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Quorum Ballet, companhia de dança contemporânea de repertório, apresenta ao público, numa exibição estonteante, o seu carácter de intervenção, tecendo uma crítica à sociedade da atualidade, através do espetáculo “Disconnect”, que, através de um jogo de máscaras, ao qual nem o público consegue fugir, exibiu algumas perspetivas da vida.

Durante noventa minutos, com a direção artística de Daniel Cardoso, a forte sonoridade e os movimentos bruscos obrigaram os espetadores a refletir, a estabelecer relações e a questionar o lugar de cada um, durante um espetáculo no qual os símbolos forma uma constante e a realidade nem sempre era o que parecia. O aviso de que se oscilaria entre a realidade e a aparência surge logo no início quando em cada cadeira uma máscara esperava pelo seu dono temporário. Cada um pegou nela e ficou assim, sem saber muito bem o que fazer com ela. À espera do momento, ainda na dúvida da possibilidade da escolha.

Assim, estabelecendo uma clara relação com a teoria de Darwin, num contexto distinto, mostrou-se como apenas os melhores sobrevivem, num cenário em que cada um usurpa a máscara que lhe convém para sobreviver. Desta forma, a hierarquia prevalece sobre a própria natureza, mesmo quando a solidão e a duplicidade persistem. As personagens optam por desprezar estes factores, demonstrando uma clara preferência pela ignorância, que os conduz a uma falsa genuinidade. E movem-se em círculos que ora as cercam, ora lhes exigem luta, determinação, fingimento. E avançam, primeiro sós, depois em pares, em seguida em grupos progressivamente maiores, num resultado ambíguo: o fim da solidão ou a contaminação de toda a sociedade?

Deste modo, constata-se a existência de uma acentuada crítica à sociedade, na qual a tendência para as más condutas se torna recorrente e se rejeitam valores e princípios dignos, que se tornam inconvenientes quando o essencial passa a ser o poder e não a transparência e honestidade. Recorrendo às máscaras, enfatizam-se as particularidades da sociedade em que vivemos, expondo, perfeitamente, o jogo entre o ser e o parecer  em que nos encontramos imbuídos e mostra-se como, às vezes, é preciso a máscara ainda que seja doloroso para libertar o “Eu” que existe em cada um. 

Por isso, o gesto que encerrou o espetáculo obriga cada um a pensar que os atos em palco não se circunscrevem a esse espaço, eles correspondem à realidade, onde cada um se inclui. No momento em que o publico colocou as máscaras e a sua imagem foi projetada no palco, isto confirmou-se. O momento chegou, cada um fez a sua escolha e viveu com a estranheza do gesto.

Um espetáculo em que se reforça a importância de refletir sobre as peculiaridades do ser humano e da sociedade que se refletem na infinita gama de manifestações, sejam elas artísticas, filosóficas ou, até, políticas.

O trailer do espetáculo está disponível “online”:

https://www.youtube.com/watch?v=dR49K6a78I0&feature=youtu.be

 

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