Numa sociedade regida por hábitos, a mais ínfima modificação pode dar lugar ao colapso. Apesar de vivermos em comunidade, vemos as nossas conquistas como sendo fundamentalmente individuais. Em alturas de crise, contudo, os instintos mais básicos do ser humano parecem despertar, voltando-se ao sentido de união primordial.
Com efeito, embora o desconhecido tenha estimulado a evolução da Humanidade, é também o incerto que tememos. Por isso, em épocas de instabilidade, é necessário não ceder à escravatura do medo, prosperando através da resiliência. No sentido de se superarem as vicissitudes, torna-se crucial considerar a nossa responsabilidade enquanto promotores do declínio. Assim sendo, podemos refrear as consequências de potenciais conflitos. Afinal, o nosso quotidiano vê-se envolto por tensões iminentes, que são menosprezadas por não nos afetarem diretamente, como a crise climática que ainda carece de solução. Considere-se o biólogo Jared Diamond, que afirma que a superação da decadência reside em aceitar que somos responsáveis por ela, admitindo a realidade.
Posto isto, podemos encarar os tempos de colapso como o motor da regeneração da sociedade. Abalada a nossa sensação de segurança enquanto seres independentes, admitimos a nossa fragilidade como identidades perecíveis. Portanto, reestruturamos o nosso estilo de vida, adaptando-nos à mudança. Consequentemente, é a força de vontade que nos permite melhorar enquanto comunidade, uma vez que nos tornamos conscienciosos do papel fulcral da cooperação. Assim, as crises que enfrentamos relembram-nos o valor incalculável da união, enquanto fonte de apoio vital à manutenção da normalidade. Pense-se que, há precisamente quarenta anos, em maio de 1980, a Organização Mundial de Saúde anunciava a erradicação da varíola. Em plena Guerra Fria, só a colaboração internacional pôde combater um vírus global.
Concluindo, em tempos difíceis, devemos relembrar-nos do nosso papel no mundo, enquanto propulsores de mudanças potencialmente fatais. Simultaneamente, não nos esqueçamos da vulnerabilidade que é intrínseca à condição humana, que deve ser aceite e moderada pela harmonia dos esforços de todos.