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Numa tarde em que a temperatura era baixa em Bragança, o auditório da Escola Secundária Abade de Baçal aqueceu com o calor humano de todos aqueles que puderam ouvir o escritor João Tordo. Na plateia, alunos (alguns oriundos de uma turma da Escola Augusto Moreno) e alguns professores ansiavam pelas palavras do jovem escritor.


A boa disposição e o à vontade do escritor foram evidentes desde o início. Relativamente à sua relação com a escrita, referiu que um dos seus primeiros escritos fora um poema de amor, quando frequentava o Secundário. Na altura, e tal como o escritor adiantou, não lhe foi muito útil já que o poema não teve o fim esperado: “a rapariga deitou o poema ao lixo”. João Tordo adiantou alguns pormenores desta história de amor não correspondida tornando o ambiente com os alunos bem mais descontraído.
João Tordo formou-se em Filosofia, em Lisboa, e depois rumou a Londres para se licenciar em Jornalismo, profissão que ocupou durante cerca de nove anos. Foi para Nova Iorque em 2002, onde estudou Escrita Criativa. Aqui não se limitou a estudar, mas também trabalhou em alguns cafés da cidade, como explicou. E foi na cidade que nunca dorme que escreveu o seu primeiro romance “não nascemos escritores, mas alguma coisa de nós tem vontade de compreender o mundo”, disse. Para escrever romances é preciso “ver o mundo e viver o mundo”, acrescentou. Nos cinco romances publicados, está parte do seu mundo, as personagens são frequentemente construídas a partir de pessoas que fazem parte da sua vida, embora nos romances ganhem autonomia. A escrita é também “uma oportunidade para o escritor se vingar do mundo” e “para ajustar contas com a realidade”. Talvez por isso alguns dos seus amigos lhe tenham pedido que não os colocasse nos livros. E ele não foge a este efeito espelho. Depois de muito tempo sem escrever, disse ter-se fechado “em casa com uma depressão enorme” e visto todos os episódios do Dr. House. “Então comecei a escrever um romance no qual há um escritor que tem uma depressão”, contou o escritor. Também o facto de ser um irmão gémeo já foi narrado nos livros.
Foi-lhe atribuído o prémio José Saramago, pela obra literária: “As Três Vidas”, no ano de 2009 e assegura que esta distinção mudou completamente a sua rotina: viu o número de entrevistas crescer de uma forma colossal, o que foi fundamental para o êxito com os leitores.
Questionado sobre a definição de literatura, referiu que esta “é uma coisa feita por pessoas que já leram mais livros do que aqueles que escreveram, é aquilo que se faz para dar resposta ao que aparentemente não a tem”.
Elisa Ramos, professora bibliotecária da AM, quis saber se em “os Homens sem Luz” haveria influência de Malraux, pois sentia que o livro era uma reflexão . João Tordo referiu que a existir essa influência, não era consciente, mas que o livro fora escrito, quando atravessava uma fase boa menos boa da vida em que precisava de explicar o que se passava com ele, mas atrás de outros – as personagens do seu livro.
O seu escritor de eleição é Paul Auster.
Fundamentalmente, numa obra, é o 1º parágrafo o que exige um grande esforço “para que tudo fique perfeito”.
A sessão terminou com a leitura do “Conto de Natal” por um grupo de alunos do 10ºB.

 

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