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Todos já sentimos alguma vez a pressão da sociedade para sermos conhecidos. Seja através do sucesso financeiro, profissional ou mesmo pessoal, temos sempre de ser superiores e vencer os outros. Isto é, de forma implícita, ensinado na escola, através d’”Os Lusíadas”, já que apenas a fama ou a elevação do herói permite aceder ao bem supremo dos deuses, que é a imortalidade.

Chegamos, até, ao ponto de nos expormos, por vezes demasiado, nas redes sociais para deixar as nossas pegadas no mundo. Só que há um aspeto importante da vida que faz ruir todas as crenças anteriores ao pó... Tu não importas.

É das epifanias mais refutadas nas campanhas anti-suicídio... A verdade é que cada um de nós é único e vai morrer. Se tivermos a sorte de sermos amados durante o nosso curto percurso, continuaremos, de certa maneira, a existir nas recordações daqueles que nos eram mais próximos. Se chegarmos um pouco mais longe do minúsculo ponto no minúsculo planeta e deixarmos para trás, por exemplo, uma obra científica, sonora, artística, escrita ou humanista que nos caracterize, poderemos tocar milhões, mesmo depois de assassinados e enterrados pelo tempo. 

No entanto, o conceito de imortalidade continua a falhar, visto que a lembrança e os feitos são fragmentados e incompletos. Apenas nós sabemos quem somos e a visão dos outros não chega, sequer, a rasar a superfície da nossa galáxia interna. Para além disso, o facto de a humanidade estar condenada à extinção devido ao fim do Universo, senão mais cedo, através de um Big Crunch, Freeze ou Rip, evidencia a destruição iminente de cada ato, livro, folha, palavra, nota e pensamento. Albert Camus, um dos maiores filósofos do século XX, desenvolveu o conceito de absurdismo: nós, seres humanos, estamos constantemente à procura de significado e importância num cosmos sem propósito, que parece indiferente à nossa busca e ao nosso sofrimento, o que leva a sentimentos de injustiça, bem como de tristeza e depressão. Em resumo, não somos nada, nunca seremos nada.

Mas quererá isto dizer que devemos cair no niilismo? Pararmos e deixarmos passar o rio? Não, pois o facto de os nossos feitos e, por extensão, os nossos erros não importarem confere-nos uma grande sensação de liberdade. Em vez de nos guiarmos pelos outros ou nos prendermos a uma religião cabe-nos a nós, e só a nós, decidir os aspetos da nossa vida: se queremos ser famosos ou levar uma vida pacata, que trabalho queremos ter no futuro, a nossa perspetiva política e ideológica (seja ela democrática, republicana, socialista, comunista, niilista, inclusive, epicurista, estoicista, um pouco das duas, monarca, anarca, fascista ou mesmo nazi). Convém, claro, ter a mente aberta para os conselhos dos outros, mas nunca, mesmo nunca, aceitar imposições. Pode, até, escolher ignorar toda esta paranóia e seguir em frente. Afinal, nada importa.

 

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