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Quando ouvimos a palavra “comédia” associamo-la à comunicação social, devido aos programas a que assistimos diariamente. No entanto, a comédia nasceu nos palcos, numa altura em que o teatro era um dos poucos entretenimentos da sociedade.

Esta arte surgiu na Grécia Antiga, por volta de 488 a.C., como alternativa às tragédias e foi introduzida nas comemorações em honra do deus Dionísio. Neste género literário, os atores interagiam e dialogavam com o público e eram abordados temas como a crítica aos governantes, à educação e à guerra. A influência grega estendeu-se até ao Império Romano, onde a comédia teve o seu auge nos séculos II – III AC, período no qual, com personagens-tipo mascaradas, retratava a euforia do império em expansão e, mais tarde, a sua degradação, tornando-se grosseira e até obscena. Aristófanes, o mais famoso comediante grego nos dias de hoje, deixou-nos peças como “As Vespas” ou “Assembleia de Mulheres”, críticas aos tribunais e a um Estado imaginário administrado pelas mulheres, respetivamente. Entre as comédias romanas encontra-se “Punidor de Si Mesmo”, de Terêncio, e “Caruncho”, de Plauto.
Durante a Idade Média, surgiu um novo tipo de comédia, ligada aos bobos da corte. Estes tinham o propósito de entreter os nobres da corte e, principalmente, o rei e a rainha, com apresentações grotescas dos vícios da sociedade e/ou com a sua fisionomia e vestuário pouco comum. Muitas vezes expunham questões íntimas e chegavam até a criticar o próprio rei, sem qualquer represália.
Anos mais tarde, no séc. XV, surgiu, em Itália, a Commedia Dell’Arte. Este género, sempre improvisado, retomou a vulgaridade das comédias gregas, atribuindo trajes carnavalescos e euforia, com acrobacias e coreografias rítmicas, a temas como adultério, amor, velhice, ciúme e a sátiras de acontecimentos locais e atuais, em textos como os de Angelo Beolco, considerado o pai deste novo estilo (“La Pastoral”, “La Fiorina”). A nova forma de arte foi rapidamente levada das ruas italianas para as cortes europeias e permitiu às mulheres fazerem parte das peças, pela primeira vez. Em Espanha, desde o século XVI que havia permissão para as mulheres trabalharem como atrizes, enquanto na Inglaterra isso só aconteceu no século XVII e na Alemanha, no século XVIII. Therese du Parc, conhecida como La Champmesle terá sido a primeira mulher a pisar o palco como protagonista, integrando a companhia de Moliére. Terá interpretado Fedra, a protagonista da peça “Phédre” de Racine. Esta impossibilidade de as mulheres subirem ao palco é comicamente ilustrada no filme “A Paixão de Shakespeare”, de John Madden, no qual se dramatiza a peça “Romeu e Julieta” e Viola (Gwyneth Paltrow) se disfarça de homem para poder integrar o elenco da peça, facto que muito agrada a Shakespeare/Romeu (Joseph Fiennes).
Em Inglaterra, durante o século XVI, tornam-se famosas as comédias de Shakespeare, como “A Comédia dos Erros”, “O Mercador de Veneza”, “Sonho de uma Noite de Verão” (que o Grupo de Teatro da Escola já representou) ou “A Tempestade”. Destas, três foram também já adaptadas ao cinema.
Por fim, em finais do século XVIII, surgiu o tipo de comédia no palco que mais impacto teve no nosso país e que, resistindo aos tempos de ditadura, durante os quais serviu para passar mensagens contra o regime, continua a ser representado em Portugal – o Teatro de Revista. Este surgiu em França com o objetivo de recordar momentos marcantes no ano e ridicularizá-los, tornando-se mais humorístico com o passar dos anos, sempre com momentos de canto, dança e declamação. Terá chegado a Portugal em meados do século XIX, acabando por se tornar num dos mais populares do país durante mais de cem anos. O humor misturado com a música, a cor e a fantasia cativaram o público português. A atriz Ivone Silva, falecida em 1987, foi uma das grandes artistas do género.
O teatro de revista em Portugal criou duas figuras obrigatórias, o compadre e a comadre. Enquanto ela tinha de ser elegante e bonita, ele devia ser cómico e popular. No século XX, o Parque Mayer, em Lisboa, tornou-se a sede do teatro de revista, mesmo durante os tempos da ditadura em que havia censura. Lá apresentaram-se peças como Às de Espadas (1926), Sempre em Pé (1938), Alto Lá Com o Charuto! (1945), O Melhor do Mundo (1948), E Viva o Velho! (1965), Ena, Já Fala (1969), Uma no Cravo, Outra na Ditadura (1974) e Direita, Volver! (1978).
É entre vestuários exuberantes e exclamações estridentes, que atores como Marina Mota, Maria Vieira, Vitor de Sousa e José Raposo continuam a criticar e expor os problemas do nosso país.
Posto isto, a comédia evoluiu muito desde o seu aparecimento e em sentidos muito diversos, sendo que aqui foi apenas apresentada a evolução no seu berço -o palco.

Bibliografia:
http://www.desvendandoteatro.com/origemehistoria.htm
http://www.desvendandoteatro.com/comedias.htm#517982155
http://www.infopedia.pt/$teatro-de-revista
http://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9dia
La Civilización Romana - Pilar FERNÁNDEZ URIEL, Irene MAÑAS ROMERO - Google Livros
Bobo da corte – Wikipédia, a enciclopédia livre
http://www.dw.de/1545-surge-a-commedia-dellarte/a-301330

 

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