas as despesas. Talvez se desligassem um pouco os vossos telemóveis e prestassem atenção à realidade, perceberiam que ser cota não é apenas ter rugas, é saber lidar com um sistema que parece ter esquecido as promessas que fez.

 

Eu preferia estar em 1974, quando as pensões eram mais do que apenas uma cifra num extrato bancário, mas uma garantia de que a velhice seria um período de descanso merecido, e não uma batalha constante para equilibrar as contas. (Grita) Eu preferia estar em 1974 do que aqui a aturar-vos!

 

(Sai o professor Albino. Entra Amanda)

 

 

Amanda: -Políticas, politiquices... oh, o medo dos jovens. (Suspira) Parece que a política é a palavra que todos evitam, como se fosse uma praga do século passado. Porém, meus amigos, deixem-me contar-vos uma história sobre esse temido mundo das politiquices e o inexplicável receio que muitos jovens têm em relação a ele.

 

Primeiro, há algo que precisa ser esclarecido. Política não é um monstro de três cabeças que vai saltar da urna de votação e devorar-vos vivos, se calhar é só um monstro de quatro cabeças. Mas não te aflijas. Não, não é assim tão dramático. A política é apenas... ora bem, uma parte peculiar da vida. Como uma sogra que vos visita todos os domingos, mas em vez de falar de receitas, fala de orçamentos estatais.

 

E o medo dos jovens... ah, o medo. Eu já vos disse que é só um mostro de quatro cabeças. Mas vocês insistem que a política é... Como se a política fosse uma doença contagiosa que se apanha ao entrar numa cabine de voto. "Não toques em nada, filho, pode ser que escape!" É assim que alguns jovens parecem encarar a participação política. Como se votar fosse uma espécie de roleta russa onde a “bala” é uma decisão mal ponderada. Mas pensem bem, vocês estão fartos de fazer porcaria… mais uma, que diferença faria?

 

Mas deixem-me ser claro, queridos jovens… humm: a política não é um jogo de azar, se calhar está lá perto, mas não é: é o jogo da vida, onde as apostas são altas, e a roleta é a sociedade em que vivemos: a habitação, a saúde e ainda a educação e tantos outros caprichos. Ignorar a política é como tentar atravessar um campo minado de olhos tapados. Eu compreendo, vocês estão habituados a andarem de olhos vendados, é por isso que a vossa cabeça é horrorosa por estarem “cheios de galos”... Pode correr bem, mas há sempre o risco de pisar em algo que expluda na vossa cara.

 

E que tal aqueles que dizem "A política não me afeta, não tenho nada a ver com isso"? Meus amigos, isso é o mesmo que dizer que a meteorologia não vos afeta porque não saíram de casa. A política está em todo o lado, como o ar que respiramos. Afeta as vossas escolas, os vossos empregos, e até mesmo as taxas, como é o caso do iva, que pagam nas porcarias que compram. Sim, políticas, aquelas que alguns evitam como se fossem alergias sazonais.

 

E os debates? Ah, os debates políticos. Como se participar numa discussão sobre o futuro do país fosse mais arriscado do que mexer num ninho de vespas furioso. "Oh, não, é melhor não dizer nada, posso ofender alguém!" E é assim que alguns jovens e alguns adultos se remetem ao silêncio em vez da possibilidade e do direito de expressar uma opinião.

Ó pá! P’ra vocês é melhor voltar para antes de 74.

 

Mas o que realmente me intriga é a desculpa do "todos são iguais, não vale a pena votar". Como se todos os partidos fossem uma versão desbotada do mesmo quadro abstrato. Bem, meu caro, estou a ser queridinho de mais ..

Voltando ao assunto… se todos são iguais, então, estás condenado a viver numa galeria de arte onde todas as obras são tão semelhantes que nem sequer consegues distinguir uma da outra.

 

E o “abstencionismo”, essa tendência de ficar em casa no dia das eleições como se fosse um feriado dedicado a Netflix e pizza. "Votar não faz diferença, as coisas nunca mudam." Ah, mas fazem. Mudam lentamente, como um caracol com preguiça, mas mudam, nem que seja para pior . E ficar em casa só deixa que outros decidam por vós.

 

E agora, minha audiência relutante, chegamos ao clímax desta festa. É melhor pensar no futuro e agir no presente. Sim, é isso mesmo. Aproveita o direito que abril te deu, como se fosse um bilhete dourado para um parque de diversões minimamente democrático. Porque, meus caros, há algo pior do que a politiquice: é não participar nela. Além disso, alegrem-se! Vença quem vencer, seja à direita ou à esquerda, a nossa vida, a partir do dia 10 de março, vai mudar completamente e para melhor, é tão claro como água! Com todas as promessas que os candidatos têm feito, desta vez é que é! Vai ser uma volta de 360 graus! Graças a Deus!!!

Por Abril, não lhe dês descanso!

 

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