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Junho de 2021

 

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Palavras que marcam

     
Nuno Camarneiro,  "No meu peito não cabem pássaros"
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Ao longo dos anos, muitas barreiras têm sido derrubadas. Porém, outras perpetuam-se ao longo dos séculos. Para melhor se compreender o problema será importante definir o momento em que se ergueram estes limites e as razões da sua existência. É no aparecimento da raça humana que se encontra a génese deste problema.
Assim sendo, à semelhança do que acontece noutras áreas, o homem tornou-se o ser superior, o ideal da raça, dadas as suas características peculiares (a força, o garante da segurança e o respeito).

Em contrapartida, a mulher, durante séculos, tem vindo a traçar o seu caminho, a demolir limites que a enclausuram, constituindo marcos de referência. Assim, a evolução dos tempos tem obrigado a mulher a lutar de modo a impor os seus direitos. Deste modo, ao esbarrar com as normas impostas ao seu género, esta tem procurado e conquistado autonomia e igualdade em relação aos direitos definidos pelos e para os homens.
Com efeito, o ente feminino ultrapassou etapas que determinaram o fim do seu entendimento como mero objeto, que o homem reprimia e/ou dominava, um ícone da casa, um apoio para os filhos e um meio de conforto para o marido. A mulher reivindicou o reconhecimento da sua dignidade, bem como da sua capacidade de conhecimento, de liberdade e de meritório respeito, enquanto ser de igual valor ao dos seus pares. Posto isto, a sua força, a sua destreza, a sua coragem, a sua resistência e tenacidade conduziram-na à vitória.
Durante longos e duros anos, ela lutou numa batalha permanente, na qual acreditava ferozmente, ainda que fosse constantemente questionada pela sua incapacidade para a luta física e mental e considerada como impotente por terceiros. Inicialmente, de forma titubeante, foram dados os primeiros passos para a aceitação do direito feminino ao sufrágio e para o debate da importância dos direitos femininos. A aceitação destes pressupostos permitiu a afirmação da Mulher como tal, conquistando o direito a figurar na história como seres beligerantes, visto que transformaram o curso da história dentro de uma visão dicotómica dos géneros masculino e feminino.
Esta liberdade das mulheres foi e é um elemento central na construção de uma sociedade multicultural, dado que garante, simultaneamente, a igualdade de oportunidades profissionais e económicas entre todos e a valorização de cada um nos espaços culturais, ao pôr em prática os mesmos direitos humanos fundamentais à existência. O facto é que, apesar dos grandes progressos operados em termos globais, continua a verificar-se uma certa primazia do homem em relação à mulher.
Por conseguinte, a conquista da cidadania plena pelas mulheres coaduna-se com a vida moderna, sendo a vertente mais importante a da inovação, acompanhada de perto pela capacidade de trabalho.
Com efeito, muitas mulheres desafiaram as barreiras que lhes foram impostas, tendo-se destacado, entre elas, por exemplo, Hipátia de Alexandria, (370-416), que foi uma das primeiras mulheres a contribuir para o desenvolvimento da matemática, escrevendo sobre geometria, álgebra e astronomia e aprimorando o desenho dos primeiros astrolábios, e que o recente filme “Ágora”, do espanhol Alejandro Amenábar, deu a conhecer ao grande público. Em 416, foi assassinada pelo facto de os seus trabalhos em filosofia e astronomia serem considerados uma heresia por um grupo de cristãos.
Rosa Parks (1913 – 2005), norte-americana, símbolo do movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, ficou famosa, em 1955, por se ter recusado a ceder o seu lugar no autocarro a um branco, tornando-se símbolo da luta contra a segregação dos negros.
Domitila Hormizinda Miranda de Carvalho nasceu em Aveiro, fez os primeiros estudos em Castelo Branco e concluiu o ensino secundário com excelentes resultados nos liceus de Bragança e Leiria. Terminado este, professores e mãe requereram a matrícula ao reitor da Universidade, tendo-se tornado a primeira mulher, depois da reforma universitária de 1772, a ser admitida na Universidade de Coimbra, onde se matriculou em Outubro de 1891. Como condição para a admissão, foi obrigada, por indicação do reitor, a trajar sempre de negro, com chapéu discreto e de um modo sóbrio, de forma que não se evidenciasse entre os colegas masculinos, obrigatoriamente vestidos de capa e batina. Fez os cursos de Matemática, Filosofia e Medicina, sendo até 1896 a única aluna da universidade.
Adelaide Cabete (1867-1935), foi uma das principais feministas portuguesas do século XX. Republicana convicta, presidiu ao Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, durante mais de vinte anos, tendo reivindicado para as mulheres o direito a um mês de descanso antes do parto, e, em 1912, reivindicou também o direito ao voto feminino, sendo em 1933, a primeira e única mulher a votar, em Luanda, onde viveu, a Constituição Portuguesa.
Annette Kellerman, nadadora australiana que usou um fato de natação de uma peça, o que a levou à prisão por indecência.
Carolina Beatriz Angelo, que foi a primeira mulher a votar em Portugal, em 1911.
Maud Wagner, a primeira mulher tatuadora conhecida nos EUA.
Gertrude Ederke, campeã olímpica americana que atravessou a nado o Canal da Mancha.
Rosetta Tharpe, pioneira da música, considerada madrinha do Rock and Roll, tendo desempenhado um papel fundamental no desenvolvimento do conceito de guitarra de solo.
Kathrine Switzer, a primeira mulher a correr a maratona.
E, por fim, mas não menos importante, Asmaa Mahfouz, considerada uma das líderes da revolução egípcia de 2011, que contribuiu para mudanças na História do mundo árabe.
Estas foram algumas das mulheres que permitiram a emancipação feminina, as quais serviram de ícone de instigação para as demais.
No entanto, outros limites foram derrubados pelo homem e pela mulher devido a diversos fatores que os tornaram aliados noutras batalhas. O racismo e mesmo a escravatura são realidades degradantes que comprovam atitudes pouco ortodoxas perpetradas pelos seres humanos.
Atualmente, existem leis que exigem o respeito e reconhecimento dos seres humanos como tal, sendo a existência de todos vista como digna de respeito, independentemente da cor da pele ou mesmo da pujança física.
Em suma, o mundo construiu barreiras recriminadas na atualidade pela generalidade da Humanidade, abominando-as e condenando-as. A vida começou a ter valor quando todos em conjunto nos reunimos e lutamos por aquilo em que acreditamos. Estes passos têm-nos guiado no sentido de garantir a possibilidade de uma existência justa. Resta ainda tornar esta possibilidade numa realidade.

 

 

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