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Quando se trata de situações dramáticas, de autêntico flagelo humano como é o caso deste avassalador Coronavírus em contínua evolução, a precariedade dos nossos comentários pode ser inibidor. Todas as vezes em que acabamos de registar a informação que nos é disponibilizada, a vai logo desmentir ou fazer envelhecer.

Tudo o que sabemos é estéril se não a incorporarmos num comportamento disciplinado e cívico. O risco estará em converter este episódio infeliz numa fatalidade para todo o sempre sombreando as nossas relações com o mundo. As coisas nefastas, irreversíveis, difíceis de aceitar, acontecem aos outros. A sua carga dramática sentimo-la, pois, confortavelmente, longínqua. Mas se elas, como é o caso, nos escolhem como protagonistas – que abalo, que revolta, que injustiça. Este estado de calamidade pública, esta epidemia pede a todos co-responsabilidade. Até aqui, os políticos, em geral, apostavam na retórica e no número de votos. De repente um país desatou a falar, a informar com seriedade e responsabilidade, e fez dos seus discursos atos de afirmação e coragem.

Viver é risco, pois. Mas é quando arriscamos que menos damos por isso. Quando o levamos mais longe investimos nele todo o nosso ser e na hora de o medirmos, já o deixámos para trás.

Cada dia uma novidade, fase de mitigação, agora “estado de emergência” com suspensão de direitos fundamentais, que nos parece a mais inesperada e a mais fatal e no momento seguinte verificamos que a nossa perceção, o nosso amor e a nossa esperança foi depressa desatualizada. Impressionante, que assim suceda.

Este vírus desconetado entre o real e o refazer ele próprio esse real, reclama uma viragem abismal na maneira de ser e de existir, que, aqui e agora, se aposta em deixar viver e sobreviver. Nesta infeção está denunciado o vazio, a carência de uma conceção global do que possa ser todos os povos unidos e o mundo a uma só voz. A rutura, o medo, o pânico e a morte teriam de dar-se mais cedo ou mais tarde. Este vírus novo, assustador e fatal não tem precedentes na história da humanidade, porventura similares nas suas características. Abruptamente, o contágio deslocou-se para um repto que não havia previsto, com o adversário inesperado a defrontar-se simultaneamente com os que já estavam na liça e a recusar a ambos as “armas” convencionais desse medir de forças.

 

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