A necessidade de comunicar e expressar os sentimentos é uma característica intrínseca do ser humano. Já desde o século VI a.C. que a arte teatral acompanha a vida dos homens, complementando-a, enriquecendo-a e resistindo à passagem do tempo.

Em primeiro lugar, considero que assistir a uma peça de teatro leva-nos a um encontro com nós próprios, desencadeando uma intensa atividade reflexiva acerca da nossa essência. Em palco, expõe-se a beleza e a fealdade, o humano e o inumano, o luxo e a pobreza, o autoritarismo e a humildade. Assim, todos os sentimentos afloram, ficando cada um de nós envolto nesta névoa de emoções tão consternadora quanto prazerosa, que só o teatro nos pode fazer sentir. É impossível ficar indiferente, por exemplo, à encenação da peça “Ensaio sobre a cegueira”, a qual acrescenta dinamismo e ênfase ao próprio livro, permitindo-nos viver mais intensamente cada momento da ação.
Por outro lado, na minha opinião, o teatro corresponde à mais completa forma de arte que conhecemos. Pôr uma peça em palco é uma árdua tarefa que requer tempo e esforço por parte de múltiplas entidades, dos mais variados ramos artísticos. Veja-se, por exemplo, a peça “Volta ao mundo em oitenta minutos”, encenada por Filipe La Féria, cujos oitenta minutos de apresentação envolveram uma preparação de, aproximadamente, um ano, sendo um espetáculo que engloba a escrita, o cinema, a música, o bailado e a acrobacia.
Finalmente, esta arte representa, também, uma forma de união entre as pessoas, condição cada vez mais essencial num mundo dominado pela guerra e pelo afastamento. Tomemos como exemplo um grupo de atores da cidade ucraniana de Mycolaiv que, apesar do ambiente bélico vivenciado, construíram um abrigo subaéreo, onde continuam a interpretar as suas peças. Deste modo, tal como o ator francês Jean-Louis Barrault referiu “o teatro é o primeiro soro que o homem inventou para se proteger da doença da angústia”.
Concluindo, o papel da arte teatral permanece imutável, sobrevivendo à erosão do tempo, mantendo a beleza, complexidade e encanto, continuando a alegrar-nos e a fazer-nos refletir porque, de facto, o teatro será sempre o lugar onde o ser humano se completa e descobre a sua essência.