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De certo modo, estou contente. Já não precisei de ir a Fátima. Feitas as contas estiveram lá cerca de 3000 peregrinos, todos à espera de um milagre: o milagre da transformação das rosas em pão porque este é o alimento da alma, o milagre de D. Fuas Roupinho, uma vez que andamos todos à procura de uma capa, seguindo o provérbio “quem tem capa sempre escapa” e, ainda, o milagre da multiplicação dos peixes que talvez dê para uma dourada e dois carapaus, bem pesadinhos...

No momento da decisão pesou o facto de uma qualquer cidade por mais cosmopolita que seja até à aldeia mais recôndita erguida no cume ou no pico de uma montanha, poderiam cumprir o desígnio. Por falar em pico, e no que concerne à pandemia, agradeci as palavras alpinistas da diretora da DGS que refere não saber o tamanho da montanha nem o seu pico pois não tem tido tempo para se deslocar até lá a medi-la nem tem na sua posse os apetrechos necessários para a escalar . Sabe também ela que esta é uma maratona sem fim, com muitas ondas e curvas. Esta imagem lembra uma voltinha na montanha russa na feira popular agora fechada a todas as nacionalidades.

Pois bem, fomos apelidados de “milagre português” talvez pelo nosso sistema de saúde não ter colapsado perante tanta incompetência das autoridades. Agora é que sim, não colapsa mesmo. Estamos melhor preparados, avisados, dotados e aviados a engrossar o número de infeções, de camas não disponíveis, de ventiladores e a empurrar novamente os doutores para o mundo da pandemia. Mamma Mia! Os nossos parceiros, Espanha e Itália foram os primeiros a dar-nos os parabéns pois são os que se encontram mais perto de nós e em correio azul é um tirinho...

Segundo o nosso Presidente da República o “Milagre Português” é fruto do sacrifício dos portugueses, da forma como Portugal está a lidar com a pandemia.E adianta “se isto é um milagre, o milagre chama-se Portugal”. Agora sim, acredito. Para quê tanto cumprimento de regras, tantas restrições, tantos confinamentos, máscaras e desinfeções? Para nada. O milagre dar-se-ia na mesma. Milagre é milagre! Mas atenção. Apesar de estarmos a ganhar 2-1, a segunda fase de combate é a mais difícil tendo em conta que uns quantos já foram ao tapete.

Agora a preocupação reside nos lares de idosos que ainda precisam de mais tempo para estabilizar. Talvez deitadinhos numa cama sem mexerem um único dedo pois esse levado ao nariz pode ser fatal. O mais difícil é também o número diário de internamentos que são divulgados  e pouco fiáveis devido ao elevado número de máscaras que adulteram e baralham todo o processo. Por fim, a reabertura da sociedade e da economia. Neste campo e, como falamos de um milagre, assistiremos a uma forte explosão social com origem nos Himalaias, vincada na restauração e outros setores relevantes da sociedade, que podem continuar a espreitar pelo buraco da fechadura à espera de melhores dias. O melhor ainda está para vir! E para ver! O nosso Presidente da República deixou e dirigiu mensagens de ânimo, força e coragem a todo este “Portugal Milagreiro”. Assim. Aos velhos, com doenças mais graves, desejou-lhes não terem receio pois ninguém os quer encerrar num gueto. Mas então alguém pensou o contrário? O aviso, digamos, conselho, de permanecerem em casa é apenas um exercício de retórica. Nada mais. E termina. Aos mais novos admiro a capacidade de reagir ao maior choque das suas vidas. É verdade. Eles já não sabem por onde andam, com quem andam e a fazer o quê.

Contudo, vão para a escola com o mesmo intuito de sempre, aprender, renovarem-se e descobrirem-se. Este é que é o verdadeiro “Milagre Português”.

 

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