Orlando Rodrigues é licenciado em Engenharia Agronómica – Economia dos Recursos Naturais, pela Universidade Técnica de Lisboa e doutor em Engenharia Agronómica pela mesma Universidade. É docente da Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Bragança, na área disciplinar de Economia Agrária e Sociologia Rural. Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Estudos Rurais, de 2003 a 2007. E de 1999 a 2005 foi presidente do Conselho Diretivo da Escola Superior Agrária do IPB. De julho de 2006 até 11 de julho de 2018, assumiu a vice-presidência do IPB, foi nesta data que se tornou Presidente do IPB. Atualmente, é Vice-Presidente do Parque de Ciência e Tecnologia “Brigantia-EcoPark”.
Na sua perspetiva, que vantagens têm as empresas ao se fixarem no “Brigantia-EcoPark”?
O “Brigantia-EcoPark” é um parque de ciência e de tecnologia e, como parque de ciência e tecnologia, tem a função de alojar empresas tecnológicas ou centros de desenvolvimento de empresas já consolidadas, tem também uma função de apoiar a incubação de empresas tecnológicas. Portanto, está associado ao “Brigantia-EcoPark” a ideia de uma empresa diferenciada, com uma componente tecnológica importante. Daí que de resto os critérios de entrada neste espaço são exigentes e requerem que a empresa tenha um negócio tecnológico, uma atividade com uma grande complexidade tecnológica. Assim, uma empresa que está no “Brigantia-EcoPark” necessariamente é uma empresa tecnológica e isso coloca-a logo num patamar diferenciado. Por outro lado, uma das grandes vantagens é também ter acesso a um conjunto de serviços comuns, mas também a uma rede onde as empresas trabalham e estando naquele espaço tem a possibilidade de fazer contactos com as empresas que estão lá e com a rede de contactos dessas empresas também.
Portanto, as empresas acabam por ter acesso a empresas também diferenciadas e tecnológicas o que lhes confere alguma vantagem competitiva. É essa a natureza daquele espaço - promover o crescimento e o desenvolvimento de empresas tecnológicas e fomentar o desenvolvimento de um setor industrial mais inovador na nossa região e mais assente na inovação, com elevada produtividade e, portanto, com rentabilidades mais elevadas e que atraia também emprego mais qualificado.
Quais as áreas patentes no espaço?
Configurámos o “Brigantia-EcoPark” com uma determinada vocação, mais para o Eco, daí a sua designação e, portanto, a ideia era que tivesse uma diferenciação em empresas que se baseassem em projetos ligados ao ambiente e à ecologia e também à eficiência energética, uma componente importante. Portanto, a eficiência energética e as empresas eco eram as áreas prioritárias. Depois, acabámos por diferenciar um pouco mais para alargar o leque e em particular às empresas tecnológicas, da área dos sistemas de informação e de comunicação, ou seja, a área digital. De resto, a maioria das empresas que estão lá neste momento são empresas da área digital, da produção de software e da engenharia, e, assim, a área digital acaba por ser a área principal do “Brigantia-EcoPark”. Mas essa ideia de empresas ambientalmente responsáveis, ligadas à eficiência energética e à responsabilidade ambiental continua a ser uma marca fundamental do espaço.
Há um predomínio de empresas nacionais ou de estrangeiras?
De empresas nacionais e estrangeiras. Hoje em dia o que é uma empresa nacional ou estrangeira é difícil de definir, porque as empresas têm capitais de diversas origens. Muitas das empresas que temos lá são empresas multinacionais, com a base noutros países, mas com uma presença importante em Portugal. Outras são totalmente portuguesas, mas também podem ter capital estrangeiro. Todas as empresas lá instaladas estão constituídas como empresas de personalidade jurídica portuguesa, mas muitas dessas empresas pertencem a multinacionais com maior dimensão. Assim, seguramente a maioria são empresas nacionais, mas algumas são empresas multinacionais.
Qual a relação do IPB com este espaço?
O “Brigantia-EcoPark” foi um projeto dinamizado pelo IPB e pelo Município de Bragança, numa configuração interessante, porque na altura se afirmou o parque de ciência e de tecnologia de Trás-os-Montes, fez-se um projeto conjunto de Bragança e Vila Real. Portanto, nessa medida, temos que os principais promotores são o IPB e o Município de Bragança e temos uma participação simbólica no Régia-Douro Parque em Vila Real. Em Vila Real é a mesma coisa, a UTAD e a Câmara de Vila Real são os principais promotores e têm uma participação simbólica aqui também. E depois há a Associação dos Parques de Ciência e Tecnologia do Norte, que é o Portus Park e participa também nos dois, sendo um parceiro importante. Portanto, ou seja, respondendo concretamente, os principais dinamizadores é o IPB e a Câmara de Bragança, com a participação conjunta da Portus Park e do Município de Vila Real e da UTAD. Temos esta relação conjunta dos parques de ciência e tecnologia, fazemos sempre reuniões de assembleia geral conjuntas e temos direções conjuntas, no sentido de promover a cooperação entre os dois parques de ciência e tecnologia.
Como avalia o impacto da criação deste espaço para a cidade de Bragança, em particular para o IPB?
Nós pretendemos afirmar Bragança como uma cidade inovadora que tem capacidade científica e que se afirma também pela ciência e tecnologia e pelo desenvolvimento científico. No IPB, temos vários centros de investigação classificados como excelente, a classificação máxima, de resto no seio dos politécnicos só há cinco centros de investigação classificados como excelente, dois em Bragança, dois no Porto e um em Leiria. Há algumas universidades que não têm nenhum centro de investigação classificado como excelente. Enquanto, nós temos dois e de dimensão elevada e assim Bragança em função dessa capacidade científica que fomos desenvolvendo têm-se vindo como uma cidade atrativa também de ciência e tecnologia a nível mundial. Atraímos muitos estudantes de doutoramento que vêm aqui fazer doutoramento nas áreas em que somos mais competitivos e, portanto, está a mudar este paradigma de Bragança, que se está a afirmar também como uma cidade de ciência e tecnologia.
Agora, esta capacidade de investigação que o IPB foi desenvolvendo é importante que se traduza também depois em inovação nas empresas, ou seja, que a cadeia de inovação se complete. A cadeia de inovação faz-se pela investigação que se faz nas instituições de ciência e tecnologia, da mais fundamental à mais aplicada, mas depois tem de ir para as empresas e traduzir-se em inovação, ou seja, a inovação é transformar o conhecimento em valor económico. Portanto, temos de garantir que toda a cadeia se fecha, que desde a investigação à sua aplicação nas empresas, toda a cadeia de inovação é dinâmica na nossa região. E nesse sentido o “Brigantia-EcoPark” é um instrumento fundamental na aceleração da instalação de empresas tecnológicas que sejam capazes de valorizar esses resultados de investigação.
Assim, há muitas start-ups nossas que saíram daqui de resultados da investigação que se instalaram no “Brigantia-EcoPark”e se estão a valorizar como empresas tecnológicas. Há algumas start-ups que se instalaram no “Brigantia-EcoPark”e que agora se estão a desenvolver em unidades industriais que resultaram da valorização de patentes que foram criadas no IPB.
Há, por exemplo, uma que é paradigmática - a empresa Tree Flowers Solutions. Uma empresa que nasceu para valorizar uma patente que resultou de trabalho de investigação no IPB. Essa patente é um extrato obtido de produtos naturais, neste caso a partir do castanheiro que permite substituir os sulfitos no vinho, que é um aditivo químico que se tem de adicionar ao vinho para se estabilizar. Esse extrato natural permite substituí-lo com vantagem e portanto tem um enorme potencial de negócio. Assim, foi um resultado de investigação que surgiu aqui, com uma patente associada, e depois houve uma start-up que se interessou em explorar essa patente, nós licenciámos a patente a essa empresa e a empresa instalou-se precisamente no “Brigantia-EcoPark”, numa fase de desenvolvimento para desenvolver comercialmente o produto. E, entretanto, agora a empresa já está a criar instalações fabris e continuará com o centro de desenvolvimento no “Brigantia-EcoPark”, mas crescerá.
Portanto, este é o caminho que nós gostávamos que se privilegiasse a aceleração do desenvolvimento de empresas tecnológicas capazes de criar negócios com alto valor acrescentado que captem emprego qualificado, etc. Daí que seja importante obviamente para nós e para a região, nesta perspetiva da aceleração da instalação de empresas tecnológicas.
Quais as expectativas em relação ao futuro?
As expetativas é que cresça. No início, tivemos muita dificuldade em afirmar em financiar esse espaço, porque havia a ideia de que em Bragança seria impossível fazer vingar um projeto destes, que estas coisas só funcionam no Porto e em Lisboa e não mais que isso. E, portanto, foi uma luta muito grande para conseguir financiar. Tivemos de contrariar muitos argumentos deste tipo, conseguiu-se o financiamento, mas sempre com essa ideia que nos transmitiam, que era um investimento de alto risco, que nunca iríamos conseguir, etc.
O “Brigantia-EcoPark” encheu-se muito rapidamente, nós fomos muito exigentes no critério de admissão de empresas, não admitimos empresas que não fossem tecnológicas, que tivemos muita pressão para isso. E hoje em dia está cheio, temos vários pedidos e, portanto, as expetativas é que possamos financiar o aumento daquele espaço. De resto, quando se constituiu tinha um projeto de crescimento para uma área de dez hectares, que seriam aqueles terrenos públicos ali à volta, que são de outras instituições, mas públicos. E as expetativas é que no futuro se possa criar ali um parque tecnológico de maior dimensão, naqueles dez hectares e que o “Brigantia-EcoPark” possa crescer naquela modalidade em que existe que é um edifício multifunções, que serve para alojar diversas empresas, mas também na modalidade de empresas, elas próprias poderem criar edifícios naquele parque, com centros de desenvolvimento. Esse é um objetivo que continua em cima da mesa e tem-se trabalhado no sentido de atrair grandes empresas que possam criar aqui um centro de desenvolvimento.
Portanto, as perspetivas futuras é expandir naquela área envolvente que são cerca de dez hectares e que no futuro se possa criar aí um parque de ciência e tecnologia de maior dimensão, com edifícios deste tipo que alojem várias empresas, mas também com edifícios dedicados a algumas empresas, que nesse espaço instalem centros de desenvolvimento.
Que conselhos daria a quem pretender começar uma nova empresa?
Que corra riscos e que tenha coragem e avance. Eu não sou empresário, eu fiz a opção de enveredar por uma carreira científica e estou satisfeito com ela, mas tenho muito apreço por quem envereda por uma carreira de empresário. E, portanto, entendo que é necessário ter um perfil, porque é preciso capacidade de correr riscos, de arriscar, de não ter medo de falhar. É necessário naturalmente capacidade de inovar, de liderar pessoas, capacidades especiais para ser empresário, mas esta capacidade de disponibilidade para assumir riscos e não ter medo de falhar é fundamental. Estas capacidades de inovar, de se relacionar com os outros e de liderar pessoas são fundamentais. Portanto, é claramente importante que mais pessoas enveredem por este tipo de carreira, nós precisamos de criar mais empresas, um dos problemas do nosso país é um défice de espírito empreendedor. Temos algumas regiões onde isso está culturalmente mais presente, sabemos que há algumas bolsas industriais no nosso país, que têm isso presente na cultura, ter um espírito empreendedor, as pessoas valorizam ter uma empresa. Aqui na nossa região não há tanto, mas claramente precisamos de desenvolver mais este espírito empreendedor. É importante desenvolvermos o espírito empreendedor nas pessoas, desenvolvermos culturalmente a ideia de que criar uma empresa é uma coisa boa e positiva e que é natural que quem envereda por essas carreiras algumas vezes falhe e outras tenha sucesso, porque faz parte da natureza de um empresário. Faz parte falhar tal como faz parte ter sucesso, e, portanto, quem envereda pelo mundo empresarial sabe que isso tem de ser assim, mas é muito importante que nós sejamos capazes de gerar culturalmente mais esse espírito empreendedor e sobretudo nas pessoas qualificadas, porque claramente quanto mais qualificadas forem as pessoas, mais criarão empresas de carácter tecnológico, que gerem mais valor acrescentado e que sejam mais produtivas e mais empregos que paguem melhor às pessoas. É também o que nós precisamos: empregos que paguem bem às pessoas.
O que fazer, ou seja, quais os passos a dar para criar uma nova empresa?
Hoje em dia temos felizmente muitas possibilidades de ajudar os empreendedores. Nós próprios temos aqui, no IPB, temos uma incubadora de empresas e o “Brigantia-EcoPark” também, sendo que as coisas estão ligadas, ou seja, nós aqui ajudamos os nossos alunos e fomentamos desde que entram a geração do espírito empreendedor. Alguns podem começar aqui e depois ir para o “Brigantia-EcoPark”, existindo muitos mecanismos de ajudar a incubação de empresas e o espírito empreendedor.
Portanto, o conselho que eu diria a alguém ou a algum jovem que tenha essa vontade de ser empreendedor e montar uma empresa é que se dirija a alguma dessas estruturas que fazem incubação de empresas e, certamente, terá o apoio necessário à montagem do seu plano de negócios e a vencer todas as etapas burocráticas que isso tem. Assim como, a ajudar a financiar o seu negócio. Felizmente, atualmente tem-se facilitado todas essas etapas, as de vencer as burocracias para obter os licenciamentos e os registos que é necessário para criar uma empresa, como também do financiamento da empresa e encontrar o capital necessário.
Hoje em dia, há mecanismos que facilitam muito essas tarefas, tanto do lado do financiamento, como do lado da criação da empresa e do licenciamento. Temos também essas estruturas que apoiam os empreendedores a desenvolver os seus negócios. Portanto, enfim, o que diria é quem tiver essa aptidão, que arrisque e que procure quem o possa ajudar, porque temos essa possibilidade de ajudar os empreendedores e, em particular, no seio do “Brigantia-EcoPark”.
Como presidente do IPB, quais as sugestões de empreendedorismo que daria aos alunos desta instituição de ensino?
É isto que acabei de dizer, se têm essa capacidade empreendedora que vão em frente que arrisquem e procurem ajuda no âmbito das estruturas existentes. Nós, no IPB, temos um gabinete de empreendedorismo que os pode ajudar nessa vertente e quando o projeto estiver mais maduro e desenvolvido, também no seio do “Brigantia-EcoPark” temos a capacidade de os ajudar a crescer, a desenvolver os seus negócios.
Portanto, neste âmbito, o que eu diria aos alunos é que ser empresário é bom, é entusiasmante, cria emprego, faz progredir a sociedade e sobretudo se o fizerem baseado em ciência e tecnologia mais ainda. Assim, é interessante utilizar a ciência e a tecnologia também para criar riqueza, para a sociedade no seu todo e para criar emprego.