Palavras que marcam

     
Nuno Camarneiro,  "No meu peito não cabem pássaros"
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As cantigas de escárnio e maldizer são provenientes da Idade Média e fazem parte do gênero literário denominado trovadoresco .Foram exaradas, assim como todos os textos populares da época, em galego-português. Estas, apesar de serem satíricas, ou seja, ambas têm a intenção de criticar alguém de forma depreciativa, distinguem-se pela maneira como são escritas. Uma faz alusão clara e direta à pessoa que critica- cantigas de maldizer- e a outra é feita de modo indireto e com uso de palavras com duplo sentido – as cantigas de escárnio.

As cantigas de escárnio são conhecidas por criticarem de forma indireta e por terem presentes duplos sentidos. Para serem compostas usam-se ambiguidades, trocadilhos, e jogos semânticos, que os trovadores ( autores) denominam de equívoco.

" Ai, dona fea, foste-vos queixar
que vos nunca louv[o] em meu cantar;
mais ora quero fazer um cantar
em que vos loarei toda via;
e vedes como vos quero loar:
dona fea, velha e sandia!..."
Nessa cantiga de João de Guilhade, uma das mais referidas nos cancioneiros medievais, podemos evidenciar a crítica e a paródia de amor cortês pela senhora, por não ter sido louvada e o modo como o trovador pretende fazê-lo.
Já as cantigas de maldizer são escritas de maneira a dar a conhecer quem se critica, ou seja, são diretas e não fazem uso de duplo sentido. Podem. até, na maior parte delas, ocorrer agressões verbais e palavrões.
" Roi queimado morreu con amor
Em seus cantares por Sancta Maria
por ua dona que gran bem queria
e por se meter por mais trovador
porque lhela non quis [o] benfazer
fez-sel en seus cantares morrer
mas ressurgiu depois ao tercer dia!…"

Da autoria de Pero Garcia Burgalês, essa cantiga é uma sátira que talvez tivesse sido propiciada por uma particular cantiga de Rui Queimado, na qual este trovador exprime o amor pela sua senhor (senhora em português atual, dado que nessa época não havia o género feminino desta palavra). Note-se, entretanto, que esta paródia de Pero Garcia Burgalês visa, especificamente, criticar os dotes poéticos de Rui Queimado.

 

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