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Rafael Bordalo Pinheiro revelou não se importar com o facto de poder vir a ser censurado e sempre desenvolveu as suas obras de maneira muito expressiva nesse sentido.  Parte do seu trabalho está exposta no Museu Bordalo Pinheiro, em Lisboa, e continua, ainda, hoje a ser tema de conversa pela intensidade das suas críticas.

Rafael Augusto Prostes Bordalo Pinheiro foi um caricaturista, ilustrador, autor de banda desenhada, editor, decorador e figurinista, ceramista, jornalista e professor, é considerado o maior artista plástico português do século XIX. Nasceu a 21 de março de 1846 no nº 47 da Rua da Fé na capital portuguesa e tem óbito registado a 23 de janeiro de 1905 nesta mesma cidade.
Filho de pais artistas, Manuel Maria Bordalo Pinheiro e D. Maria Augusta do Ó Carvalho Prostes, desde muito novo que ganhou gosto pelas artes. Passou pelo Liceu das Merceiras e, posteriormente, o berço em que nascera levá-lo-ia a matricular-se aos 14 anos (1860) no Conservatório do Teatro Garret, onde viria a experimentar a 5ª arte, a representação. Contudo, não considerou ser a representação a sua vocação e abandonou a carreira como ator. Rafael Bordalo Pinheiro sempre manteve uma relação intrínseca com o teatro e sempre foi um grande amante dessa arte. Mais tarde o próprio viria a trabalhar como desenhador de figurinos e cenários.
Um ano mais tarde, inscreveu-se em Desenho de Arquitetura Civil na Academia de Belas Artes, onde também se matriculou em Desenho Histórico. Posteriormente, decidiu então reunir as suas competências e matricular-se no Curso Superior de Letras e na Escola de Arte Dramática. Contudo, não se sentiu concretizado e desistiu dos estudos. A sua família demonstrava-se cada vez mais preocupada com o futuro profissional de Rafael Bordalo Pinheiro, pois a ligação deste à arte não o influenciava totalmente, sentindo-se apenas parcialmente realizado a nível profissional. Segue-se, então uma medida corretiva do seu pai, pintor e gravador e também primeiro-oficial da secretaria da Câmara dos Pares (organismo do estado semelhante às Câmaras Municipais atuais, de poder legislativo), de maneira a encaminhá-lo na vida – consegue um lugar para o seu filho na Câmara dos Pares em 1863 onde este recebia 25 mil reis mensais como escriturário. É essa mesma instituição que mais tarde viria a tirar as dúvidas a Rafael Bordalo Pinheiro e a levá-lo a seguir definitivamente uma área não só ligada às artes mas também à política, revelando o seu interesse, até agora oculto, pela sátira politica.
Ganhou um gosto singular pelas artes plásticas e começou a fazer os seus primeiros grafismos para uma exposição promovida pela Sociedade Promotora de Belas-Artes sobre motivos que tocavam a sociedade da época. Contudo, apenas com o título: “pel’O Dente da Baronesa (1870)”, Bordalo Pinheiro começou a ganhar altivez e a destacar-se na temática do humor e do grafismo. Ele próprio disse acolher o gosto pela caricatura por uma simples brincadeira: “Comecei a sentir um formigueiro nas mãos e vai pus-me a fazer caricaturas”.
Sempre fora um homem muito ligado à capital e valorizava muitíssimo essa mesma cidade. Lisboa sempre fora a cidade central dos seus grafismos. As suas caricaturas são essencialmente caracterizadas pela inspiração nos costumes e géneros populares, com preferência pelos camponeses de trajes vistosos.
Viu a sua obra publicada em muitos títulos da imprensa nacional, tendo-se destacado também no estrangeiro, nomeadamente na vizinha Espanha e no Brasil, onde viveu três anos e onde liderou vários jornais como “O Mosquito”, o “Psit!!!” e “O Besouro”.
Dos seus títulos como “O Calcanhar d’Achilles [Aquiles]”, a sua participação no “Almanaque das Gargalhadas”, “O Binóculo”, “O Enterro na Aldeia”, destaca-se o álbum “Apontamentos de Raphael Bordallo Pinheiro sobre a Picaresca Viagem do Imperador do Rasilb pela Europa”, primeira banda desenhada portuguesa, que relata a viagem do Imperador do Brasil D. Pedro II à Europa e que rapidamente viria a favorecer o reconhecimento de Rafael Bordalo Pinheiro a nível mundial, tornando-o assim um dos grandes percursores da banda desenhada.
Contudo, é em 1875 que alcança o auge da sua carreira, com a criação da figura representativa do povo “O Zé Povinho”. Simbolicamente esta personagem reproduz não só o povo português, mas também o descontentamento generalizado da sociedade perante certas ocasiões, nomeadamente politicas, sociais, económicas que marcavam o país ao longo da sua história. É caracterizado por ser uma personagem do meio rural, analfabeta que recorre a um gesto saloio, obsceno, de grande expressividade emocional: o manguito. Para este gesto é mais uma vez traduzida a ideia de descontentamento e é assumido como um amuleto que afasta o mau-olhado, resulta como que uma refutação do povo a, por exemplo, um imposto, uma descida do salário, ente outros factos que provocavam essa mesma desaprovação.
Esta personagem surge pela primeira vez nas páginas “d’A Lanterna Mágica”, publicação da qual surge uma crítica dirigida para a destreza do Ministro da Fazenda em pedir ao próprio “Zé Povinho” para dar uma esmola para o Santo António de Lisboa cujas festividades se aproximavam, pelo que a personagem tipo recusa de modo expressivamente insultuoso. Está implícita a ideia de corrupção por parte da soberania e a constante tentativa de burla ao povo. É nesta medida que o “Zé Povinho” se enquadra manifestando os seus interesses e não deixando viva a ideia de sobreposição politica.
O “Zé Povinho” tem ainda uma biografia feita pelo próprio Rafael Bordalo Pinheiro em que deposita a esperança de “ (…) talvez venha o dia em que ele mude de figura e mude também de nome, para em vez de se chamar “Zé Povinho” se chamar apenas Povo”.
Em 1884, conjuntamente com a sua atividade como caricaturista e ilustrador, experimenta o barro nas oficinas de Gomes de Avelar e, pouco tempo depois, decide dedicar-se ao ofício, que perdurou durante 21 anos, na Fábrica de Faianças que comprou nas Caldas da Rainha onde esta e várias outras personagens tipo ganham forma tridimensional.
A nível de cerâmica inspirou-se essencialmente na natureza, esta fascinava-o e as suas criações baseiam-se essencialmente em animais e seres inexistentes que são utilizados para formular comparações e estimular uma crítica ao estado ou aos principais líderes da monarquia constitucional que estava instaurada no seu tempo.
Existe uma profunda relação entre Eça de Queirós e Rafael Bordalo Pinheiro no que toca á crítica da sociedade em que se inserem. Ambos pretendem refutar as ações dos chefes de estado de burla, e corrupção.
Eça de Queirós defendeu que a tese que analisa e sintetiza a realidade com objetividade, o Realismo, é “uma base filosófica para todas as conceções de espírito - uma lei, uma carta de guia, um roteiro do pensamento humano, na eterna região do belo, do bom e do justo, (...) é a crítica do Homem, (...) para condenar o que houver de mau na nossa sociedade. (...) É não simplesmente o expor (o real) minudente, trivial, fotográfico, (...) mas sim partir dele para a análise do Homem e sociedade.”
Da mesma forma, Rafael Bordalo Pinheiro critica a sociedade através das suas personagens tipo que não só representam uma determinada realidade como a transmitem graficamente através do caricaturismo. É de notar que o próprio Rafael Bordalo Pinheiro fez questão de caricaturar Eça de Queirós.
Desta forma, tanto Eça de Queirós como Rafael Bordalo Pinheiro reproduzem uma sensibilidade que deve ser acolhida pela população de modo a valorizar a necessidade de se manifestar contra os atos insensíveis dos elementos de poder. É neste aspeto que ambos defendem que o povo deve manifestar os seus preceitos para com os paradigmas que se faziam sentir na sua época. Através da crítica, é pressuposto obter uma interrogação generalizada acerca do modo de agir dos governantes, chefes de estado, soberanos, entre outras entidades polémicas e que fosse pertinente discutir.

Fontes usadas:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Rafael_Bordalo_Pinheiro
http://www.arqnet.pt/dicionario/bordalomanuel1.html
http://www.citi.pt/cultura/literatura/poesia/j_g_ferreira/realismo.html
http://pt.slideshare.net/sebentadigital/realismo-em-caricatura-1447143
http://ensina.rtp.pt/artigo/o-ze-po
vinho-de-rafael-bordalo-pinheiro/
http://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_Povinho
http://pt.wikipedia.org/wikiLanterna_M%C3%A1gica
http://pt.wikipedia.org/wiki/Par_do_Reino
http://www.citi.pt/cultura/artes_plasticas/caricatura/bordalo_pinheiro/biografia.html
http://www.infopedia.pt/$rafael-bordalo-pinheiro?uri=portugues-frances/pinheiro

 

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