Nervosismo? Ignorância? Sentido de humor? Irreverência? O que está na origem dos variadíssimos disparates que os alunos escrevem em situações de avaliação? Se por um lado o que dizem choca por espelhar uma ausência de conhecimento inadmissível na sua idade e situação, por outro contribuem para momentos de boa disposição. Recolhemos alguns desses disparates na internet e junto de professores da escola e não resistimos a partilhá-los convosco. Aqui ficam, então. Boas gargalhadas.
Sabiam que “o heterónimo de Fernando Pessoa, Ricardo Reis, passava a roupa a ferro”, que havia uma “corrente artística denominada “ pintelhismo”” ou que “o destino do “Senhor dos Paços” é o Terreiro do Paço”? E que “os açores tinham sido colonizados pelos “flamingos” e pelos “almaricanos”, que “a Cabo Verde chegaram os “ finlandésios”, que “a União Nacional “ era o livro de Salazar com as ideias dele”, que a PIDE “prendia os que estavam contra o estado novo e tristurava-os” e “perseguiu Galileu”?
Também não sabiam, com certeza, que existe “uma religião em que as pessoas têm muita fé e são os” giobás””, que o povo de Israel tem muitos problemas pois adora um deus chamado Alá”, que um “cubridor “ é aquele que vai cobrar os impostos”, que “ o coração é o único órgão que funciona 24 horas por dia”, que “as aves têm um dente na boca que se chama bico”, que “ a terra se vira nela própria e que esse difícil movimento se denomina arrotação” e, ainda, que “o tigre-de-bengala é um animal do circo”.
Há ainda quem nos ensine que um “Terramoto é um pequeno movimento de terras não cultivadas”, que “o problema fundamental do terceiro mundo é a superabundância de necessidades”.
A literatura é um dos terrenos mais férteis, pelas múltiplas interpretações que permite. Os alunos dão largas à sua imaginação e defendem que uma frase como “se o mar tomara exemplo nos rios, depois que Ícaro se afogou no Danúbio, não haveria tantos ícaros no oceano”(Padre António Vieira) significa que “se o mar tomasse exemplo nos rios não haveria tantos ícaros no oceano, porque os ícaros só sobrevivem no mar salgado” ou també pode querer dizer que “como o mar deriva dos rios e como Ícaro se afogou num rio, apenas um Ícaro havia no Oceano, ou seja, Ícaro não se divide, não se multiplica, porém a água que corre nos rios e vai desaguar no oceano também não se multiplica, mas irá percorrer um percurso contrário ao de Ícaro”…
Se passarmos por “Frei Luís de Sousa”, há quem afirme que “a ação do último ato decorre nas partes baixas de D. João”.
Também Fernando Pessoa potencia uma grande variedade de interpretações, como aconteceu num dos últimos exames com o poema “Lídia,à lareira, como estando/deuses lares, ali na eternidade/ como quem compõe roupas/ o outrora componhamos/ nesse desassossego que o descanso/ nos traz às vidas quando só pensamos/ naquilo que já fomos/ e há só noite lá fora”. Perante o pedido de explicação dos valores simbólicos do espaço e do tempo em que ocorrem as recordações do passado, alguns alunos responderam que Ricardo Reis “ pôs-se à lareira porque tinha vindo do trabalho e estava cansado”, ou que “ esteve a compor roupa” ou que queria “ descansar das lides domésticas” ou ainda que “ o tempo em que ocorreram as recordações estava mau e por isso ele foi para a lareira”.
Há mais, muito mais, mas ficam para uma próxima oportunidade. Entretanto, releiam o que escrevem. Há olhares atentos prontos para registar…