A ideia surgiu devagar e com pouca solidez, mas rapidamente se foi tornando cada vez mais apelativa e consistente e a Andreia e a Telma puseram mãos ao trabalho e iniciaram o processo de candidatura a uma bolsa para estudar no Reino Unido. E foram bem sucedidas. Em setembro, em vez de iniciarem o último ano na Abade de Baçal, fizeram o “check-in” no aeroporto e rumaram até terras de sua majestade para frequentarem o ano zero, “foundation year” dos cursos de fisioterapia e engenharia aeroespacial. E gostaram da experiência.
Nome: Telma Gonçalves Interesses: Voleibol, Música, Séries, Desporto Áreas de interesse: Fisioterapia O que te levou a participar neste projeto? Telma - Desde muito pequena que sempre vi muitos vídeos em inglês e pesquisava intercâmbios. Nos últimos anos, o meu amor pela Inglaterra aumentou, assim como o desejo de viver lá e, desde que entrei no secundário, que meti na cabeça que queria ir viver para lá depois da universidade. Durante o verão, a Andreia descobriu esta oportunidade de fazer o curso no Reino Unido, no início, nem ponderei a oportunidade, só depois, ao acompanhar a Andreia, é que eu pensei que até era uma ótima oportunidade, falei com os meus pais e de um mês para o outro outro comecei a estudar no país com que sempre sonhei. O que te atrai na área que escolheste? Fui jogadora federada de voleibol durante 6 anos, portanto, sempre estive muito ligada ao desporto. Há 3 anos comecei a competir nacionalmente e entrei, assim, no mundo das lesões, ao qual não fiquei imune e acabei por me lesionar. Tive sessões de fisioterapia e foi como um clique para o que eu gostava de me ver a fazer no futuro, pesquisei muito e é uma excelente maneira de manter o desporto um pouco na minha vida. Dou muito valor ao toque e a fisioterapia está muito associada ao toque, estudar o corpo humano é algo que me fascina e que estou a adorar conhecer. Quais foram os procedimentos de candidatura e requisitos? O processo de candidatura parece muito mais fácil do que na realidade é. É muito enfadonho, pois há toda a burocracia normal no que diz respeito a uma candidatura universitária e ainda mais visto que é noutro país, nomeadamente, num que está a atravessar uma fase instável visto estar a sair da União Europeia. No geral, o requisito envolve o currículo, uma carta de motivação para o reitor, exame a inglês e notas consideradas boas. Sentiste dificuldades em relação à língua? Eu tenho familiares a viver no Reino Unido que se encontram casados com nativos, sempre comuniquei com eles, logo não tive aquele choque da língua. Mas confesso que foi estranho começar simplesmente a ouvir sempre inglês à minha volta, quando estava habituada ao português. Quais as principais diferenças entre Portugal e Inglaterra? Gastronomia e Meteorologia. Não há nada melhor como a comida e o tempo de Portugal e bastou-me apenas uma semana para chegar a essa conclusão. A Inglaterra tem menos luz que Portugal e menos horas de luz também, está constantemente a chover ou nublado e a carne e o peixe, nomeadamente, não têm nada a ver com o que se come em Portugal. Como têm sido as aulas? O sistema educativo é muito diferente? Não acho que o sistema educativo em si seja diferente, o sistema encontra-se muito dividido entre partes teóricas e práticas, mas os ingleses dão muito mais valor a trabalhos. Também acho que os professores são muito mais amigáveis e compreensivos com os alunos. Pela minha experiência, retiro uma compreensão e alegria gigante por parte dos professores, nota-se que adoram ensinar e estão sempre muito atentos aos alunos para ver se têm dificuldades para os ajudar a ultrapassá-las, mas não lhes retirando autonomia. Como é que as pessoas te têm tratado? Até agora são muito simpáticas, ajudam-nos em tudo, principalmente pessoal da universidade, são impecáveis e estão sempre a perguntar-nos como estamos. Como vivemos numa cidade universitária, acho que as pessoas que residem aqui acabam por perceber que há muitos alunos internacionais, sendo assim muito mais compreensivos. Gostas de viver numa residência? Eu estou a viver numa casa partilhada para universitárias e tem sido fantástico, sou a mais nova da casa, sendo assim vista como a bebé, mas estar a viver com pessoas de diversas partes do mundo está a ensinar-me bastante. Como passamos muito tempo juntas, acabo por aprender coisas novas todos os dias. Ao estar a viver numa casa, sinto-me mais “em casa”, mas passo muito tempo com a Andreia na residência, que tem excelentes condições. Como é que caracterizas a experiência até agora? Está ser uma experiência única e estou muito grata por estar a vivenciá-la. Ir viver com apenas 17 anos para outro país foi um choque, mas não me arrependo nada, e só posso agradecer aos meus pais por me proporcionarem uma experiência assim. Estou a conhecer pessoas de diversos países, a divertir-me imenso e a fazer amizades incríveis Do que sentes mais saudades? Do sol de Portugal, da comida da minha mãe, de não ter de tratar de lavandaria, de serem 5 horas da tarde e eu não estar a pensar no que vou fazer para o jantar. E também de não ter tantas responsabilidades, mas, mais tarde ou mais cedo, este momento ia chegar. |
Nome: Andreia Teixeira Interesses: viajar, fotografia, futebol, ler, séries Áreas de interesse formativo: Engenharia aeroespacial O que te levou a participar neste programa? Sempre gostei de ler artigos e ver vídeos sobre jovens que tiveram experiências no estrangeiro e, por isso, me envolvi em vários projetos Erasmus. Nunca pensei em ir estudar definitivamente para outro país, mas, no final do 11° ano, comecei a pensar como poderia atingir o meu objetivo de estudar Engenharia Aeroespacial e o meu pai referiu a possibilidade de poder estudar no estrangeiro em países como a Espanha. Como nunca estudei espanhol, comecei a ver outras opções e surgiu Inglaterra. Tendo em conta que em 2021 o Reino Unido sairia da União Europeia, deixariam de existir propinas financiadas e, por isso, esta era a última oportunidade. O que te atrai na área que escolheste? Inicialmente, fui atraída para esta área pelo desafio que representaria conseguir entrar neste curso em Portugal, com o tempo fui pesquisando e conhecendo a área. A minha paixão e capacidade para entender física e matemática foram também impulsionadoras na minha escolha, já para não falar da descoberta de líderes da área, como Elon Musk. Fala-nos dos procedimentos de candidatura... A candidatura pode ser feita pelo aluno, mas como foi um processo tão rápido achei preferível ter ajuda de uma Agência que tratou de tudo. Precisei do meu boletim de notas de secundário, de uma carta de recomendação de uma professora, no meu caso, pedi à minha professora de física e química a quem agradeço imenso pelo gesto, e uma carta de motivação escrita por mim, onde enunciei os motivos pelos quais deveria ser aceite, os meus interesses, atividades extracurriculares e tudo aquilo que achei necessário para os impressionar. Sentiste dificuldade na adaptação à língua? No geral, não, é fácil de entender até porque estudei inglês, o que mais complicou a adaptação foram as máscaras e as aulas online, onde era mais difícil entender as pessoas, sobretudo devido a alguns sotaques de colegas de outros países, mas aos quais, com o tempo, nos vamos habituando. O facto de viver com três portugueses e conviver com muitos mais fez-me continuar a usar muito a língua portuguesa, o que resulta muitas vezes numa dificuldade em me expressar nas duas línguas. Qual a principal diferença entre Portugal e Hatfield? A principal diferença é o tempo, ou está a chover ou está nublado e nos poucos momentos em que faz sol, estamos em casa, por causa do estado de emergência. O que mais me fez confusão foi o facto de anoitecer muito cedo, às 4 da tarde já era de noite.
E quanto às aulas e sistema educativo? O facto de ter mudado para ensino universitário e para o sistema educativo inglês revelou-se uma grande mais valia para mim, pois a carga horária semanal é de 16 horas o que me dá muito tempo para estudar por iniciativa própria. Em Portugal, sentia-me muitas vezes desmotivada pela carga horária e de trabalho. Tivemos tanto aulas presenciais, como online e as duas ao mesmo tempo todas de duas horas de duração. Estar num Foundation Year, semelhante ao ano zero da universidade em Portugal, tem-nos dado a vantagem de estar rodeadas de pessoas na mesma situação que nós, de os professores serem muito acessíveis e de muita da matéria já ter sido dada no secundário, só precisamos de associar o que já foi aprendido a uma nova língua. Como é o alojamento? De momento, vivo na residência da universidade. Nos primeiros dias só eramos duas pessoas no meu “flat” e senti-me mais sozinha, mas pouco demorou para que começassem a chegar pessoas, desde portugueses apresentados pela empresa que tratou da minha candidatura, que por obra do acaso acabaram a viver comigo, a alunos internacionais e ingleses que são meus vizinhos. Estar rodeada de alunos é, sem dúvida, o melhor de viver no campus, pelo espírito que nos rodeia, apesar da pandemia vivida, acabamos por nunca nos sentir sós. O pior é sem dúvida a confusão. Como companhia nunca falta, essa é a melhor e pior característica de viver no campus. Como caracterizas de forma geral a experiência? Estou a gostar muito de estudar em Inglaterra. Tenho saudades da minha família, dos meus amigos e da comida portuguesa. Apesar disso, estou a estudar para tornar o meu sonho realidade, estou a aprender mais sobre a língua inglesa e Inglaterra, a fazer novas amizades com alunos de todas as partes do mundo e, sobretudo, a aprender mais sobre mim mesma. Não posso, por isso, deixar de agradecer aos meus pais, pois sem eles não poderia estar aqui. Estudar no estrangeiro tem os seus desafios, mas os bons momentos e as aprendizagens têm até agora superado todas as vicissitudes.
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