Com apenas 51 votos de diferença, 218 contra 167, a associação de estudantes do Agrupamento de Escolas Abade de Baçal vai pertencer à lista P, presidida pela aluna Maria Carolina Amado e vice-presidida por Emanuel Samões e Bárbara Martins.
No dia 17 de outubro, realizou-se o dia de campanha, na qual estiveram presentes vários artistas. A lista P convidou o DJ André Meneses, None e Phoenix. No outro palco, o da lista H, estiveram presentes DJ Pintexx, os rappers Vado Más Ki Ás e Diogo Domingues. Durante a tarde, ocorreram os desfiles de ambas as listas e o debate às 16:00. Às 18:00 deu-se o fim da campanha.
Durante o debate, ambas as listas apresentaram as suas propostas. A lista P propôs a pintura de um mural na escola, a colocação de garrafões de água e uma hora de atendimento ao aluno. A lista H pretendia colocar vários ecopontos pela escola, abrir, de forma contínua, as portas da associação de estudantes, no intuito de a tornar numa sala de convívio e continuar com a eleição da Miss Abade. E ambas pretendem continuar com a realização de festas e atividades desportivas.
A lista P representa uma homenagem a Tiago Parreira, que faleceu no ano anterior, já que um dos seus sonhos era, juntamente com 19 amigos, mudar o ambiente da Escola Abade de Baçal. Inicialmente, a lista iria ser designada por lista I, mas em sentido de homenagem passou a lista P.
Ana Carolina, Bárbara Martins e Gabriel Barreira revelaram as dificuldades sentidas durante o processo de candidatura, o seu programa de ação durante o próximo ano e deixam uma mensagem aos próximos candidatos durante a entrevista que deram aos jornalistas do Outra Presença.
OP - O que os levou a formar uma lista para concorrer à Associação de estudantes?
As pessoas envolvidas sempre mostraram interesse em formar uma lista com a intenção de introduzir mudanças na escola, fazer algo que anteriormente não tinha sido feito.
Foi fácil formar essa lista?
Eu já tinha um grupo de pessoas nas quais confiava e achava que tinham potencial para formar uma lista comigo. Depois, o resto da turma aderiu e tudo se tornou mais fácil.
Quais os principais obstáculos que sentiram durante este percurso?
A organização inicial foi muito complicada. Tínhamos de recolher as ideias de todos, uni-las e definir o nosso percurso e intenções.
Conseguir patrocínios também foi muito difícil. Bragança é uma cidade pequena, não somos a maior escola de Bragança e muitas lojas levavam isso em consideração para não nos dar alguma ajuda para conseguir fazer uma campanha para os alunos da escola.
Qual era o valor do patrocínio?
Nós estávamos a pedir 50€ para estampar a marca em t-shirt e menos se não quisessem qualquer tipo de publicidade em t-shirt. Mas a maioria deu 30€. E tivemos muito poucos patrocínios. Como puderam ver, nas t-shirts atrás, só tínhamos quatro. Então foi muito difícil começar como 200€.
E como é que resolveram o problema?
Organizámos torneios, festas em bares, vendemos blusões e tivemos de nos sacrificar, pondo muito dinheiro do nosso bolso, mas quem quer participar tem de se sujeitar a estes contratempos.
Têm algum apoio partidário?
Não.
Então o que angariaram deu para cobrir as despesas? Que despesas é que tiveram com a campanha?
A atuação dos artistas. Tivemos que pagar quarto de hotel e refeições para os artistas. Ter comida para os alunos, sistema de som, depois as t-shirts, os blusões, canetas, autocolantes, apitos.
Referiram no início que queriam fazer coisas diferentes. Que aspetos destacam no vosso programa?
Por um lado, queremos agir no âmbito da solidariedade. Nós apresentámos uma proposta que estamos a debater agora com a direção, que consiste em recolher mensalmente alimentos, roupa e brinquedos para podermos doar a uma instituição. Consideramos que em tempos como este que hoje vivemos, isto é muito importante.
Além disso, também queremos atuar na melhoria da limpeza da escola, na linha do projeto “Mãos à Obra”. Sabemos que na escola o número de funcionários está reduzido e que muitos dos nossos colegas continua a agir incorretamente, deixando lixo no recinto da escola. Portanto, achámos bem sugerir este programa, que tem vindo a ganhar adeptos em todo o país, que consiste em recolher lixo durante uma tarde a agendar e, assim, ajudar os funcionários, a escola e os alunos em si.
A vossa preocupação com o ambiente é interessante, mas não acham que também era importante sensibilizar os vossos colegas para não fazerem lixo? Uma das principais queixas, quer de alunos quer de funcionários, é o estado em que fica o bar após os intervalos. Como associação e devido à vitória que vos faz ter tantos colegas do vosso lado, será que não podiam ter um papel importante, chamando-os à atenção para a limpeza da escola e mudando a sua atitude?
Não sei se conseguiremos mudar a atitude deles. É sempre muita gente e nós não conseguimos controlar toda a situação. Por exemplo, para reciclar, já existem contentores atrás da escola, mas as pessoas não vão lá. Então o que é que mudaria se colocássemos ecopontos no interior da escola? A maior parte das pessoas não iria cumprir. Tal como o professor Humberto referiu no debate, já houve contentores de reciclagem espalhados pela escola, no entanto, no final do dia, os funcionários tinham de andar a separar o lixo, porque ninguém punha o lixo no sítio correto. Por isso, mais vale a associação ajudar numa coisa que sabe que consegue fazer, como, por exemplo, limpar o lixo que estiver espalhado do que contar com pessoas que, se nunca o fizeram antes, não o vão fazer agora.
As pessoas vão continuar a cometer os mesmo erros se nós não mudarmos a sua mentalidade e tudo ficará na mesma.
Quando vocês deixarem de limpar, o lixo regressa e nada mudou. No entanto, se existissem os caixotes do papel, do plástico e do lixo orgânico, os alunos não teriam desculpas para não fazer a separação. Não seria importante a Associação agir neste sentido?
Sim, nós poderemos tentar abordar os nossos colegas e sensibilizá-los para essa atitude. Este tema até foi proposto pela lista H e um esforço conjunto para combater esta situação pode ser uma boa solução. Aliás, se convencermos aqueles que fazem a reciclagem por hábito a ajudar-nos, estes podem incentivar os restantes a fazer o mesmo.
Já percebemos que têm uma componente de voluntariado e outra que está relacionada com o ambiente. São essas as propostas que destacam mais?
Também gostaríamos de aumentar a parte coberta no exterior da entrada principal da escola, pois, em tempo de chuva, é um espaço muito pequeno e, mesmo tendo a parte de dentro da escola para abrigo, há muita gente que não cabe. Então, nós vamos escrever uma carta para a Câmara, vamos pedir o apoio e a aprovação juntamente com a direção para conseguirmos realizar essa proposta.
O que é vos distinguia dos seus adversários?
Eu vou ser muito honesta, não havia assim diferenças tão grandes. Acho que ambas as listas deram o melhor e os alunos escolheram. Sempre houve uma relação boa entre as duas listas.
E porque é que acham que os alunos vos escolheram?
Não sei. Como nós somos de 12º, os mais novos podem ter tido isto em consideração, ser uma lista composta maioritariamente por membros do 12º ano, ao contrário de uma em que quase toda a direção faz parte do 11º ano.
Como é que se sentiram quando foram anunciados os resultados e souberam que tinham vencido?
AE Uma felicidade e orgulho enormes, porque, não sei se sabem, a letra da nossa lista tem um significado emotivo muito forte, é a letra do apelido do nosso colega Parreira que faleceu no ano passado. Quando conseguimos ganhar e ver que o nosso esforço tinha sido recompensado, foi como se estivéssemos a dedicar-lhe a nossa vitória, a homenageá-lo.
Tiveram ajuda de colegas de associações anteriores? Já tinham participado em alguma associação?
Não. Começámos tudo mesmo do zero.
E como é que sabiam o que é que era necessário fazer?
Não sabíamos, fomos descobrindo por nós.
Têm alguma mensagem que gostariam de deixar aos vossos colegas?
Aos futuros candidatos à próxima associação: estejam preparados para passarem muitas noites em branco, muitas noites nervosos pelo que pode vir a acontecer e se não estiverem preparados para tal, não concorram. Quem se aventura nesta missão tem de estar preparado para tudo.