Esta é a tua marca e é bela
por Luísa Diz Lopes
São as pessoas que escrevem a sua própria história através dos seus atos, do modo como se relacionam com os outros, da marca que deixam nos espaços que percorrem. Porém, por vezes, o tempo para desenhar essa marca pessoal é cruelmente reduzido. E é preciso que as palavras e as memórias impeçam que esse tempo apague tudo tão depressa quanto deseja. É preciso que elas sejam a reação contra o inexplicável, contra a injustiça que vitima aqueles que já tinham provações suficientes e julgávamos imunes a mais. Pessoas como o Rui Garcia. Generosas, capazes de encontrar alento em cada adversidade, mesmo quando à sua volta tudo parece desabar. Pessoas cuja tranquilidade e postura nos desarma e envergonha a mesquinhez das nossas preocupações. Pessoas que deixam um enorme vazio quando partem. Pessoas como o Rui Garcia.
O Outra Presença deve muito ao Rui Garcia. A marca dele está no impresso, no digital, em cada um de nós que com ele privou e teve o privilégio de conhecer o seu sorriso franco, a sua generosidade, a sua capacidade para perdoar. Por isso o Outra Presença não podia deixar de assinalar o seu desaparecimento absurdo e mostrar-lhe como ele continua presente.
A colaboração do Rui no Outra Presença começou muito antes de ser oficial. Como tudo nele, aliás. Sempre que era necessária uma ajuda para resolver um problema informático, uma pendrive que aparentemente estava destruída, um disco no computador que queimara e milhares de dados perdidos, um computador que não funcionava, uma actividade que exigia um cartaz para a divulgar e tantas outras coisas… a ajuda vinha sempre. Às vezes demorava, às vezes tínhamos de a ir buscar insistentemente, mas vinha e o problema era resolvido, os cartazes eram perfeitos, o sorriso do Rui acalmava a nossa pressa e o mundo continuava a rolar. O Rui nunca tinha pressa, tudo surgia em cima do prazo, mas vinha. E vinha bem, muito bem. Ele sabia que tinha de viver devagar. E era devagar que queríamos que ele tivesse continuado.
Como referi, antes de ele integrar a equipa do Outra Presença, já pertencia a ela, como pertencia a tudo na escola. Foi ele que me abriu portas para o Photoshop, para o Indesign, para as regras básicas do grafismo (quantas vezes olhava a primeira página, se ria e dizia: “manda isso, que eu dou um jeito” e a reviravolta era grande…), para os segredos do Word e do Excel e, mais recentemente, para o Joomla. E isto parece pouco, mas abriu tantos caminhos que ainda hoje percorro. E, depois de integrar a equipa, o legado é maior ainda: o logótipo do OP, os blocos, o OP online, os cartazes, e, sobretudo, a cumplicidade, o companheirismo.
Por isso, cada vez que uma pasta do Outra Presença é aberta, cada vez que um evento é recordado, cada vez que um jornal é folheado, a presença do Rui é tão forte que dói. Mas também encoraja, porque não podia ser de outro modo. Porque em cada objecto dele está o seu sorriso rasgado e franco, a sua paciência e alegria, a sua mão generosa, o seu optimismo. Porque a grandeza dos homens pode demorar a ser reconhecida, mas acaba por impor a sua marca. E o Rui marcou e, por isso, ficou. Obrigada, Rui.