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1989 – o ano que mudou o mundo e viu nascer o Outra Presença

por Luísa Diz Lopes

Há vinte e cinco anos o Muro de Berlim ruiu, a cortina de ferro que separava a Europa Ocidental da de Leste caiu, a Guerra Fria terminou. Os regimes comunistas europeus entraram em crise, a Polónia teve as primeiras eleições livres desde 1920, que deram a vitória ao “Solidariedade, e foi seguida pela Hungria e Roménia. A Revolução de Veludo na Checoslováquia explodiu. Na América latina, as ditaduras sofreram um duro golpe, com Strossen, no Paraguai, e Pinochet, no Chile a serem depostos. A libertação de Mandela, após 27 anos de cativeiro, estava iminente com a vitória de Frederik De Klerk, em 1989, ocorrendo, por ordem deste, em 1990.
George H. W. Bush tomou posse como 41º Presidente dos Estados Unidos e os Simpsons entraram nos lares americanos. Em Pequim, a Praça Tiananmen era um palco sangrento de opressão e a imagem de um jovem medindo forças com uma coluna de tanques captou a atenção do mundo inteiro. A televisão mostrou em direto a execução do ditador romeno Ceausescu, num primeiro “reality show” que despertou a tendência voyeurista dos espetadores que tão bem as televisões mais tarde saberiam explorar.
O mundo árabe foi abalado com a publicação de “Versículos Satânicos”, de Salman Rushdie, tendo Khomeiny apelado à sua condenação à morte. Seria, no entanto, ele o primeiro a morrer. O escritor egípcio Nagib Mahfouz, que denunciou, em diversos artigos, o fanatismo religioso, viu a sua cabeça a prémio, com o líder do grupo Jihad a apelar para que fosse assassinado, mas a sua voz contestatária continua a ouvir-se até hoje.
Por esse mundo fora, houve criadores que partiram e criaturas que nasceram. Morreu Salvador Dali, Daphne du Maurier, Fernando Namora, Adolfo Simões Müller, Georges Simenon e Samuel Beckett. Saramago publicou “História o Cerco de Lisboa” e tornou célebre o poder de um simples revisor, Manuel Alegre mostrou os traumas da Guerra colonial em “Jornada de África” e Mário de Carvalho em “Os Alferes”, Gabriel García Márquez, retratou os últimos dias do General Simón Bolívar, na obra “O General no seu labirinto”, Ken Follet transportou-nos até à Inglaterra do século XII, com “Pilares da Terra”, Sepúlveda presenteou-nos com “O Velho que Lia Romances de Amor”, a aventura de António José Bolívar Proaño, leitor de romances de amor, que tem como pano de fundo a América do Sul, Gonzalo Torrente Ballester mostrou a sua veia mordaz em “Crónica do Rei Pasmado”, cuja tradução chegou nesse ano a Portugal, Manoel de Oliveira iniciou as gravações do filme que seria premiado em Cannes no ano seguinte: “Non ou a vã glória de mandar”e Ernesto Rodrigues publicou “A serpente de Bronze”.
Enquanto isso, os portugueses deixavam as suas primeiras impressões digitais nos telemóveis e nasceu o IRS, que não mais deixou de atormentar os portugueses. O físico inglês Tim Berners-Lee criou a World Wide Web.
Nas salas de cinema, rodavam filmes como Batman, de Tim Burton, Nascido a 4 de julho, de Oliver Stone, Crimes e Escapadelas, de e com Woody Allen, Histórias de Nova Iorque, o terceiro episódio de uma trilogia realizada por Scorsese, Coppola e Woody Allen, Clube dos poetas mortos, de Peter Weir, Miss Daisy, de Bruce Beresford, Os fabulosos irmãos Baker, de Steve Kloves, Indiana Jones e a última cruzada , de Steven Spielberg, Recordações da Casa Amarela, de e com João César Monteiro A Guerra das Rosas de e com Danny DeVito. E os brigantinos podiam ver todos estes filmes no Cine-Teatro Torralta.
No ano de todos estes acontecimentos, na então designada Escola Secundária da Sé, nasceu o Outra Presença que não mais deixou de interpelar a comunidade educativa do estabelecimento para nele participarem e para o levarem para casa. Era pequenino e a duas cores, mas cheio de uma ambição que não perdeu até hoje. Por isso, cresceu, rejuvenesceu, expandiu-se, explorou novas potencialidades e afirmou-se de forma contínua como um projeto jornalístico respeitado. Foram 25 anos de vontade que asseguraram a sua continuidade e evolução.
Por este motivo, este número do Outra Presença é uma homenagem a todos quantos escreveram a sua história – professores, alunos e restantes colaboradores – e um pedido para que continuem a contribuir para assegurar a sua continuidade. Todos os projetos têm um rosto, mas só fazem sentido se muitos outros se revirem nele e colaborarem. O Outra Presença é o jornal do Agrupamento Abade de Baçal. É assim que é conhecido. Portanto, o seu sucesso é também o sucesso da escola a que pertence.
Neste ano comemorativo, reformulamos o “site” e na edição escrita quisemos avivar memórias, sintetizar percursos, salientar momentos ocorridos nos últimos 25 anos e relembrar, em particular, aqueles que marcaram este ano letivo. Além das secções habituais, propusemos a reflexão sobre o Jornalismo, a liberdade de expressão e o humor.
Esperamos que gostem.
Longa vida, então, para o Outra Presença.

 

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