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A propósito do projeto “Parlamento dos Jovens”, a deputada Júlia Rodrigues participou numa sessão na escola que juntou os jovens que integram as listas do ensino básico e secundário deste projeto, que este ano propõe aos jovens mais novos que debatam o racismo, o preconceito e a discriminação e aos mais velhos as assimetrias entre o interior e o litoral. 

 

Por que razão escolheu o Partido Socialista?

É uma boa questão. Eu comecei na Juventude Socialista e hoje encontro-me no Partido Socialista porque essencialmente acredito nos valores que este partido defende, sou uma pessoa de esquerda, de matriz ideológica de esquerda, acredito num estado social, acredito que devemos ter todos igualdade de oportunidades no acesso a uma carreira, no acesso a uma progressão de todos de forma igual, quer seja no interior quer seja no litoral, quer tenhamos pais com possibilidades económicas ou não. No fundo, o estado tem de proporcionar a todos os cidadãos a possibilidade de terem as mesmas oportunidades. Essencialmente por isso, por defender o estado e a igualdade social é que me identifico com este partido.

Tem algum ascendente político na família?
Sim, o meu pai. O meu pai também era do Partido Socialista, foi um fundador desse Partido aqui no distrito de Bragança, e é normal que isso tenha sido determinante para o meu gosto pela política. E pela sua forma de intervir na sociedade com estes valores e princípios em que eu acredito.

O que a motivou a candidatar-se ao parlamento nas últimas eleições?
Isto foi uma conjugação de factores, ou seja, eu era a segunda na lista de deputados socialistas aqui no distrito, como todos sabem, nós, no distrito de Bragança, face à perda de população, já só elegemos três deputados (ainda há pouco tempo eram quatro). O PSD no distrito conseguiu eleger dois e o PS um, Jorge Gomes, que acabaria por ser designado secretário de estado da administração interna. E eu ocupei o seu lugar como deputada, na Assembleia da República.

De onde veio a vontade de ir integrar essa lista?
A vontade foi no fundo participar numas eleições que eu considerava serem fundamentais na vida do país, especialmente pela mudança que eu acredito ser possível fazer. Eu sou funcionária pública, também sofri um pouco com as medidas que foram implementadas e não vi resultados e quando, na nossa vida pessoal, fazemos determinados sacrifícios para conseguir alcançar determinadas metas, queremos ver resultados. Na política é igual. Nós ainda podemos sacrificar enquanto povo porque somos um povo conciliador, consensual, que até aguenta, é resistente, mas quer ver resultados, e os resultados que nós vemos é alguma falta de responsabilidade política e dos políticos perante a sociedade.
E eu acredito que possa ser diferente e fazer diferente, eu acredito nestas novas gerações, numa intervenção mais pura na politica e num trabalho profícuo, ou seja, estes parlamentos jovens ao serem considerados um embrião do que é a intervenção, marcam a juventude, e ao marcar podem ser determinantes para soluções e ideias, que muitas vezes os os menos jovens não têm, e que podem servir de alavanca a outras soluções para o interior, para o racismo, para a discriminação, todas elas são importantes e, na maioria das vezes, é dos jovens que vêm as soluções.

Qual é importância do parlamento para o país?
A importância do parlamento? O parlamento no fundo é a casa da democracia, é onde passam as leis, os problemas e onde se encontram soluções. Eu estou desde o dia 27 de Novembro no parlamento, estou há pouco tempo. Tem vantagens e desvantagens. A grande vantagem que existe é que estou a conhecer os colegas, o espaço. e estou a criar o meu próprio espaço dentro da minhas áreas de actuação. E eu acho que isso é fundamental, é preciso as pessoas saberem o caminho que querem seguir. E quando nós queremos muito uma coisa, e sonhamos que somos capazes, nós somos capazes. Basta que nos disponibilizemos a isso, ou que possamos trabalhar mais para isso e não haverá nada nem ninguém que nos consiga travar em determinada situação. Mas, como em tudo na vida, é preciso estar no sítio certo na altura certo e trabalhar. O Parlamento, ao contrário do que as pessoas pensam, e eu também penso, é igual às outras casas todas. É como numa escola, há pessoas que trabalham mais e há pessoas que não trabalham quase nada, e ambos tem o mesmo vencimento. Como é que isso se avalia? Como se avalia o trabalho de um político na assembleia? É difícil de avaliar. Mas os políticos são avaliados pelos votos que têm. Neste distrito, por exemplo, apesar de eu achar que a lista do PS era a melhor, e tinha de achar porque cada um defende sempre os seus ( caso contrário, escolhia outra equipa. Quando a gente não acredita, não vale a pena entrar no projeto.) e que devia ganhar, isso não aconteceu. Ganhou o PSD. Fruto destas condicionantes todas, e fruto destes acordos à esquerda, acabei por ficar, por coincidência de estar em segundo e o número um ter saído. Portanto, como em tudo na vida, é preciso ter um bocadinho de sorte.

Quais são os principais problemas ou entraves à atividade parlamentar?
Na minha opinião, o principal problema do trabalho na Assembleia da República é ser tão longe. Para mim, é muito longe. Embora agora já exista a solução do avião, mas é na mesma longe, implica a separação da família, o que é muito complicado, pois as nossas raízes estão aqui. Mantemos as nossas raízes aqui, mas temos de ir.

Porque é que o Parlamento dos Jovens é uma iniciativa tão boa para o parlamento.?
É uma boa iniciativa porque aproxima os jovens da política, os problemas das populações e fá-los pensar em soluções para determinados tipos de problemas queeles vivem no dia-a-dia. Os jovens têm no dia-a-dia determinadas formas de racismo, discriminação, mesmo que não pensem nelas de forma consciente sentem-nas. De certeza que são diferentes do tempo em que eu andava na escola, as vossas relações são diferentes. As relações de namoro, com maior intimidade, são completamente diferente do tempo em que eu andava na escola. Tenho uma filha no secundário, e sei que as coisas são assim.
O facto de o parlamento dos jovens trazer esta aproximação é fundamental. Porque é fundamental que os jovens comecem a sentir que têm uma voz ativa, na tomada de decisão politica do país. E há decisões que nos afetam a vida inteira. Isso tem a ver com a progressão nas carreiras, as reformas antecipadas, tudo. Às vezes uma pequena resolução, uma pequena alínea tem implicações em diversas famílias, tem uma responsabilidade muito grande e os jovens têm de estar reparados para intervir, para comunicar, para saber comunicar, que eu acho que é uma das lacunas que nós temos nas nossas escolas, não se ensina a comunicar. A sociedade precisa de jovens, que sejam responsáveis e se tornem adultos que saibam trabalhar por um país e para o país ser produtivo.

 

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