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Num pretérito imperfeito não muito longínquo, havia um grão de sal que vivia numa salina junto ao rio Tejo. Podia ser pequeno, mas tinha uma ambição muito grande: conhecer os quatro cantos do mundo. Contudo, os outros grãos que viviam no mesmo lugar faziam troça e desmotivavam-no dizendo:
- Qual é o sal que quer ir viajar pelos quatro cantos do mundo!? É muito melhor servir uma cozinha portuguesa que tem receitas muito originais e que faz bom uso de nós!


Porém, o pequeno grão ignorava-os e continuava a traçar uma saída para sair da salina e, assim, conhecer todos os continentes do planeta Terra. Pensou dias e noites, até que chegou à ideia de ir falar com o seu melhor amigo, o vento.
- Olá, ventania! – disse o pequenito.
- Boa tarde, sal! – respondeu o vento- O que te traz aqui?
- Quero que sopres e me tires daqui. – Pediu ele.
- Mas tu não tens medo? Não gostarias de ir para uma cozinha portuguesa? – interrogou o vento.
- O meu sonho é viajar pelo mundo e eu faria de tudo para o realizar! – afirmou o grão.
- Muito bem; amanhã, ao nascer do Sol, encontramo-nos no ponto mais alto da salina! – esclareceu o vendaval.
E assim foi. No dia seguinte estavam os dois reunidos para fazer a descolagem do grão de Sal. Fizeram a despedida e lá foi ele. No princípio, como o vento ainda estava forte, o grão foi projetado para muito longe e com muita turbulência, mas aos poucos foi-se acalmando e ganhando estabilidade no ar. A vista de lá de cima era incrível! Estava a observar a paisagem até que a ventania passou a ser só um ventinho e o grãozito começou a cair.
No momento em que aterra ele descobre que está numa pastagem à beira de um rio brasileiro. Depois de a explorar, encontra uma gotinha de água salgada e decide falar com ela:
- Olá, gotinha! Porque é que estás triste? – interrogou o grão.
- Bom dia! Eu estou assim, porque sou a única gota de água salgada aqui, todas as outras gotas são de água doce e eu sinto-me solitária. O meu desejo era sair daqui e viajar para outro lugar onde me aceitem!
Mal ela diz isso, surge uma ideia na cabeça do pequeno grão de sal:
- Poderias vir comigo!
- Para onde? – perguntou a pinga.
- Ainda não sei, contudo, o meu objetivo é visitar o mundo de lés a lés.
- Pode ser, pois faria tudo para ir embora! Mas como saímos daqui? -Interrogou a gotícula.
- É fácil! É só pedir ao meu amigo vento e...
As palavras do grão de sal foram silenciadas quando este percebeu que a ventania já não estava lá. Tinha sido rapidamente informada pela sua nova amiga de que o Brasil estava a passar por uma seca e não havia vento nem chuva há longas semanas. De seguida, a gota de água encontrou uma solução: conhecia a nuvem Strata, a única que conseguia estar no céu em todos os tipos de clima.
Mal a gota fala sobre Strata, subitamente, uma nuvem aparece à frente do grão, perguntando se alguém a chamou. A gota responde:
- Olá, Strata! Desculpa, ninguém te chamou, porém não vás embora! Preciso que me faças um favor.
- Claro.
O sal interrompe a conversa para lhe dizer que Strata tinha de os levar para o mar mais próximo. E assim foi. Seguindo até à foz do rio com a gota e o grão às costas, a nuvem chegou à praia. Depois de Strata se despedir dos dois e ir embora, o sal não demora a dizer para a gota deslizar e continua:
- Finalmente tens o que querias. Já podes ir disfrutar da companhia com as tuas futuras amigas: outras gotas salgadas!
- Mas e tu, grão? -perguntou a gotícula.
- Eu vou aproveitar a boleia de um barco que vai de volta para Portugal, pois já estou satisfeito. Fiz amigos pelo caminho, diverti-me e isto era na verdade o que eu mais queria. Poderia viajar pelos quatro cantos do mundo, mas sem amigos não teria a mesma piada. Nesta viagem, percebi que a amizade pode fazer tudo e isso é um poder que está ao alcance de toda a gente. Foi por causa disso que cheguei até aqui e estou muito grato, pois enchi o meu coração de alegria. Agora posso ir dar felicidade a outras pessoas servindo-as nos pratos portugueses. – declarou o grão de sal.
A gota ficou de boca aberta com tantas palavras bonitas e aceitou a decisão do seu pequeno amigo. Despediram-se, pois o grão tinha de embarcar. Agora, diz-se que a gota de água fez muitas amigas e que o grão de sal, o nosso pequeno herói, foi colocado num prato de bacalhau à Brás num restaurante Michelin.

 

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