Segundo a DECO, Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor, a inteligência artificial é a “ciência que simula a inteligência natural humana, dotando as máquinas, através de rotinas informáticas, da capacidade de resolver problemas e tomar decisões de forma autónoma.” Esta ciência tem vindo a registar um progresso notável nas últimas décadas e é um dos campos mais promissores da tecnologia, apresentando, assim, um enorme potencial, podendo ser aplicada em diferentes setores, se usada com moderação e equilíbrio e for regulamentada por um conjunto claro de leis.
Neste sentido, as potencialidades desta nova inteligência são inimagináveis, abrindo um leque quase infinito de possibilidades para o ser humano. Em primeiro lugar, pode-se destacar a sua ação fundamental no domínio da medicina. A IA permite a análise inteligente dos sintomas, o que além de otimizar o diagnóstico médico, reduz potencialmente as hipóteses de erros, quer através do aperfeiçoamento dos serviços de telemedicina, da utilização de robôs cirúrgicos e de assistentes virtuais em operações ou do desenvolvimento de equipamentos mais eficientes. Por exemplo, o algoritmo de previsão de aprendizagem profunda da Google diagnostica corretamente tumores 89% das vezes, enquanto uma equipa de patologistas especializada apenas oferece um diagnóstico preciso em 73% dos casos. Além disso, um conjunto de investigadores europeus desenvolveu um programa que utiliza a inteligência artificial para atender chamadas de emergência, que reconhece uma paragem cardíaca de forma mais rápida e com maior frequência do que um corpo médico, o que torna evidente os benefícios da sua utilização no âmbito em causa.
Em segundo lugar, este campo da tecnologia pode aprimorar significativamente a experiência do cliente nas mais diferentes áreas. Este método é já aplicado há várias décadas sobretudo pelas redes sociais, como o Instagram, o Facebook e o Twitter. A IA é capaz de analisar dados e informações em massa, de modo a encontrar padrões comportamentais nas atividades online dos indivíduos, o que torna possível a personalização de ofertas de determinados produtos ou serviços. Assim sendo, quando estamos interessados em adquirir, por exemplo, uma bicicleta, é frequente que comecem a surgir recomendações de inúmeros modelos e lojas onde podemos comprar este veículo. Não obstante, um estudo realizado pela Faculdade de Economia do Porto (FEP), mostra que mais de 15% das empresas envolvidas no inquérito fazem uso desta nova inteligência para melhorar a relação com os consumidores. A inteligência artificial pode, portanto, contribuir para a crescente satisfação dos clientes, ao oferecer uma experiência mais eficiente e personalizada de acordo com as preferências individuais.
Por outro lado, este campo da tecnologia apresenta, também, diversos pontos negativos que devem ser tidos em consideração. É de conhecimento geral que a IA traz consigo um vasto conjunto de implicações éticas, sociais e morais. Segundo as estatísticas averiguadas pelo Parlamento Europeu em 2017, mais de 88% dos europeus manifesta um grande receio quanto à utilização destas novas tecnologias, pelo que é imperativo estabelecer meios de controlo do seu uso. Já na década de 1950, Isaac Asimov dava a sua contribuição nesta discussão que envolve a IA, ao definir as três leis da robótica que, a seu ver, impediriam a situação catastrófica que se seguiria: um robô matar um ser humano. Fica, assim, patente a grande desconfiança que ainda envolve esta ciência, que, dependendo da lente utilizada, pode ser encarada como uma vantagem, já que nos salvaguarda de tragédias como a supramencionada, ou ainda como uma desvantagem, dado que pode impedir ou atrasar os progressos cada vez mais frequentes.
Não obstante, tal como qualquer outro sistema projetado pelo Homem, a inteligência artificial está sujeita a erros. Em dezembro de 2023, a Administração Nacional de Segurança Rodoviária (NHTSA), o órgão regulador da segurança do trânsito dos Estados Unidos, retirou do mercado mais de 2 milhões de veículos da Tesla, que apresentavam graves ameaças à condução segura, devido a problemas no sistema de condução autónoma (Auto Pilot ou FSD — Full Self-Driving). Estas falhas colocaram em risco a vida de milhares de pessoas, tal como se pode comprovar por um estudo realizado pela mesma entidade, que aponta que, desde 2019, foram registradas cerca de duas mil ocorrências envolvendo a marca de carros de Elon Musk.
Em suma, a inteligência artificial evidencia múltiplos benefícios que, se associados a uma utilização segura e controlada, podem vir a transformar o mundo da tecnologia tal como o conhecemos hodiernamente. No entanto, apresenta, igualmente, diversos riscos que não devem ser ignorados e que é necessário mitigar, de forma a que esta ciência tão vantajosa se torne unicamente uma força positiva para a evolução.