Faltam dois minutos para a meia-noite. Não precisa de olhar para o relógio ou puxar do telemóvel para me desmentir. Estou a falar do Relógio do Juízo Final (Doomsday Clock) que surgiu em revista pela primeira vez em 1947, no “Boletim de Cientistas Atómicos” e é mantido desde então pelos diretores da revista da Universidade de Chicago. O dispositivo é uma metáfora para a proximidade da humanidade do apocalipse global, representado pela meia-noite.
Deste modo, o movimento das agulhas é influenciado pelos fatores de risco que determinam a perigosidade do mundo. Atualmente, o risco encontra-se bastante elevado, o que justifica a distância de apenas 2 minutos para a meia-noite, devido, como se pode ler na página do Jornal Económico, de 10 de fevereiro, “ ao colapso dos tratados de controlo de armas, à intenção dos EUA e da Rússia em modernizarem os respetivos arsenais de armas nucleares em vez de procurarem a desmantelação e ainda à falta de vontade política em combater as alterações climáticas.” Esta gravidade pode justificar a posição do gestor e presidente do boletim referido num artigo que intitula “A new abnormal: It is still 2 minutes to midnight”
Aquando do seu surgimento em revista, o relógio marcava 7 minutos e foi evoluindo ao longo do tempo: no início da Guerra Fria, durante a corrida ao armamento de 1949, aproximou-se da meia-noite até aos três minutos, em 1962, durante a crise dos mísseis de Cuba poderá ter atingido a seu auge fixando o ponteiro a um minuto da meia-noite, mas o fundador editor Eugene Rabinowitch não moveu as agulhas do relógio. Os tempos sucedem-se, 17 minutos em 1991, com o fim da Guerra Fria, 7 em 2002, devido às preocupações que surgem após o 11 de setembro, 5 em 2007, com a ascensão da Coreia do Norte e 2 em 2018, distância a que continuamos neste momento e que parece ser das mais curtas de sempre.
Esta visão metafórica do fim do mundo foi adotada por diversos meios culturais, nomeadamente em livros como “The Impostor” de Helen McCloy, novelas gráficas como “Watchmen”, transposta para série e recentemente estreada no serviço de “streaming” da HBO, e séries como “Dr. Who”. Referências ao relógio podem, também, ser encontradas na música, em bandas como The Clash, coevos da era nuclear, The Who e Iron Maiden, nas respetivas canções “The Call Up”, “Why Did I Fall for That?” e “Two Minutes to Midnight”.
Ligações:
O portal do Boletim: https://thebulletin.org/
Trailer da série Watchman: https://bit.ly/2WBwuU4
Dr Who: https://imdb.to/2JMFOzl
Comunicado do Presidente e Gestor do Bulletin of the Atomic Scientists:
https://thebulletin.org/doomsday-clock/current-time/#