5 de maio de 2020
Hoje sonhei que corria pela cidade e que toda a gente se ria, se abraçava, se beijava e desfrutava da companhia dos outros. Ninguém tinha máscaras nem luvas, nem algo do género, mas lembro-me perfeitamente de que toda a gente sorria de orelha a orelha.
De repente, uma sombra ou uma nuvem negra, não sei bem, andava atrás de mim, e a minha corrida que antes era livre passou a ser um desafio para escapar daquilo que se aproximava. Toda a gente desapareceu e só sentia olhares nas janelas das casas. Acho que a sombra me apanhou, porque a próxima coisa de que me lembro é de ter os olhos abertos e de estar a olhar para o teto branco do meu quarto. De facto, isto do confinamento em casa não me anda a fazer bem, já nem nos meus sonhos posso ser livre e passar o perímetro da minha casa, como o protagonista/vilão é o mesmo que “assombra” os telejornais e os nossos dias.
6 de maio de 2020
Hoje é o dia dela. Da minha avó. Faz setenta e seis anos e conseguimos que hoje sorrisse, porque ultimamente anda preocupadíssima com o corona, que não consegue esquecer por causa dos jornais e restantes programas televisivos, que falam todos do mesmo. Enfim.
Para mim, o dia começou com o obrigatório e histérico beijinho de parabéns à minha avó, obviamente, e depois tive aulas online. Como sempre, as aulas são um desafio, ao qual já estou a ficar costumada, e dependendo da minha energia, depois das aulas, ou começo a trabalhar e estudar naquele exato momento ou então faço uma pausa.
Ter aulas, comer, estudar, fazer exercício, comer outra vez, ver filmes e séries, falar com os meus amigos, e experimentar novas coisas para fazer em casa tem sido a minha rotina, se refletir bem. Dizem que o cérebro só precisa de vinte dias para criar um novo hábito, e, como já há praticamente três meses que a quarentena começou, acho que estas novas mudanças no meu dia a dia já estão mais que enraizadas, tanto na minha cabeça como no meu corpo em geral.
Só espero que a situação mude, porque o tema “Covid-19” está a tornar-se insuportável nas redes sociais e na televisão. Só de pensar nas coisas que perdi nestes últimos meses, parece que a vida passou por mim e eu não a consegui agarrar. Que azar tive.
Estão-me a chamar. É para ir cantar os parabéns. “Para de pensar em coisas más e sorri, afinal, podias estar bem pior.”, diz-me a minha consciência.