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“Quem me dera voltar a ser jovem!” ou “Aproveita enquanto és jovem!” são expressões que todos já ouvimos durante a nossa adolescência da voz dos mais velhos. Contudo, será este período assim tão incrível e invejável?

Para os jovens, esta fase da vida tem um certo sabor agridoce: se, por um lado, nos coloca diante de múltiplas portas que se abrem para o futuro, motivando o sonho, a imaginação e a criatividade, por outro lado, é também um momento de inúmeras reticências, de indecisão perante o próximo passo a ser dado e de dúvidas acerca da forma como deve a vida ser enfrentada nas suas múltiplas vertentes.
Contudo, quando se fala de jovens (e da nossa geração, em particular) existe um ponto que para toda a sociedade é consensual: esta geração é, sem dúvida, a mais qualificada de sempre, com maior domínio tecnológico e com grande abertura para a realidade envolvente, que se apresenta múltipla e diversa. A ideia de um “mundo global” veio para ficar – o longe fez-se perto, a informação sobre os mais variados temas está à distância de um simples toque num ecrã, a comunicação é instantânea, portanto, em poucas décadas, o mundo tornou-se pequeno perante tantas e tão rápidas alterações. Neste sentido, dado que os jovens são os “protagonistas do futuro”, é sobre nós que recaem os principais desafios.
Ao nível nacional, sendo o panorama económico, financeiro e político português dominado por relativa fragilidade, muito maiores são as barreiras e exigências que nos são impostas, o que nos obriga a repensar todas as escolhas e as consequências que estas poderão ter no futuro.
Em primeiro lugar, verifica-se que, cada vez mais, os adolescentes portugueses optam por frequentar cursos no ensino superior. A formação é vista pela nossa geração como um passo fundamental para a realização pessoal e profissional. Além disso, as próprias universidades esforçam-se por apresentar uma oferta formativa extremamente diversificada, que satisfaça cabalmente as expectativas dos alunos. Contudo, pode constatar-se que esta “banalização” do acesso ao ensino superior traz consigo efeitos adversos. Assim, com o aumento do número de pessoas formadas, o facto de se possuir um diploma deixou de ser sinónimo de “emprego garantido”, daí que, cada vez com mais frequência, se encontrem jovens recém-formados em situação de desemprego, sem oportunidades na área em que se especializaram. Portanto, enquanto no passado ter um curso indiciava alguma estabilidade, atualmente, à saída da universidade, segue-se, na generalidade, um longo período de busca de emprego, muitas das vezes, inglório.
Além disso, a independência financeira é também um dos pontos basilares na lista de prioridades dos jovens, apesar de esta se revelar, cada vez mais, uma utopia, pois, além de a maioria dos empregos apresentarem um carácter temporário, a remuneração deixa muito a desejar: no ano de 2022, apenas 3% dos jovens portugueses ganhavam mais de 1.600 euros mensais. Tais condições fazem com que a dita “geração mais qualificada de sempre” veja no estrangeiro uma alternativa, o que leva muitos portugueses recém-formados a emigrar para países onde o seu mérito e talento é verdadeiramente reconhecido. Por outro lado, aqueles que por cá ficam vão lutando contra ventos e marés, vendo-se obrigados a permanecer em casa dos pais, pois entrar no mercado de arrendamento imobiliário (já para não falar em compra) afigura-se uma autêntica missão impossível.
Por outro lado, a construção de uma família estável por parte de um casal jovem é uma imagem que, gradualmente, vai fazendo parte do passado. No entanto, atendendo ao panorama do país, este cenário não é surpreendente. Como é que alguém pode criar e sustentar uma família quando tem dificuldades para se sustentar a si próprio? Pode alguém querer ser pai quando depende ainda dos próprios pais? Por muito que nos custe admitir, os pássaros sem asas não voam e os jovens portugueses têm-se vindo a tornar verdadeiros pássaros sem asas.
Concluindo, este é o retrato de uma geração que, apesar de competente e profissional, vê todo o seu potencial derramado num país sem oportunidades, onde, como já Fernando Pessoa dizia, “Tudo é incerto e derradeiro/ Tudo é disperso nada é inteiro”, é este contexto que faz os jovens olharem para o futuro e verem apenas a dúvida e a incerteza. Mesmo assim, conservemos o ânimo, continuemos a lutar, pois de uma coisa temos a certeza: baixar os braços não é solução.

 

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