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Manuel Calheca é um homem baixo, tem cerca de um metro e sessenta de altura, nasceu em 1951 e tem 59 anos. É carpinteiro. Durante o trabalho perdeu grande parte do polegar e o dedo médio, mas isso não o impediu de viver normalmente até porque este não possui grandes condições monetárias e a carpintaria é o único meio de se sustentar.

                Para agravar a situação é divorciado. Mora, sozinho, na rua do tombo, em Pinela, numa casa pequena. A fachada da frente é feia e tosca. É revestida por azulejos amarelos com um padrão de flores cor vermelhas, tem duas janelas e uma porta. No andar de cima encontra-se o quarto do carpinteiro, o qual tem acesso a uma varanda. A cave é pequena e húmida, serve como adega. Lá encontram-se dois grandes barris de carvalho onde Manuel passa grande parte do seu tempo a fazer vinho, tarefa que ele gostava de realizar sempre, porém o destino não lhe permitiu isso.

                Acorda todos os dias às 6 horas da manhã para ir trabalhar para Bragança, faça chuva faça sol. A sua carpintaria localiza-se na rua do Loreto, a qual herdou do seu pai. É bem equipada e de grandes dimensões. Possui dois andares, janelas grandes antigas e duas enormes portas brancas que permitem uma fácil locomoção do seu pessoal, apesar de não serem muitos. Um deles é João da Silva, homem forte, alto e barbudo. É o elemento mais novo da carpintaria. Trabalha bem e é dedicado. Francisco é o oposto. Não gosta nada de trabalhar, sendo preguiçoso. Quando se desmotiva arranja sempre maneira de convencer Manuel a beber uns copos e este, de espírito fraco, cede. “Nunca se recusa uma bebida com os amigos”, diz o dono da carpintaria para arranjar uma desculpa para escapar também ao trabalho. Ao contrário destes, o “Ferrinhos” não pode ingerir álcool. Sofre de uma doença crónica que faz com que seja extremamente magro e mórbido, tendo uma cara ossuda. Porém possui uns olhos azuis radiantes. Ninguém sabe o porquê da alcunha “Ferrinhos”, nem sequer Manuel, que é um amigo de longa data. Faria mais sentido se lhe chamassem de “Pauzinhos”, visto que este é carpinteiro. Por fim Albano Barros é quem trata do fornecimento de material para a carpintaria, gere boa parte do negócio, apesar de Manuel não lhe pagar mais por isso. Fá-lo com compaixão, sendo de quem abre a carpintaria, quando o patrão está de ressaca.

                O passado de Calheca tornou-o no homem de hoje. O pai era alcoólico, batia na mulher e no filho. Manuel possuía dois irmãos, sendo ele o do meio. Ambos morreram de hepatite A, ainda novos. Muitas vezes, o filho era induzido pelo progenitor a beber, ainda menor de idade. Os anos passaram, Manuel ajudou-o sempre na sua carpintaria sentia que, apesar do clima vivido em casa, tinha a obrigação de o fazer até porque trabalhar com madeira era interessante, dizia ele. Uma vez, nos seus anos o seu guardião fez um carrinho de madeira para o filho, foi um ato de ternura. O pai não era mau, o álcool é que o punha naquele estado de irritabilidade, dizia ele. Até aos dias de hoje, Manuel guarda o presente no seu quarta, em cima da mesa de cabeceira.

                Era uma quarta-feira, Manuel preparava-se para ir para a carpintaria. Estava muito frio para se deslocar de moto, porém o vinho ajudava-o na viagem. Antes de partir foi à sua varanda vislumbrar mais uma vez a aldeia de Pinela. Estava nevoeiro, não era possível apreciar grandes paisagens. Um pequeno encosto contra o parapeito de madeira fez com que este cedesse facilmente e se espatifasse no chão.

                - Ora! Lindo serviço! Agora tenho não só de tirar aquilo da rua, mas como também substituir esta madeira poder.

                Nunca compôs aquilo. Como se costuma dizer, casa de ferreiro espeto de pau, neste caso aplicar-se-ia melhor ao contrário, casa de carpinteiro espeto de ferro.

                Chegou ao trabalho atrasado, já lá estavam os seus homens.

                - Bom dia, Manuel! – gritou Albano Barros – Pensei que estivesses ressacado outra vez, homem.

                - Não. Caiu-me o parapeito da varanda, tive de tirar os restos da estrada.

                Espreita para dentro da carpintaria, não avista o “Ferrinhos”.

                - Bem vou andando, tenho de ir falar com um cliente que diz que um móvel que fizeste está montado do avesso – disse Albano.

                -  Ah… Olha, então e o “Ferrinhos” que terá? Não chegou ainda, pois não? – disse Manuel

                - Pois de momento não meteu cá os pés … Posso passar pela casa dele antes de ir ter com o cliente, que dizes?

                - Faz isso, se faz favor. – responde Manuel nervoso.

                Estava com receio de que o estado do seu amigo tivesse piorado, pois ele já havia sido internado uma vez.

                Era meio dia e meio, os homens preparavam-se para ir almoçar, quando aparece Albano Barros na carrinha e a estaciona furiosamente. Desce rapidamente dela e diz:

                - O “Ferrinhos” foi internado de urgência! O estado dele piorou.

                - Era só o que me faltava para arranjar o dia! -  Disse Manuel – De manhã quase que me mato e agora recebo esta notícia?

                - Devíamos ir vê-lo ao hospital. – Disse Francisco.

                - Concordo – retorquiu o Mauro.

                Entraram três elementos na carrinha, enquanto que o Francisco foi com Manuel na sua mota. Quando lá chegaram não lhe foi permitida a visita.

                - Quero ver o meu amigo! – gritou Manuel.

                - Desculpe, mas neste momento o paciente encontra-se em estado grave, portanto os médicos estão a tratar cuidadosamente dele. O máximo que lhe posso garantir é que espere que eles terminem.

                Manuel emudeceu, sabe que não o pode ver de momento. Vai para ao pé dos outros, que ainda se encontram na sala de espera e diz num tom deprimido:

                - Hoje não se trabalha mais.

                Houve um silêncio momentâneo.

                - Bem, se me dão licença, tenho de ir dar de almoçar à minha filha – Disse João.

                - Também vou andando. Queres boleia, João? – perguntou Albano.

                - Sim, se faz favor.

                - Com todo o respeito pelo “Ferrinhos”, mas também tenho afazeres. Até logo … Ah é verdade, Manuel, se quiseres podemos ir beber um Favaios, para relaxar. Vens ter a minha casa quando te despachares…

                Manuel nem respondeu nem olhou para Francisco. Era como se tivesse morrido interiormente. Apenas ficou o Mauro a fazer companhia.

                - Se o señor quiser posso ir buscar almozo a un restaurante – Disse o empregado, misturando português com espanhol.

                - Obrigada, sim podes ir. És mesmo boa pessoa.

                Eram as 11 horas da noite, Manuel estava sozinho na sala de espera a dormir. Acorda de repente com um pesadelo. Sonhou que alguém caia da sua varanda, agora estragada. Lembrou-se subitamente que tem de compor aquilo. Passaram mais de 10 minutos, quando uma enfermeira se acercou ao pé dele a dizer que já pode ir ver o seu amigo. Quando chegou ao seu quarto lá o avistou. Estava com uma máscara de oxigénio. Manuel sorriu ao vê-lo a respirar. Aí permaneceu uns poucos minutos, até que a enfermeira pediu que saísse, pois as visitas têm de ser breves. Foi para casa.

                Algumas semanas se passaram e Manuel ia todos os dias visitar o amigo. A carpintaria não passava do mesmo. Eram meia dúzia de gatos pingados, que neste caso nem a meia dúzia chegavam, a realizar serviços para semanas de trabalho a fio, isto é, com bons empregados. Os funcionários de Manuel não eram os melhores. Francisco passava pelo menos duas horas no café da frente a beber. Dizia que não tinha vontade de trabalhar e só queria alguém para conversar.

              - Eu não te pago para estares no café a embarcares cervejas! – gritou uma vez Calheca. Lá no fundo sabe que se o despede é menos um elemento que trabalha, por pouco que seja.

              Ao contrário deste está o Mauro empregado convicto e empenhado. O único defeito dele, diz Calheca, é que não é muito experiente. Houve uma vez em que numa peça de mobiliário de cozinha colocou as fechaduras na parte de dentro da mesma, uma burrice de todo o tamanho, que fez com que toda a gente se risse porém a peça havia ficado inútil, sendo desperdiçada.

              Outro que quase nunca cortou uma madeira é Albano Barros. Está sempre “ocupado” com os fornecedores e a dar orçamentos aos clientes. Uma vez informou que ia para o escritório falar com o provisor de ferramentas. Ficou lá pelo menos umas três horas, a conversar, até que Manuel estranhou e decidiu verifica-lo. Quando chegou viu o seu empregado a dormir na cadeira. Na verdade o som de conversa que ouvia era uma cassete que ele havia colocado para repetir infinitamente para enganar Calheca.

              - Albano, mas o que é isto?! – gritou Manuel.

              - Ah desculpe! Que susto! É que ontem eu não dormi nada bem…. Comi algo que me deixou mal disposto.

              Mais uma vez o dono da carpintaria sabia bem que teria de o desculpar, é o elemento chave daquilo, o coração dali. Não o podia despedir, até porque Calheca nem sequer um fax sabe mandar.

              O único indivíduo perfeito que nunca faltou, sempre foi assíduo e trabalhador é João. Esse sim faz serviço de muitas pessoas, mas isso tudo escava prestes a acabar. Era uma quinta-feira, faltavam poucos minutos para almoçarem, quando de repente João pega em dois grandes pedaços de mogno em forma de paralelepípedo e começa a emitir ruídos com os mesmos.

              - Peço atenção a todos muita atenção aqui. Francisco desliga a plaina se faz favor. – Pediu ele – Como vocês sabem sou pai de uma menina. Adoro-a até o fundo do meu coração, tal como vos adoro.

              - O que é que vem a ser isto? – Disse Albano entre dentes.

              - Com isto quero dizer que foram excelentes doze anos de trabalho convosco, não é assim tanto tempo, mas foram de qualidade. Obrigado Albano, pelas vezes em que me deste boleia até casa. Obrigado, Mauro, por me teres apoiado nos piores momentos. Obrigado, Francisco, pelas noites passadas juntas no bar e obrigado ao melhor patrão que já tive, por ser tão simpático e humilde. Assim sendo, hoje é o último dia em que trabalho convosco.

              Mal João disse isto, os olhos de Manuel começaram a arregalar. Sabia bem o que as palavras dele queriam dizer. O seu melhor empregado estava a anunciar o seu despedimento. A carpintaria ia de mal a pior, pensou ele. Menos dois elementos, o João e o “Ferrinhos”, que seria dele?

- Bom, foram muito boas palavras da tua parte, João. Poderia vir comigo ao escritório, por favor! – Perguntou Manuel.

              Deslocaram-se até lá, rapidamente sem ninguém ver. João tinha uma expressão facial constrangida.

              - Estás-te a despedir, não estás, filho? – Perguntou Manuel.

              - Sim senhor, lamento informar, mas é verdade. Recebi uma ótima proposta de emprego em Espanha. Eu sei que não é um despedimento por justa causa, mas peço que…

              - Vamos mas é tratar do assunto – Interrompeu o patrão – Mas antes vamos almoçar todos, para nos despedirmos e pago eu.

              - Não senhor, sou eu quem vai embora, deixe-me pagar.

              Saíram do escritório e foram ter com o resto do pessoal.

              - Vamos almoçar ao “Matilha”, sou eu quem paga! – Disse João.

              - As francesinhas de lá só sabem a manteiga – Murmurou Albano.

              Ao fim do dia Manuel deslocou-se até casa. Os risos que deu ao almoço eram falsos, estavam a recordar bons momentos, mas receia que este acontecimento seja o fim do seu negócio. Nunca se sentiu tão derrotado na vida. Foi para a cave beber do seu vinho e por lá adormeceu, no cadeirão.

              Um mês se passou, a carpintaria movia-se agora a carvão. Até Albano trabalha nas madeiras, para ver se adiantava trabalho. Manuel até tentou contratar pessoal, mas não há quem queira ser carpinteiro. Certo dia, depois do trabalho, como sempre, Manuel apeou-se em ir ver o seu amigo ao hospital. Quando lá chegou recebeu a triste notícia de que ele tinha morrido. Foi uma nova fatal, o carpinteiro até se sentiu mal. Não foi ao seu funeral, não gosta dessas coisas. Tudo o que nos faz ser, também nos faz chorar, disse ele.

              Manuel ficou tão deprimido que fechou a carpintaria durante três meses. Passou este tempo todo a refletir na vida e a aprimorar o seu vinho, o qual finalmente engarrafou.

              Os primeiros dias de reabertura foram normais, Francisco estava diferente, agora raramente ia para o café beber. Talvez a morte de “Ferrinhos” o tivesse chamado à atenção. Manuel e Mauro também estavam a trabalhar quando chega Barros.

              - Acabei de vir de Donai, temos uma encomenda muito especial – Disse Albano.

              - Então? O que me contas? – Perguntou Manuel.

              - Uma senhora rica acabou de nos encomendar uma cozinha toda em faia! Para que conste, o material deve chegar ainda menos hoje. Ela propôs uma gorjeta, caso se entregue este mesmo mês.

              - Caramba! Cozinha em faia! Nunca trabalhei com essa madeira, mas dizem que é boa e cara. De quanto estamos a falar?

              - Um milhão de escudos, se entregarmos este mês.

              Os olhos de Manuel encheram-se de alegria, quase que tinha um enfarte.

              - Um … – murmurou Manuel – Parem tudo! Descansem, por enquanto, temos muito que fazer!

              Brindaram e conversaram até à chegada do material. A partir daí, Manuel ia trabalhar, sozinho, até aos domingos.

              Num certo dia consagrado ao descanso, enquanto o dono da carpintaria trabalhava decidiu beber um pouco do seu vinho, porém acidentalmente deixou cair uma gota numa peça de faia e esta começou a estremecer. Mandou-lhe uma martelada, que a desanimou. Perplexo volta a entornar, desta vez, propositalmente o líquido na tábua e esta estala e salta de novo. Pensou nos engenhos possíveis que poderia construir a partir daquilo.

              Deixou a cozinha de lado e em menos de uma semana construiu um guindaste para levantar peças de madeira pesadas, para as colocar na carrinha. Era bastante grande e reforçado. Tinha um reservatório onde era colocado o vinho, o qual por sua vez, por meios hidráulicos, Manuel fazia abrir ou fechar válvulas, para que o líquido roxo se impregnasse em determinados locais, reagindo assim a faia, movimentando o aparato. Para testar aquilo chamou os seus homens, pediu que arrastassem para fora da carpintaria um móvel que guardava ferramentas. Era colossal, feio de freixo. Ao amarrá-lo no guindaste, Manuel manobrou-o de forma a que o levantasse para colocar na caixa da carrinha. Porém quando este puxou um pouco mais pelo guindaste, toda a estrutura ruiu e se espatifou no chão, porém o móvel ficou intacto.

              Nesse mesmo dia ao voltar para casa reparou no carrinho de brincar que o seu pai lhe havia dado. Surgiu-lhe outra ideia.

              No dia seguinte levantou-se ainda mais cedo para ir trabalhar no seu novo projeto, um robô que o iria ajudar a trabalhar. Era obviamente de faia com um pequeno tanque nas costas para colocar o vinho. Era perfeito e seguia as ordens de Manuel, o relógio marcava as oito horas da manhã e Francisco foi o primeiro a chegar.

              - Olha, Chico! Bom dia, já agora. Não é espetacular?

              O pequeno robô ia cortando e lixando as madeiras de forma extremamente rápida.

              - Que raios é isso?

              - Uma criação minha que nos ajudará muito a concluir as nossas encomendas! E há mais não tenho de lhe pagar ao fim do mês. Só há um porém, para funcionar tenho de lhe dar do meu vinho …

              - Vinho?! – Interrompeu o outro. – Caramba, mais vale sustentar um burro a pão de ló! Estou a brincar. Mas olha, acho que também preciso de beber para trabalhar, mas não do teu produto, esse não vale nada.

              - Vá, deixa-te lá de brincadeiras e vai trabalhar, o meu vinho é bem bom.

              Estava tudo a correr tudo perfeitamente, todos os da carpintaria adoravam o robô, achavam-no engraçado e bebia pouco. O Mauro até lhe deu um nome R.A.T.M.A.V. (Robô Automático Totalmente Movido a Vinho). Por vezes até era possível irem uns dez minutos para o café descansar, enquanto que o artefacto trabalhava.

              - Acho que te vou despedir. Francisco, trabalha bem mais que tu – Disse Manuel.

              - Achas que um robô de madeira alcoólico trabalha melhor que eu?! Ele nem personalidade tem. Olha que não somos assim tão diferentes.

              Faltavam três dias para o mês acabar, o R.A.T.M.A.V. ficava na carpintaria todas as noites e por vezes até a adiantar serviço. A tal cozinha estava quase pronta, eram necessários apenas dois armários para terminar.

              - O que é que acontece se eu derramar este copo do seu vinho nesta bancada? – Perguntou Francisco.

              - Está quieto! – Disse Manuel – Sempre a brincar, sempre a brincar até um dia em que aconteça algo de errado. Tu sabes bem o que ia ocorrer, a madeira ia pôr-se a estalar toda arruinando o trabalho inteiro.

              Eram as sete e meia da noite, estavam-se todos a preparar para ir para casa, quando Manuel tem uma ideia:

              - E que tal irmos todos ao “Matilha” jantar? Pago eu, para comemorarmos esta vitória.

              - Parece-me bem! – Disseram o Mauro e o Francisco em coro.

              - Lá vamos nós outra vez às francesinhas amanteigadas. – Murmurou Albano.

              Note-se que a cozinha ainda não estava pronta. Aquelas duas peças eram ainda grandes, trabalho para um dia, pelo menos e isto com a ajuda do robô. Talvez Manuel estivesse a festejar cedo demais… A decisão do dono da carpintaria fez com que o pequeno ajudante quisesse ir também, não parava de chiar e fazer barulhos ao pé de Manuel.

              - Que foi filho? Queres vir? Anda lá então, sempre és uma companhia.

              Foi um bom jantar, menos para Albano, que teve de comer bife queimado. O robô foi preso por elásticos à mota de Manuel. Chegaram os dois bem a casa, o artefacto nunca tinha saído da carpintaria.

              - Põe-te à vontade, vou descansar um pouco na sala.

                Mal Manuel acabou de dizer isto R.A.T.M.A.V deslocou-se para o fundo do corredor. Passaram-se 15 minutos, o carpinteiro estava lá a ver televisão, quando de repente ouve um barulho abafado de vidro a partir. Levanta-se sobressaltado e verifica todas as divisões, menos a cave, não avistou o robô.

                - R.A.T? – Perguntou Calheca assustado.

                Quando liga a luz, reparou que este estava imbesuntado no seu vinho, as garrafas estavam todas espatifadas no chão e o artefato estava completamente fora de si.

                - Anda para aqui, tem calma. – Disse o patrão.

                As suas palavras não adiantaram em nada, pois a criação do carpinteiro, energético como estava subiu as escadas, com a sua pequena roda, como se não houvesse amanhã. Manuel não foi capaz de o acompanhar, só soube que subiu até ao seu quarto. quando lá chegou R.A.T.M.A.V estava na outra ponta. A porta da varanda estava aberta.

  • Anda devagar até mim, tem calma.

                Quando acabou de dizer isto, uma rajada de vento entrou no quarto, fazendo derrubar o carrinho de madeira de Manuel. consequentemente, o pequeno robô assustou-se, acelerando ao máximo que podia, para trás, até que caiu com estrondo na rua.

                - Ai meu Deus! O parapeito da varanda, esqueci-me completamente de o arranjar!

                Manuel desceu até à rua, estava todo despedaçado, a roda foi parar ao fundo da rua, os dois braços estilhaçados.

                - É a vida – Disse Manuel.

 

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