O auditório principal do teatro de Bragança encheu para receber Argan, o protagonista da peça “ O doente imaginário”(Le Malade imaginaire),de Moliére, numa adaptação da companhia “Teatro de São João”.
A peça retrata a vida de um hipocondríaco incurável, da sua família, da cumplicidade dos criados, ridicularizando-os de forma muito humorística. O cinismo e oportunismo da sociedade médica também não fogem a este olhar crítico.
O espectáculo iniciou-se com um pequeno monólogo de Argan, em que este organizava os pagamentos relativamente aos ‘alegados’ tratamentos. Após este episódio, Toinette (a criada cómica da família de Argan) entrou em cena julgando os comportamentos deste relativamente às doenças e alegando que este desperdiçava demasiado dinheiro em tratamentos irreais e acrescentando, ainda, que os médicos queriam enriquecer à sua custa.
Romances, equívocos, aventuras e muitas desventuras não faltaram neste espetáculo, na qual se destacou uma crítica ao comportamento oportunista e pouco profissional dos médicos no século XVIII.
Argan é obsessivo, patético, que não tem sentimentos por ninguém, egocêntrico, que exige a atenção de todos sem nada dar em troca e vive obcecado pela ideia da morte, que tanto receia.
Curiosamente, Molière, enquanto representava esta peça, sofreu um repentino colapso acabando por morrer poucas horas depois, na sua casa em Paris.