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É voz corrente que em relação à pontualidade os portugueses deixam muito a desejar, sobretudo quando a comparação é com países como Inglaterra, cuja atitude é meticulosa em relação ao tempo.

Portugal sempre foi também considerado menos desenvolvido em relação a outros, no que toca à cultura e economia.  Estará isto relacionado com a maneira como os portugueses gerem o seu tempo? Talvez não exista relação direta, mas a verdade é que a acumulação de atrasos poderá resultar em menos produtividade.

Os portugueses parecem habituados a chegar sempre tarde como se isso fosse um defeito inevitável: os comboios raramente partem a tempo, os relógios apresentam horas diferentes,  raramente somos atendidos à hora marcada no médico, dificilmente uma conferência começa à hora estabelecida. A falta de pontualidade parece, então, normalizar-se e a pontualidade é esquecida como uma qualidade, ao contrário do que muitos afirmam. Alguns dados confirmam a falta de pontualidade e mostram que ela pod, de facto afetar a produtividade:  30 % dos portugueses não tem o hábito de utilizar uma agenda para gerir o seu dia de trabalho; 60 % dos portugueses agenda mais tarefas do que aquelas que sabe que conseguirá cumprir; 2/3 das reuniões no nosso país não começam à hora marcada; 1/2 das reuniões não cumpre os objectivos propostos; 80 % das empresas vê o seu negócio ser prejudicado pelo incumprimento dos prazos.

Estando esta situação normalizada, sei que se estiver atrasada para um evento, não há problema, já que os pontuais esperam sempre, é como se não chegar a horas fosse uma tradição a manter, como o chá das cinco (que em Portugal começará sempre às cinco e tal…), ao contrário do que acontece com, por exemplo, os britânicos.  A este respeito há uma questão que se pode colocar: são os ingleses pontuais porque as suas cidades estão repletas de relógios ou estas têm muitos relógios porque os seus habitantes são muito pontuais? Ou será a proximidade com Greenwich que influencia esta tendência?  A verdade é que, como  os ingleses sempre foram conhecidos pela sua pontualidade, o atraso de alguns minutos pode ser considerado bastante deselegante, para muitos deles. Faz, por isso, sentido que um dos relógios mais famosos  se encontre no Reino Unido, o notável “Big Ben”. Este foi construído em 1858 e contém quatro enormes relógios em cada uma das suas faces. Os britânicos contam com o “Big Ben” como horário oficial. Para onde quer que se olhe, há um sempre um relógio à espreita, quer seja antigo, moderno ou mesmo eletrónico.

A pontualidade britânica não só representa os ingleses como organizados, como também produtivos, já que utilizam esse tempo para realizar outras tarefas. Profissionalmente, se o trabalho começa às 9h, ninguém chega às 9h05, ou seja, é importante estar no sítio marcado antes do combinado e nunca depois. Não há nenhuma perda de tempo, apenas produtividade e organização do mesmo. Esta é, de facto, a imagem que o mundo tem deste povo. Mas será ela ainda verdadeira ou será mais um mito urbano? Um estudo realizado em Inglaterra afirma que 63% dos ingleses chegam atrasados aos seus compromissos.  Isto significa que a pontualidade britânica é um estereótipo desatualizado?

A questão que se coloca é: por que motivo se chega recorrentemente atrasado? Num estudo desenvolvido por Jafarpour e Spiers, publicado em 2016, conclui-se que quando os homens desenham mapas ou fazem juízos de valor acerca do tempo de viagem, as suas respostas são pouco precisas. Conclui-se, ainda, que quando familiarizados com determinado espaço têm tendência para subestimar o tempo que demoram a chegar até ele. Isso mostra que, no caso de compromissos considerados de rotina, o cérebro tem dificuldade em calcular o tempo e acaba por conduzir à ideia de que mais 5 minutos não vão impedir ninguém se chegar a tempo naquela situação. A culpa do atraso será então de um GPS mental e temporal que temos? Há também quem defenda que as pessoas com mais tendência para atrasos são mais otimistas, distraídas, descontraídas. Ou então a justificação reside na quantidade de tarefas que têm em mãos. Serão então os menos pontuais mais criativos e produtivos?

Por outro lado,  ser ou não ser pontual é na verdade uma opção. Depende de cada um escolher ignorar o despertador,  não sair de casa mais cedo apesar de se saber que àquela hora o trânsito é caótico, demorar porque é necessário escolher a roupa para vestir ou arrumar a mochila da escola antes de sair de casa. As pessoas pontuais são organizadas, anotam na agenda as tarefas e, no caso da agenda do telefone, usam lembretes para programarem antecipadament as tarefas e os percursos que necessitam de realizar para as concretizarem.

E tu o que pensas? Será a Inglaterra assim tão competente ao contrário dos portugueses ou será que o Reino Unido tem falhas de atraso como acontece em Portugal?

 

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