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David, Daniel e Sónia Chen são três irmãos nascidos em Portugal, de ascendência chinesa, que enriquecem a comunidade multicultural do Agrupamento Abade de Baçal, que frequentam desde o quinto ano, e a cidade que os pais escolheram habitar a partir de 2000, depois de outras experiências em Vila Real, Porto ou MIranda do Douro.

A frequentar três áreas distintas do 11º ano, Humanidades, Ciências e Artes, têm também sonhos e projetos distintos, mas que não excluem possíveis parcerias. Regressar à China não faz parte dos seus planos imediatos, mas não eliminam a possibilidade de se realizarem profissionalmente nesse país.

Para conhecer melhor a sua experiência entre duas culturas, foram convidados para uma informal conversa.

Quando é que os vossos pais vieram para Bragança e por que razão escolheram esta cidade?

David - Os pais vieram para Bragança em 2000. O interesse surgiu por acaso, durante uma viagem em que passaram por aqui, mas também a escolheram devido a negócios familiares, como o restaurante do meu avô.

Daniel - Já tinham trabalhado noutros locais, como Miranda do Douro, Porto e Vila Real, mas não gostavam muito desses sítios e resolveram tentar a vida em Bragança. Gostaram e ficaram.

Como foi a adaptação à escola em Portugal?

Sónia - Foi um pouco difícil no início, sobretudo devido à dificuldade com a língua. Em casa até à entrada na escola, usávamos sempre o mandarim. Assim, à medida que aprendemos português, num curso para alunos estrangeiros que havia na Escola Augusto Moreno, foi-se tornando mais fácil.

Qual a língua que acham mais fácil? Mandarim ou Português?

Daniel - Mandarim

Sónia - Em termos de construção, pode parecer mais difícil, mas sabendo os símbolos iniciais, basta carescentar poucos elementos para construir frases. Claro que falar é mais fácil do que escrever.

Onde Viviam os vossos pais, na China?

David - Numa aldeia, Qing Tian, perto de Shang Gai.

Era muito diferente de Bragança?

Daniel - Sim, os meus pais dizem que havia muito mais gente, mais confusão e insegurança nas ruas. Bragança é mais calma, apesar de já se sentir alguma insegurança. Mas nada comparado com a China. Por exemplo, lá, os jovens, antes de entrarem para um táxi, tiram fotografia da matrícula e enviam aos pais para os taxistas saberem que estão identificados e que há pessoas que sabem que estamos a entrar nesse taxi.

Vamos à inevitável pergunta: o que distingue a gastronomia chinesa?

Sónia - Para começar, nós usamos muitas especiarias secas e desidratadas, portanto, os pratos são muito aromatizados. Depende da região, mas predominam os sabores picantes. Usamos bastantes melhores, como o de soja

Daniel - O arroz frito também é bastante frequente, bem como os noodles, variando os ingredientes que são adicionados aos mesmos.

David - Frango e porco são a base da gastronomia e são servidos com molhos de soja ou agridoce.

Sónia - Há ainda o hábito de uma “mesa comunitária”. O prato é comum e cada um vai-se servindo com os pauzinhos.

Também gostaria de destacar os cogumelos desidratados, que são diferentes dos portugueses, o sabor e o cheiro são mais intensos.

Sónia - Também comemos muitos legumes desidratados. A minha avó disse-me que era um método de conservação tradicional muito usado ainda no presente. É o caso da carne seca que também é comida com acompanhamento de molhos.

E pratos favoritos?

Daniel - Eu gosto bastante dos pratos fritos. Temos um que é constituído por asas de frango fritas, ao qual adicionamos um molho espesso, doce ou picante, do qual eu gosto muito.

David - Também há outro que consiste em pedacinhos de carne, parecidos com  entremeada, que é comido como molho de soja. O nome traduzido, seria “carne vermelha cozida”.

Sónia - Nos temos um prato muito diferente que consiste num caldo que é colocado numa panela elétrica, que permanece ligada, onde vão sendo colocados diversos alimentos (peixe, carne), por cada pessoa, à medida que vai comendo. A técnica é semelhante à do “fondue”, em inglês designa-se por “HotPot”.

Alguma vez visitaram a China?

- Sim

O que recordam dos edifícios lá existentes?

David - Na nossa zona, a maior parte dos edifícios são antigos e, mesmo os que são renovados, mantém os traços. Nós respeitamos muito a história. Há muitos palácios imperiais.

Que aspetos vos parece que distinguem as famílias destas duas culturas tão diferentes?

Daniel - Tradicionalmente, as famílias são numerosas. Os meus pais tinham muitos irmãos, mas hoje isso vai mudar, porque o governo impôs medidas de restrição à natalidade. Aliás, foi um dos motivos que levou os meus pais a decidirem sair do país. Não concordo muito com a medida, mas reconheço que o excesso de população era um problema que precisava de ser resolvido.

Sónia - Quando a filha casa, normalmente vai para casa do marido e fica a viver com os pais dele. Os filhos ficam na casa paterna.

E a religião?

David - Na China há várias religiões. Os nossos avós são budistas. Os templos budistas são muito famosos e abundantes na China. Um dos mais conhecidos é o de Sholin (na foto), que tem mais de 1500 anos e fica na cidade de Deng Feng.

Curiosidades sobre a China...

Daniel - O facto de se acreditar que os chineses são descendentes do Dragão - isto deve ter insprado o “Game of Thrones”...

Sónia - O ano Chines é diferente, portanto a passagem de ano é móvel... A muralha da China (na foto) é um símbolo único no mundo e suscita a curiosidade de muitas pessoas, que ficam impressionadas com a sua dimensão.

David - Há uma profecia de um conselheiro do rei que antes de morrer previu que no futuro o céu se encheria de teias e estaria em cima de touros de ferro. Acho que acertou, se tivermos em conta a quantidade de fios elétricos existentes no ar e os carros que circulam nas estradas.

O vosso futuro passa pela China?

Daniel - Talvez eu volte. Nós andámos a aprender Mandarim, primeiro em Bragança e depois no Porto, onde vamos todos os domingos para ter aulas, e temos certificados da língua. Assim, se quisermos regressar à China, será mais fácil conseguir trabalho lá.

David - Eu acho que preferia ficar cá. Só ia à China em turismo. Mas como gostava de seguir o curso de Relações Internacionais, talvez passe por lá também em trabalho.

Sónia - Eu gostava de tirar o curso de arquitetura e regressaria à China, dado que me parece que lá há mais trabalho nesta área.

Daniel - Eu gostava de ser engenheiro informático. Posso ficar cá ou fazer uma sociedade com a Sónia e ir para a China (risos).

 

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